Opinião

Entrevista a Nabil Shaath (*) pela jornalista Maria João Guimarães publicada no Público de 12 de Fevereiro de 2013
O deputado palestiniano Nabil Shaath veio a Lisboa para uma audiência no Parlamento e uma conferência na Universidade Nova de Lisboa. Na AR, considerou os partidos muito “à esquerda” (querendo dizer que sentiu apoio para a Palestina; afinal, Portugal disse que votaria “sim” a um Estado palestiniano observador nas Nações Unidas). Falou da mudança de estratégia em relação a Israel, antecipou acções criativas, e sublinhou a importância de estar na ONU.
Os palestinianos vão mesmo recorrer ao Tribunal Penal Internacional por causa dos colonatos?
O Tribunal Penal Internacional é a única organização internacional que não precisa do Conselho de Segurança [em que os EUA vetam resoluções vistas como prejudiciais a Israel]. E é por isso que israelitas, e americanos, estão a usar todas as suas ameaças para nos impedir — não podem usar nada legal, porque podemos recorrer directamente ao...

Este artigo foi publicado no jornal Público em 16 de Janeiro de 2011
1.Quando se fala da perseguição aos cristãos no Médio Oriente, não se tem em conta a situação especial na Palestina. O Conselho Ecuménico das Igrejas publicou, agora, um documento elaborado pelos cristãos e teólogos palestinos que, perante o drama do seu povo, perguntam: o que faz a comunidade internacional? Que fazem os chefes políticos na Palestina, em Israel e no mundo árabe? Que faz a Igreja? 1.
Nos limites deste espaço, o melhor é dar-lhes a palavra, porque o documento é, também, um convite às Igrejas: "vinde e vede", conhecer os factos e descobrir as gentes desta terra, palestinos e israelenses. Condenamos todas as formas de racismo, religioso ou étnico, incluindo o anti-semitismo e a islamofobia. Vamos aos factos.
O muro da separação, construído em terrenos palestinos, confisca uma parte do nosso território, transforma as cidades e as vilas em prisões, faz cantões separados e dispersos. Gaza, depois da guerra...

Júlio de Magalhães é Vice-Presidente do MPPM e investigador de assuntos árabes A explosão de um carro armadilhado ou de um bombista-suicida na igreja copta de Al-Qiddissine (Os Santos), no distrito de Sidi Bisher, em Alexandria, quando os fiéis saíam, na madrugada de 1 de Janeiro de 2011, da missa de celebração do Ano Novo, provocou pelo menos 21 mortos e cerca de uma centena de feridos. Na confusão subsequente, muitos cristãos confrontaram a polícia (alguns polícias são cristãos) bem como grupos de muçulmanos da vizinhança, e atacaram a mesquita nova de Sidi Bisher situada em frente da igreja.O presidente egípcio Hosni Mubarak condenou de imediato o ataque (que atribuiu a "mãos estrangeiras") e pediu (o que começa a tornar-se improvável, senão impossível) a união de todos os egípcios (cristãos e muçulmanos) na luta contra o terrorismo, dado o aumento da tensão verificada entre as duas comunidades nos últimos anos, especialmente depois da invasão anglo-americana do Iraque, do...

Ismaïl Shammut (1930-2006) foi o mais importante pintor palestino contemporâneo e um dos mais notáveis pintores árabes do século passado.A sua pintura, especialmente figurativa, reflecte os diversos aspectos da moderna história palestina, desde a Naqba (ele mesmo foi expulso da sua terra natal) até à luta dos palestinos pelo seu país. As suas telas, ou outros suportes, evidenciam a determinação política de um povo arrancado às suas raízes ou exilado na própria pátria mas sempre perseverando no combate pelos seus mais legítimos direitos. De alguma forma, os temas tratados por Shammut constituem um espelho da sua própria vida.Usando um estilo específico, Shammut utiliza símbolos facilmente reconhecíveis das tradições e da cultura palestina, aspectos visíveis nos pormenores das suas composições, sejam os trajes característicos das mulheres palestinas ou as paisagens das aldeias e dos campos do seu país natal. A sua obra não só documenta a experiência dos palestinos antes e depois da Naqba...

Nascido em Jerusalém (que então se encontrava sob mandato britânico) em 1 de Novembro de 1935, Edward Saïd, filho de palestinianos cristãos protestantes, morreu em Nova Iorque a 25 de Setembro de 2003, vítima de leucemia, após uma carreira notável de professor nas mais prestigiadas universidades norte-americanas, de ensaísta brilhante e de activista político em defesa da Causa Palestiniana.Devido à actividade comercial do pai, viveu os primeiros anos da sua vida entre o Cairo e Jerusalém, tendo a família emigrado para o Egipto com a independência do Estado de Israel em 1948. No Egipto frequentou várias escolas, nomeadamente o Victoria College (El-Nasr) de Alexandria, o estabelecimento privilegiado do ensino de inglês naquela cidade, onde teve colegas de vários países do mundo árabe, muitos dos quais se viriam a distinguir mais tarde na política, nas letras e nas artes, como o rei Hussein da Jordânia ou actor Omar Sharif. Por ser um estudante turbulento, foi expulso daquela escola e os...

