Israel ignora as exigências fundamentais da UE em matéria de direitos humanos

Após a reunião do Conselho de Associação UE-Israel de 24 de Fevereiro, as violações do direito internacional por parte de Israel continuam, expondo uma violação dos próprios valores da UE e das suas obrigações ao abrigo do direito internacional.

Poucos dias depois de a UE ter realizado a reunião do Conselho de Associação UE-Israel em Bruxelas, em 24 de Fevereiro, o governo israelita demonstrou o seu total desrespeito pelos pedidos fundamentais da UE em matéria de direitos humanos e de direitos humanitários feitos a Israel nesse dia. As conclusões da UE solicitavam que «Israel aderisse estritamente às regras e aos princípios do DIH e do DIDH», mas, apenas uma semana depois, Israel impôs um bloqueio total à entrada de ajuda humanitária em Gaza, utilizando a fome dos civis como arma, o que é considerado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) como um crime de guerra e um crime contra a humanidade, pelo qual o TPI emitiu mandados de captura contra o Primeiro-Ministro e o antigo Ministro da Defesa de Israel.

Hoje, nós, as organizações de direitos humanos e da sociedade civil abaixo-assinadas, consideramos que o resultado do Conselho de Associação UE-Israel de 24 de Fevereiro de 2025 foi um fracasso total, revelando a terrível voz baixa da UE, semelhante à cumplicidade com as graves violações do direito internacional e dos direitos humanos por parte de Israel.

Numa carta datada de 10 de Fevereiro, avisámos a Alta Representante da UE para os Negócios Estrangeiros, Kaja Kallas, e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, de que este Conselho de Associação não deveria ser convocado se não para abordar muito seriamente o artigo 2.º do Acordo de Associação e prever muito concretamente a suspensão do Acordo.

A posição da União Europeia para a 13ª reunião do Conselho de Associação exprime, acima de tudo, o apoio da União Europeia a Israel. Ao convocar uma reunião do tipo “business as usual”, a UE não cumpriu as decisões do TIJ e não respeitou o seu compromisso para com o direito internacional humanitário e os direitos humanos, num momento histórico em que estas leis estão a ser violadas por Israel a um nível sem precedentes.

O fracasso da UE ocorre num momento de grande ameaça por parte da administração do Presidente dos EUA e de Israel contra os próprios princípios do Direito Internacional, contra as instituições da ONU, como a UNRWA, e contra o Tribunal Penal Internacional (TPI). Recordamos o “risco plausível” de genocídio declarado pelo Tribunal Internacional de Justiça (TIJ) há mais de um ano, igualmente confirmado por mais de 200 ONG de todo o mundo e por numerosos peritos da ONU, desde o início do ataque israelita a Gaza.

O parecer consultivo do TIJ de 19 de Julho de 2024 estabelece a ilegalidade da ocupação contínua dos territórios palestinos por Israel e denuncia a discriminação sistemática da população palestina por parte de Israel; a Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU) de 18 de Setembro decidiu tomar medidas enérgicas para pôr termo à ocupação de Israel no prazo de um ano.

Enquanto o Primeiro-Ministro e o antigo Ministro da Defesa de Israel são alvo de mandados de detenção emitidos pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), com base em alegações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade, a UE convidou e recebeu oficialmente o Ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Gideon Saar, para uma conversa de facto “business as usual” por ocasião do Conselho de Associação UE-Israel. A conduta da UE compromete a sua credibilidade enquanto instituição «empenhada em promover e proteger os direitos humanos, a democracia e o Estado de direito, tanto na UE como a nível mundial».

Na segunda-feira, 3 de Março, o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, deu o alarme e acusou Israel de novos crimes na Cisjordânia, «utilizando armas e tácticas militares, incluindo tanques e ataques aéreos, contra os palestinos; a destruição e o esvaziamento de campos de refugiados; a expansão de colonatos ilegais; as severas restrições à circulação; e a deslocação de dezenas de milhares de pessoas. As acções unilaterais de Israel e as ameaças de anexação na Cisjordânia, que violam o direito internacional, têm de acabar».

Até hoje, a UE não abordou seriamente as decisões e o parecer consultivo do TIJ, a resolução da AG da ONU e a situação real no terreno. Este é um caminho claro para a cumplicidade da UE nos crimes de guerra e nos crimes contra a humanidade cometidos por Israel.

A ausência de acção encoraja ainda mais a conduta criminosa, as políticas ilegais e o apartheid de Israel e contribui para aumentar a violência contra os palestinos em Gaza, na Cisjordânia e em Israel, alimentando maciçamente a instabilidade regional e minando o compromisso e a obrigação legal da UE de defender o direito internacional.

A posição comum da UE contém muitas preocupações e apelos a Israel (respeitar o direito internacional, garantir a protecção dos civis, aplicar o acordo de cessar-fogo de Gaza, ...). Se Israel não cumprir as obrigações decorrentes destas preocupações e apelos no prazo de um mês — o que demonstra que o diálogo no Conselho de Associação foi ineficaz — a UE deve começar a aplicar as consequências previstas no artigo 79º.

Considerando a escala sem precedentes dos crimes cometidos pelo Estado de Israel e as actuais ameaças ao direito internacional e às instituições da ONU, a suspensão do Acordo de Associação parece ser o mínimo. Apelamos às instituições europeias e aos Estados-Membros para que assumam plenamente as suas responsabilidades e se empenhem nos procedimentos correspondentes.

12 de Março de 2025

Signatários:

Pax Christi International
Corporate Europe Observatory (CEO)
EuroMed Rights
ActionAid International
International Federation for Human Rights (FIDH)
CNCD 11.11.11
Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM)
European Trade Union Network for Justice in Palestine
European Coordination of Committees and Associations for Palestine (ECCP)
Ekō
Gibanje za pravice Palestincev

Quinta, 13 de Março de 2025 - 15:37