Banir Israel do futebol internacional: Carta aberta ao presidente da Federação Portuguesa de Futebol
Exmo. Senhor Pedro Proença
Presidente da Federação Portuguesa de Futebol
Escrevemos-lhe em nome do MPPM – Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente para apelar a que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tome medidas, nomeadamente através de um apelo público, para pressionar a UEFA e a FIFA a suspenderem Israel em consequência da sua reiterada violação dos direitos humanos dos palestinos.
O genocídio de Israel contra os palestinos em Gaza matou dezenas, senão centenas de milhares de palestinos, incluindo centenas de futebolistas e desportistas, e aniquilou a infra-estrutura futebolística de Gaza, como estádios, instalações de treino e campos.
De acordo com a Associação Palestina de Futebol (APF), desde Outubro de 2023, o número de futebolistas assassinados ou que morreram de fome chegou a 421, incluindo 103 crianças. 288 instalações desportivas foram parcial ou totalmente destruídas pelas forças israelitas em Gaza (268) e na Cisjordânia (20), incluindo estádios, ginásios e clubes de futebol. Entre elas estava a sede da APF, atingida por ataques aéreos israelitas. O futebolista Suleiman al-Obaid era considerado uma das estrelas mais brilhantes da história do futebol palestino, sendo conhecido como o «Pelé palestino»: foi morto em 6 de Agosto enquanto esperava perto de um ponto de distribuição de ajuda no Sul de Gaza.
Permitir que Israel permaneça em organismos desportivos internacionais como a FIFA e a UEFA branqueia esta violência horrível e permite que Israel se apresente como um país normal, obscurecendo a verdade de que está a levar a cabo um genocídio e a impor um regime de ocupação militar e apartheid contra os palestinos.
A Associação de Futebol de Israel (AFI) participa directamente nos crimes de Israel. Ela integra clubes de futebol sediados em colonatos ilegais em terras palestinas roubadas na Cisjordânia ocupada. Esses clubes fazem parte da infra-estrutura da ocupação militar israelita das terras palestinas, considerada ilegal pelo Tribunal Internacional de Justiça.
Além disso, os clubes membros da AFI enviaram “pacotes de ajuda” aos soldados israelitas que cometem genocídio em Gaza e mostram vídeos de funcionários do clube servindo como soldados israelitas em Gaza como motivação antes dos jogos. Além disso, os seus grupos de adeptos têm um longo histórico de violência racista e incitação contra os palestinos.
Os próprios estatutos da FIFA e da UEFA impedem as associações membros de jogar no território de outra associação sem a sua aprovação e exigem que as associações implementem políticas para erradicar o racismo. A AFI está em clara violação destas regras ao aceitar a filiação de clubes residentes nos colonatos ilegais e ao participar na opressão racista de Israel ao povo palestino.
Tanto a UEFA como a FIFA agiram rapidamente para suspender as equipas nacionais e os clubes da Rússia após a sua invasão da Ucrânia. Mas, em contraste, após quase dois anos de ataques horríveis de Israel aos palestinos em Gaza, que foram reconhecidos como genocídio por uma vasta gama de especialistas jurídicos e grupos de direitos humanos, os órgãos dirigentes do futebol recusam-se a tomar medidas semelhantes para banir Israel.
Os apelos para banir Israel estão a aumentar. No início desta semana, oito especialistas da ONU emitiram uma declaração pedindo que Israel fosse expulso do futebol internacional. Eles apelaram aos órgãos desportivos para que «não fechem os olhos a graves violações dos direitos humanos, especialmente quando as suas plataformas são usadas para normalizar injustiças».
A carta dos especialistas da ONU lembra às instituições reguladoras do futebol que a obrigação legal de tomar medidas para prevenir e impedir o genocídio se aplica a todos os órgãos internacionais. Neste contexto, apelamos a que a FPF use a sua influência para garantir que Israel seja banido da UEFA e da FIFA. Isso passa por pedir que o Comité Executivo da UEFA seja convocado com urgência para votar a suspensão de Israel.
No entanto, se a UEFA e a FIFA não banirem Israel, a FPF não deve permitir que as selecções nacionais e os clubes portugueses participem em jogos com as selecções nacionais ou equipas de clubes de Israel, sendo de todo inaceitável o agendamento de jogos particulares com Israel, a nível de selecções, como o que ocorreu em 9 de Junho de 2021 e que motivou um forte protesto do MPPM.
A FPF tem uma oportunidade de se colocar do lado certo da história como o reconheceram, por exemplo, as marcas de artigos desportivos que, sob pressão da opinião pública internacional e em sucessão, têm retirado o seu patrocínio à AFI: a Adidas, em 2018, a Puma, em 2024, e a Erreà, em 2025.
Cordialmente
A Direcção Nacional do MPPM
c.c.
Ministra da Cultura, Juventude e Desporto
Liga Portugal
SJPF - Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol
ANTF - Associação Nacional dos Treinadores de Futebol
APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol
CESP - Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, Escritórios e Serviços
APDA – Associação Portuguesa de Defesa do Adepto