Iniciado no passado dia 4, o VI Congresso do Fatah (acrónimo reverso de Harakat al-Tahrîr al-Watanî al-Filastînî – Movimento de Libertação Nacional da Palestina), em Bethlehem (Belém), com a presença de cerca de 2.300 delegados, reelegeu como presidente do Movimento, no dia 7, o histórico Mahmud Abbas (Abu Mazen), companheiro e sucessor de Yasser Arafat à frente do partido.A palavra “fatah” ou “fath” significa em árabe “abertura”, “início”, “conquista” ou “vitória”, e foi adoptada, dado que o acrónimo não reverso “hataf” significa em árabe “morte”. O acrónimo reveste-se também de fortes conotações islâmicas, já que a primeira sura, ou capítulo do Corão, a sua abertura ou prólogo, é designada Al-Fâtiha. O Fatah foi criado em 1954 por Yasser Arafat (Abu Ammar) e por Khalil al-Wazir (Abu Jihad), este assassinado em Tunis, em 1986, por comandos israelitas, aquele falecido em Paris, em 2004, segundo se crê na sequência de envenenamento por parte dos serviços secretos israelitas.Este...

O primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu proferiu no dia 15, na Universidade Bar-Ilan, em Telavive, um discurso aguardado com grande expectativa, na medida em que era considerado como a resposta ao discurso de Barack Obama, no passado dia 4, na Universidade do Cairo.Numa alocução bem construída, Netanyahu, que começou por invocar os profetas de Israel, trouxe como única novidade ter-se referido, pela primeira vez, à constituição de um Estado Palestino, mas mediante condições que o próprio de antemão sabia serem insusceptíveis de aceitação por parte dos interessados.Considera Netanyahu a possibilidade da criação de um Estado Palestino mas desmilitarizado: sem exército, sem o controlo do seu espaço aéreo, sujeito a medidas efectivas de segurança para impedir contrabando de armas e impossibilitado de estabelecer alianças militares.Considera também que não há intenção de construir novos colonatos mas admite a extensão dos existentes a pretexto de razões de crescimento familiar. E...

Em 5 de Junho de 1967, numa jogada de antecipação contra uma possível invasão árabe, Israel lançou uma fulminante ofensiva contra os estados vizinhos, o Egipto, a Síria e a Jordânia, apoderando-se não só dos territórios palestinos que eram administrados pelo Egipto (a Faixa de Gaza) e pela Jordânia (a Cisjordânia e Jerusalém Oriental), como de territórios próprios do Egipto (a Península do Sinai) e da Síria (os Montes Golan).As tropas árabes, não só egípcias, jordanas e sírias, mas também marroquinas, argelinas, tunisinas, líbias, sudanesas, iraquianas e sauditas, pela falta de treino e de armamento e pelo efeito de surpresa do ataque israelita, foram rapidamente derrotadas e assinado um cessar-fogo no dia 10 de Junho.Os antecedentes desta guerra envolvem inúmeros episódios e equívocos, mas o facto decisivo terá sido a retirada da Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-I) que estava estacionada no Sinai desde 1957. Na sequência da nacionalização do Canal de Suez, por Nasser, em...

Randa Nabulsi é Delegada Geral da Palestina em Portugal 61 anos de ocupação israelita - 61 anos de apartheid, limpeza étnica - 61 anos de resistência palestinianaA 29 de Novembro de 1947 as Nações Unidas aprovaram a Resolução 181 que recomendava a Partilha da Palestina histórica em um Estado israelita para menos de 20% de habitantes representados por colonos provenientes na sua maioria da Europa sobre 51% do território e um Estado palestino nos outros 49% para um milhão de Palestinianos. Esta divisão, apesar de demograficamente desigual, nunca chegou a efectuar-se.Entre a decisão de partilha e o dia 15 de Maio de 1948, dia oficial do fim do mandato britânico e a declaração do Estado de Israel, houve uma verdadeira guerra de limpeza étnica que foi relatada historicamente por inúmeros escritores e pensadores. Talvez tenha sido Ilan Pappe, o historiador israelita quem mais relatou e transmitiu as realidades desta guerra através do seu livro denominado "A LIMPEZA ÉTNICA DA PALESTINA" e...

Na sua primeira viagem ao Médio Oriente, o Papa pediu hoje, em Belém, terra do nascimento de Jesus, segundo as Escrituras, o fim do bloqueio israelita a Gaza e a criação de um Estado Palestino independente e soberano. Há muito que se esperava do Chefe da Igreja Católica uma palavra inequívoca, ainda que em linguagem diplomática, sobre o problema palestino. Palavra tão mais necessária - e oportuna - quando o novo governo israelita, saído de uma improvável coligação do Likud, do Partido Trabalhista e da extrema-direita, preconiza o abandono da ideia da criação do Estado Palestino, considerando que os palestinos já têm um Estado que é a Jordânia. Política esta, de resto, em consonância com o progressivo alargamento das fronteiras do Estado Judaico com vista à construção do Grande Israel.Não tem sido Bento XVI muito feliz em algumas das suas intervenções, quer quanto à forma, à substância e à oportunidade dos temas que aborda, embora não se possam esperar dele declarações contrárias à...