«Ismaïl Shammut o pintor da Palestina», por Júlio de Magalhães

Ismaïl Shammut (1930-2006) foi o mais importante pintor palestino contemporâneo e um dos mais notáveis pintores árabes do século passado.
A sua pintura, especialmente figurativa, reflecte os diversos aspectos da moderna história palestina, desde a Naqba (ele mesmo foi expulso da sua terra natal) até à luta dos palestinos pelo seu país. As suas telas, ou outros suportes, evidenciam a determinação política de um povo arrancado às suas raízes ou exilado na própria pátria mas sempre perseverando no combate pelos seus mais legítimos direitos. De alguma forma, os temas tratados por Shammut constituem um espelho da sua própria vida.
Usando um estilo específico, Shammut utiliza símbolos facilmente reconhecíveis das tradições e da cultura palestina, aspectos visíveis nos pormenores das suas composições, sejam os trajes característicos das mulheres palestinas ou as paisagens das aldeias e dos campos do seu país natal. A sua obra não só documenta a experiência dos palestinos antes e depois da Naqba como é também uma exaltação do sentimento e do orgulho nacional de um povo, diariamente perseguido e sujeito às maiores privações socioeconómicas numa Palestina ocupada.
Ismaïl Abdul-Qader Shammut nasceu em Lydda, na Palestina, em 1930, mas a proclamação unilateral da independência do Estado de Israel, em 1948, forçou-o a ir viver num campo de refugiados em Khan Yunis, na Faixa de Gaza.
Em 1950, ingressou na Escola de Belas Artes do Cairo, tendo realizado a sua primeira exposição de pintura em Gaza, em 29 de Julho de 1953. No ano seguinte, participou na Exposição da Palestina, no Cairo, em conjunto com a pintora palestina Tamam Aref al-Akhal, que viria a ser a sua esposa. Esta Exposição, apoiada pelo governo egípcio, foi inaugurada pelo próprio presidente Nasser, em 21 de Julho de 1954.
Ainda em 1954, Shammut viajou para Itália, a fim de frequentar a Academia de Belas Artes de Roma, instalando-se depois em Beirute, em 1956, onde passou a viver e a desenvolver a sua actividade artística e cultural.
Em 1959, casou com a sua colega Tamam al-Akhal e em 1965 aderiu à Organização de Libertação da Palestina (OLP), ocupando o lugar de director das Artes e da Cultura Nacional. Em 1969 foi eleito primeiro secretário-geral da União dos Artistas Palestinos e em 1971 primeiro secretário-geral da União dos Artistas Árabes.
Em 1983, na sequência da agressão israelita contra a OLP, no Líbano, mudou-se com a família para o Kuwait e em 1992, a seguir à Guerra do Golfo, foi para Colónia, na Alemanha. Voltou ao Médio Oriente em 1994, para se instalar definitivamente em Amman, na Jordânia. Em 1997, deslocou-se a Lydda, sua cidade natal, hoje Lod, em território israelita, para ver a sua casa agora ocupada por uma família judaica.
Ismaïl Shammut morreu em Amman, em Julho de 2006, com 76 anos.
Ao longo da sua vida expôs, além dos locais já citados, na Palestina (Nablus, Ramallah e Jerusalém), em Amman (em cujo museu se encontra a sua colecção particular), Beirute, Tripoli, Damasco, Tunis, Argel, Rabat, Kuwait, EUA (New York, Washington, Pittsburgh, Filadélfia, Detroit, Chicago, Houston, Los Angeles, San Francisco, etc.), Paris, Londres, Roma, Viena, Tóquio, Pequim, Sofia, Belgrado e em várias cidades da Alemanha.
Durante a sua carreira artística, Shammut nunca vacilou na sua dedicação à causa palestina, quer através da pintura, quer da investigação histórica, quer mesmo da acção política. Editou várias publicações, em árabe e inglês, entre as quais Art in Palestine (1989). De 1997 a 2000, em conjunto com a mulher, realizou uma colecção de 19 murais subordinados ao título "Palestina: o Êxodo e a Odisseia".
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