Guterres: de agraciado a proscrito pelo sionismo
No espaço de quatro anos, no discurso sionista, António Guterres passou de quem «mais apropriadamente personifi[ca] e encarn[a] a visão de Theodor Herzl para um mundo mais seguro e mais tolerante para o povo judeu» a alguém que «será recordado como uma mancha na história da ONU.»
O ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Israel. Katz, declarou anteontem, 1 de Outubro, na rede social X, António Guterres como persona non grata:
«Hoje, declarei o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, persona non grata em Israel e proibi-o de entrar no país.
«Quem não consegue condenar inequivocamente o hediondo ataque do Irão a Israel, como fizeram quase todos os países do mundo, não merece pisar solo israelita.
«Este é um Secretário-Geral que ainda não denunciou o massacre e as atrocidades sexuais cometidas pelos assassinos do Hamas em 7 de Outubro, nem liderou quaisquer esforços para os declarar uma organização terrorista.
«Um Secretário-Geral que dá apoio a terroristas, violadores e assassinos do Hamas, do Hezbollah, dos Houthis e agora do Irão - a nave-mãe do terror global - será recordado como uma mancha na história da ONU.
«Israel continuará a defender os seus cidadãos e a manter a sua dignidade nacional, com ou sem António Guterres.»
A indignação de Katz resulta, aparentemente, de Guterres não alinhar com a narrativa israelita que pretende que a História se reinicie cada vez que Israel é atacado, olvidando toda a senda de horrores que o seu país vem semeando no Médio Oriente desde a sua fundação.
A curta declaração de António Guterres apenas releva do bom-senso:
«Condeno o alargamento do conflito no Médio Oriente, com escalada após escalada. Isto tem de parar. Precisamos absolutamente de um cessar-fogo.»
Mas é interessante notar a viragem de 180º no discurso sionista.
Em 9 de Novembro de 2020, António Guterres foi agraciado com o Prémio Theodor Herzl, a maior honraria do Congresso Mundial Judaico, como testemunho da «mais profunda gratidão por ser a voz da justiça e da equidade que o Estado de Israel e o povo judeu há muito, muito tempo esperavam das Nações Unidas».
Numa Gala realizada em linha, em virtude da pandemia, Ronald S. Lauder, Presidente do Congresso Mundial Judaico, afirmou: «Durante demasiadas décadas, as Nações Unidas tiveram uma fixação bizarra no Estado judaico. Isto não só era perigoso para Israel, como também aviltava as Nações Unidas. Essa fixação em Israel tornou as Nações Unidas numa organização menos séria.»
Lauder agradeceu a Guterres «por encarar o anti-semitismo e o anti-sionismo, recusando-se a ceder à pressão daqueles que procuram isolar, demonizar e deslegitimar o único Estado judaico do mundo - Israel.», e concluiu: «Não podemos pensar em ninguém que mais apropriadamente personifique e encarne a visão de Theodor Herzl para um mundo mais seguro e mais tolerante para o povo judeu.»
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