Médio Oriente

Kahlida Jarrar escreveu, na prisão de Damon onde se encontra detida desde Outubro de 2019, esta carta que foi lida no Festival de Literatura Palestine Writes pelas suas filhas Suah e Yafa. Na carta, Khalida Jarrar fala de cultura, de literatura e de educação, da vida na prisão e de como a leitura fortalece a resistência, e agradece aos «escritores, académicos, intelectuais e artistas árabes que rejeitam a normalização com o sistema colonizador de Israel». Devido à pandemia, o festival, que deveria ter tido lugar em Nova Iorque entre 27 e 29 de Março de 2020, acabou por se realizar em conferências virtuais entre 2 e 6 de Dezembro passado.

O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) e o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM) realizaram nesta quinta-feira, 19 de Novembro de 2020, na Casa do Alentejo, em Lisboa, uma sessão pública dedicada ao tema «Médio Oriente: Defesa da Justiça e da Paz».

Registaram-se intervenções de Ilda Figueiredo, Presidente da Direcção Nacional do CPPC, Carlos Almeida, Vice-Presidente da Direcção Nacional do MPPM, José Goulão, jornalista e membro da Presidência do CPPC, e Nabil Abuznaid, Embaixador da Palestina em Portugal.

A situação na Palestina é indissociável da de todo o Médio Oriente, e isso reflectiu-se nas diferentes intervenções.

Houve um foco nas interferências e agressões externas, com especial destaque para os Estados Unidos e seus aliados europeus, recordando-se a sua responsabilidade nas guerras no Iraque, na Líbia, na Síria e no Líbano, ou ainda na agressão da Arábia Saudita ao Iémen.

O jornalista e escritor Robert Fisk faleceu no passado dia 30 de Outubro, em Dublin, na Irlanda.

O The Independent, o jornal para que escreveu nos últimos 31 anos, resume assim o seu obituário: «Robert Fisk foi o correspondente multi-premiado do The Independent para o Médio Oriente. Viveu no mundo árabe durante mais de 40 anos, abrangendo a guerra na Síria e no Líbano, cinco invasões israelitas, a guerra Irão-Iraque, a invasão soviética do Afeganistão, a guerra civil argelina, a invasão do Kuwait por Saddam Hussein, as guerras da Bósnia e do Kosovo, a invasão e ocupação americana do Iraque e as revoluções árabes de 2011. Faleceu em Outubro de 2020 com 74 anos de idade.»

A sua busca incessante de fontes de informação e o rigor da sua análise fizeram com que fosse generalizadamente reconhecido como um dos mais conceituados correspondentes no Médio Oriente.

O povo palestino vive um dos momentos mais dramáticos da sua já tão martirizada História. Mais uma vez, potências estrangeiras e grandes interesses económicos e geo-estratégicos estão a ditar e procurar perpetuar, à revelia do povo palestino e das suas forças políticas representativas, a ocupação estrangeira da terra palestina e a negação dos direitos inalienáveis do seu povo. Neste contexto, o MPPM solidariza-se com a luta do povo palestino, saúda as suas iniciativas de reconciliação nacional e alerta para os perigos de eclosão de uma nova e maior guerra no Médio Oriente.

Acordos de paz ou ventos de guerra?

As chancelarias ocidentais acolheram com aprovação, de moderada a entusiástica, a recente celebração, sob a égide dos Estados Unidos, de «acordos de paz» entre Israel e os Emirados Árabes Unidos e o Barém considerando que representavam um progresso para a paz na região.

A Liderança Nacional Palestina Unificada para a Resistência Popular, recentemente constituída com o objectivo de liderar a resistência nos territórios ocupados contra a ocupação israelita e a normalização das relações entre os Estados árabes e Israel, lançou ontem o seu primeiro programa de acção.

A Liderança Unificada foi formada na sequência das decisões da histórica reunião dos líderes dos partidos e facções palestinos realizada em Ramallah e Beirute a 3 e 4 de Setembro com o objectivo de lançar «uma luta popular abrangente que não terminará enquanto não for alcançada a independência nacional do Estado da Palestina com Jerusalém como sua capital».

