Rita Andrade inaugura exposição de pintura sobre a Palestina

Inaugurou ontem, 8 de Agosto, na Galeria da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, a exposição Identity & Land, em que a pintora e activista Rita Andrade mostra algumas das obras que produziu em resultado da sua experiência com uma viagem à Palestina em 2019.

Exprimindo-se através da pintura, que considera «uma forma pacífica de comunicação», Rita Andrade deixa evidente a sua defesa dos direitos dos palestinos e o seu protesto contra a ocupação ilegal de Israel na Palestina.

Num vídeo disponibilizado no seu sítio na internet, preparado para a apresentação, em 2021, da sua exposição I Can’t Breathe Since 1948, Rita conta-nos como foi inspirada por Roger Waters a aprofundar o seu conhecimento da questão palestina, como isso a levou a viajar até à Palestina para viver, no terreno, os efeitos da ocupação, e a forma como isso influenciou a sua produção artística.

«A Arte é uma forma não violenta de me expressar, de espalhar uma mensagem, e de fazer uma intervenção. Eu acredito que a arte pode ter uma importante função na transformação social, e eu espero conseguir fazer isso mesmo», confessa Rita Andrade.

A exposição ontem inaugurada ficará patente até 26 de Agosto, de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 17h00, e ao sábado entre 10h00 e as 15h00.

O curador da exposição, Carlos Vidal, escreveu o seguinte texto de contextualização:

NIGHTFALL IN GAZA

Diz Paul Veyne que a História é um romance, pode ser “criativa” nas suas versões, mas é um romance realista, avisa. Por exemplo, no caso do conflito, ou guerra de ocupação israelo-árabe, que os sionistas chamam, ou chamaram (nos anos 40), “guerra da independência”, a posição equidistante é a pior e a mais desumana. De facto, desde 1948, ano da declaração de independência de Israel (uma “declaração”, note-se, sem nenhuma relação com qualquer tipo de luta emancipatória), houve e há na Palestina uma ocupação ilegal (Israel e a brutalidade destrutiva que geraria os “colonatos”, sistematicamente condenados pela ONU), uma ocupação baseada numa mentira que diz ter sido edificado um estado que é uma terra sem povo para um povo sem terra. Uma terra sem povo?

Começa aqui o projectado genocídio e o apartheid: com efeito, os árabes israelitas são o que Agamben poderia chamar de “vidas nuas”, pois Israel não é um estado multinacional quando se afirma a pátria judaica. Nestes termos, defender os direitos palestinianos sinaliza dois factos: mostra que denunciar Israel deve servir para distinguir o anti-sionismo (e foi o sionismo que destruiu o Hotel King David em 1946) do anti-semitismo (uma abjecta forma de racismo); por outro lado, defender os palestinianos é defender um povo que habita uma terra há milénios e a perdeu (a Nakba): a terra, as vias de comunicação, as cidades (há novas cidades nos colonatos, mas essas são inacessíveis) e a oliveira que a mulher de lenço branco abraça, numa das telas da exposição, porque sabe que perdeu a sua fonte de subsistência. Rita Andrade, com mestrado pela Goldsmiths em Art and Politics, conheceu esta realidade, viveu-a e sabe o que é o apartheid da Palestina que resiste desde 1948.

Repare-se que dizer “estado judaico” (e não “estado dos cidadãos”, como na Europa desde o Iluminismo) configura um enunciado antidemocrático. Por isso, Edward Said sempre advogou para a Palestina um só estado binacional, algo como a África do Sul multicultural de hoje. Sem colonatos nem bantustões. Um mundo distante, contudo.

Carlos Vidal

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