O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 6. De Málaga a Marselha
O Handala, que integra a frota da Coligação da Flotilha da Liberdade, está em La Valetta, Malta, a preparar a última etapa da sua viagem até Gaza. Desde que saiu de Lisboa, em 7 de Julho, o Handala já aportou a Vélez-Málaga e Dénia, em Espanha, a Martigues e Ajaccio, em França, e a Messina, em Itália, até chegar a Malta. Neste artigo acompanhamos a viagem do Handala entre Vélez-Málaga e Martigues.
Vélez-Málaga, Espanha – 9 a 12 de Julho
A travessia de Lisboa para o Mediterrâneo, através do estreito de Gibraltar, foi muito tranquila e no porto de Torre del Mar, centenas de pessoas juntaram-se para acolher o Handala que chegou acompanhado por um barco de pesca local que o esperou na aproximação a Vélez.
Na manhã de quarta-feira, dia 10, teve lugar uma cerimónia institucional de boas-vindas à Flotilha por parte da Plataforma Cidadã Axarquia com a Palestina, no Grémio dos Pescadores de La Caleta.
Seguiu-se uma visita a Periana, onde a Flotilha foi recebida na autarquia e visitou a cooperativa local e olivais milenares.
À noite houve uma manifestação a favor da Palestina em Torre del Mar com desfile no passeio Marítimo entre o Farol e o Passeio de Larios a que se seguiu um concerto com a guitarra de Arturo Ruiz e as vozes de Miguel López Castro, Jesús Aranda, Bea e Estación Cero.
O programa de quinta-feira, dia 11, iniciou-se com uma audiência à Flotilha pelo presidente da Comunidade Municipal da Axarquia, seguindo-se uma deslocação a El Borge, com visita ao Museo del Bandolero, e a Almáchar, com visita à cooperativa e dança na praça.
Ao fim da tarde houve uma visita ao Handala e à noite, em Véles Málaga houve uma visita dramatizada pelo património andaluz.
A bordo do Handala viajam activistas, pessoal médico, políticos e artistas de diferentes países, que vão mudando em cada porto, de modo a ter uma representação alargada. Em Vélez, Juan Lisbona, empresário e cooperante pertencente à Plataforma Axarquia para a Palestina, e Ibrahim Abiat, refugiado e deportado palestino, embarcaram no navio para a viagem até Dénia, o próximo e último porto da Península Ibérica.
Em 2002, Ibrahim e 122 outras pessoas foram sitiadas e atacadas pelo exército israelita na Basílica da Natividade, em Belém, durante 39 dias, tendo oito dessas pessoas sido mortas e 25 feridas. Após intensas negociações com a União Europeia, 13 das pessoas sitiadas foram deportadas directamente para diferentes países da União Europeia. Como resultado destas negociações, Ibrahim e dois dos seus companheiros chegaram a Espanha.
O Handala despediu-se de Vélez Málaga na sexta-feira, dia 12.
Dénia, Espanha – 14 a 17 de Julho
O Handala, chegou no domingo, 14 de Julho, ao porto de Dénia (Alicante), atracando em frente ao Museu Marítimo. À sua chegada ao cais, foi recebido pelo grupo de apoio local (Moviment per la Pau de la Marina Alta), pelo presidente da câmara de Denia e outros políticos locais, bem como por activistas, com música, dança e palavras de solidariedade e apoio. Havia uma banda tradicional valenciana de gaitas e tambores (Colla de dolçaines i tabalets), Batucada Monbloc de Dénia e dança Dabke por Salma e o seu grupo, de València.
Na segunda-feira, dia 15, os presidentes de câmara de várias cidades da região que aprovaram a Declaração Institucional de apoio à Palestina e de denúncia do genocídio, juntamente com outros representantes políticos, visitaram o navio, após o que houve uma conferência de imprensa.
Mais tarde, nesse mesmo dia, a tripulação do Handala foi convidada a participar num evento cultural “Una vesprada amb Gaza” (Uma noite com Gaza) na Casa da Cultura de Denia, onde houve leituras de poesia, música, uma palestra sobre o BDS e uma apresentação e projecção audiovisual “Germans de Mar” (composta por três blocos de imagens com som) pelo seu autor, o fotógrafo Xavier Mollà.
Na segunda parte da noite, foi projectado o documentário “Fire on the Mavi Marmara”, de David Segarra e Vicent Xanzá, ambos presentes e que debateram com o público o seu documentário e a sua experiência como participantes em duas flotilhas anteriores.
Depois dos oradores, houve uma actuação musical árabe-mediterrânica de Salma ElHakim e Sara Dowling, que incorporou o poema “If I Must Die”, o último poema de Refaat Alareer, um escritor, poeta, professor e activista palestino.
Aos dois cantores juntou-se depois Rana Hamida, um membro da tripulação palestina, que cantou uma canção seguida de uma interpretação de Haddi Ya Bahr Haddi (Keep Calm Oh Ocean) de Abu Arab.
Na manhã de terça-feira, houve um encontro de crianças no Museu do Mar de Dénia. Dois membros do grupo musical Zoo dirigiram um workshop para crianças, no cais junto ao barco. O workshop incluiu a leitura do livro infantil “I, malgrat tot, Palestina” (E apesar de tudo, Palestina), que conta a história de uma criança muçulmana e de uma criança judia e da sua amizade no contexto da ocupação.
De seguida, o Zoo animou as crianças com várias canções e depois as crianças passaram algum tempo a fazer cartões. Os cartões e os trabalhos artísticos foram entregues à tripulação e aos participantes do Handala para que os levassem na sua viagem e os oferecessem às crianças de Gaza.