A cimeira palestina foi conduzida por vídeo-conferência pelo Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e contou com a participação de representantes de 16 partidos e facções, entre os quais o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e o Secretário-Geral da Jihad Islâmica, Ziyad al-Nakhalah.

Os líderes palestinos ganharam uma reiterada declaração de apoio à criação de um Estado palestino, mas não conseguiram persuadir a Liga Árabe a condenar o acordo de normalização entre Israel e os Emirados Árabes Unidos (EAU), anunciado em 13 de Agosto passado e que deve ser formalizado numa cerimónia de assinatura na Casa Branca na próxima semana.

Os ministros dos negócios estrangeiros da Liga Árabe, reunidos por videoconferência na passada quarta-feira, rejeitaram uma proposta palestina para condenar a normalização em curso entre os EAU e Israel. A delegação palestina já sabia que um projecto que condenasse claramente o acordo entre Israel e os Emirados Árabes Unidos seria rejeitado. Por isso, optou por uma posição indirecta que condenava qualquer membro da Liga Árabe que violasse a Iniciativa de Paz Árabe de 2002, mas mesmo assim sem sucesso.

Israel e os Emirados Árabes Unidos concordaram, na passada quinta-feira, em normalizar as suas relações num acordo mediado pelo Presidente dos EUA. O acordo surgiu após uma conferência telefónica entre o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o Primeiro Ministro israelita, Benjamin Netanyahu e o Xeque Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro de Abu Dhabi.

Os Emirados Árabes Unidos tornaram-se o primeiro país do Golfo Arábico a alcançar um acordo sobre a normalização das relações com Israel, culminando anos de contactos discretos entre os dois países no comércio e na tecnologia.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas rejeitou de forma retumbante uma proposta dos Estados Unidos para alargar um embargo global de armas ao Irão.
Na votação de sexta-feira do Conselho de Segurança, Washington apenas obteve o apoio da República Dominicana para a sua resolução de prolongar indefinidamente o embargo, deixando-o muito aquém do mínimo de nove votos a favor necessários para a sua adopção.

Onze dos quinze membros do Conselho de Segurança, incluindo a França, a Alemanha e o Reino Unido, abstiveram-se.

A Rússia e a China opuseram-se firmemente à prorrogação do embargo de 13 anos, que deveria expirar a 18 de Outubro, ao abrigo do acordo nuclear assinado entre o Irão e seis potências mundiais, em 2015.

Zhang Jun, embaixador da China na ONU, disse numa declaração que o resultado «mais uma vez mostra que o unilateralismo não recebe apoio e que a intimidação falhará».

Ministros dos Negócios Estrangeiros de vários países árabes advertiram ontem, durante uma reunião virtual organizada pela Jordânia, que a anexação por Israel do Vale do Jordão e dos colonatos ilegais na Cisjordânia ocupada iria incendiar o conflito e alimentar o extremismo, segundo noticia a agência Wafa.

«Rejeitamos a anexação de qualquer parte dos territórios palestinos ocupados, e alertamos para o perigo da anexação, que constitui uma violação do direito internacional e mina a solução de dois Estados, os fundamentos do processo de paz, bem como os esforços no sentido de uma paz justa e abrangente», lê-se na declaração conjunta.

Em 24 de Maio de 2000, as forças armadas de Israel retiraram do Líbano, pondo termo, sem honra nem proveito, a uma invasão que se prolongou por 18 anos, iniciada em 6 de Junho de 1982 com o que os israelitas designaram por Operação Paz para a Galileia.

O poderoso Estado sionista foi forçado a retirar, sem negociações nem condições, pela resistência tenaz do povo libanês desde a primeira hora.

O objectivo alegado para a operação israelita era proteger as populações do Norte da Galileia dos ataques dos palestinos instalados no Líbano.

Ariel Sharon, ministro da Defesa de Israel, queria ter o aval norte-americano para invadir o Líbano, mas o Secretário de Estado, Alexander Haig, só lho daria se «houvesse uma provocação clara reconhecida internacionalmente». E, como por coincidência, Abu Nidal, um adversário declarado de Yasser Arafat, orquestrou o assassinato do embaixador israelita em Londres.

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