Ao início da noite, houve uma manifestação no cais em frente ao Museu de la Mer de Denia, onde foi lida uma declaração a favor da tripulação do Handala. Seguiu-se um discurso da organização Rumbo a Gaza, que exprimiu a sua solidariedade para com a Palestina e a Coligação da Flotilha da Liberdade.
A partida de Dénia foi marcada por um coro vocal acompanhado por um violino.
Martigues, França – 20 a 24 de Julho
Na chegada a Martigues (Marselha) o Handala foi acolhido por um grande número de pessoas que entoaram cânticos e canções de protesto e presentearam a equipa do Handala com uma bandeira francesa assinada com mensagens de esperança para o povo de Gaza.
A tripulação do Handala e os participantes foram recebidos com um discurso de Thierry Louchon, do grupo organizador local Solidarité Palestine de Martigues. Dois jovens de Gaza, Ahmed, um organizador de Sawt Palestine e Bilal, também de Gaza, falaram ao público.. Membros da equipa de Handala também falaram.
Membros da equipa do Handala, incluindo Angeles Cabria, Aoife Ni Mhurchu, Rana Hamida e Caoimhe Butterly encontraram-se com um grupo local de Trabalhadores da Saúde para a Palestina.
Na primeira noite em Martigues, assistiu-se à projecção do pequeno documentário “Six Miles Out - Um dia na vida dos pescadores de Gaza”, produzido pela equipa We Are Not Numbers em Gaza, com fundos do projecto Solidariedade com os Pescadores de Gaza da Coligação da Flotilha da Liberdade. Também foi exibida uma série de vídeos de Sarah Katz, uma activista judia que é membro da União Judaica Francesa para a Paz que esteve em Gaza, entre Setembro de 2012 e Abril de 2014, a trabalhar como professora voluntária.
No domingo, a equipa dirigiu-se à cidade para participar na manifestação semanal de Marselha. Sebastien Delogu, deputado da Assembleia Nacional Francesa, esteve presente e falou com a equipa e os participantes sobre como maximizar o impacto e o que pode ser feito para aumentar a pressão sobre os governos para que apliquem sanções e um embargo de armas a Israel.
Os membros da equipa de Handala Omrane Hassan e Caoimhe Butterly foram convidados a falar no início da manifestação. No comício, juntou-se o membro honorário da equipa palestina, Khaled, e a política irlandesa Grace O'Sullivan, antiga deputada do Parlamento Europeu, que se juntou à equipa do Handala para a etapa de Martigues a Ajaccio.
A manifestação terminou no exterior da prefeitura, onde foram proferidos discursos por vários organizadores locais, bem como por membros da equipa Handala.
Depois da manifestação, a equipa dirigiu-se a um evento de angariação de fundos “Concerto no Parque”, organizado por um dos antigos participantes no Handala, Klimont.
Na segunda-feira, o público visitou o Handala durante todo o dia, e membros da equipa foram entrevistados para três artigos de jornal, um programa de rádio e duas entrevistas na televisão.
Na segunda-feira à noite, o Café Associatif de Martigues acolheu a projecção do filme “A Torre/Wardi”, realizado por Mats Grorund, participante do Handala. O filme de animação é sobre uma jovem chamada Wardi, que vive num campo de refugiados palestinos e aprende sobre a história da sua família através de histórias contadas por três gerações anteriores de refugiados.
Na terça-feira à noite, a equipa do Handala foi convidada a assistir a mais uma sessão de cinema, “Au Cinema Le Melies - Voyage à Gaza” (Viagem a Gaza), de Piero Usberti, que acompanha e documenta a vida da população de Gaza sob o cerco e o bloqueio ilegais de Israel.
Na quarta-feira o Handala deixou Martigues rumo a Gaza, com escalas previstas na Córsega, na Sicília e em Malta.
Ver também:
O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 1. Da Noruega aos Países Baixos
O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 2. Inglaterra e Irlanda
O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 3. Em França
O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 4. Em Espanha, a caminho de Portugal
O Handala está a navegar para as Crianças de Gaza - 5. Cinco dias em Lisboa
Sobre a Flotilha da Liberdade:
The Freedom Flotilla Coalition: We sail until Palestine is free
Handala é uma personagem criada pelo cartoonista palestino Naji al-Ali em 1969 - dois anos após a guerra israelo-árabe de 1967 - e é, até hoje, um símbolo da luta e da resistência palestinas à ocupação. Handala tem sempre 10 anos - a idade que Ali tinha quando a sua família foi obrigada a mudar-se durante a Nakba, a expulsão maciça dos palestinos em 1948. O menino refugiado de Ali , sempre representado de costas voltadas, vai buscar o seu nome a uma planta resistente e amarga que cresce no Médio Oriente chamada handal. Tem raízes profundas e volta sempre a crescer, mesmo que seja desenraizada.
A Coligação da Flotilha da Liberdade é composta por organizações e iniciativas da sociedade civil de muitos países. Tem vindo a desafiar o bloqueio israelita ilegal e desumano de Gaza desde 2011 e está empenhada em continuar a luta até que o bloqueio seja incondicionalmente levantado e que o povo palestino em todo o mundo alcance os seus plenos direitos, incluindo o direito à liberdade de circulação.
A campanha em que está envolvido o Handala tem por lema "Pelas Crianças de Gaza" porque, uma vez que quase metade dos habitantes de Gaza são crianças, é importante salientar ao mundo que o bloqueio de Gaza as afecta mais. Há décadas que às crianças palestinas que vivem em Gaza, na Cisjordânia e na diáspora, são negados direitos humanos básicos. Essas violações de direitos, desde a liberdade de circulação ao direito de regresso, foram exacerbadas para os palestinos em Gaza desde 2006 devido à ocupação e ao bloqueio ilegais de Israel.