Poesia portuguesa contra o massacre na Palestina

A Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto (AJHLP) convidou mais de quatro dezenas de autores portugueses a responder a uma dúvida: «E depois de Gaza, é possível ainda a poesia?».

São exactamente quarenta e quatro os/as poetas que respondem ao desafio contribuindo para a colectânea de poemas que a AJHLP acaba de editar na colecção «explicação das árvores» com o título o silêncio dos meninos mortos e o subtítulo poemas portugueses contra o massacre do povo palestiniano.

Desta colectânea recolhemos esta pequena mostra:

Francisco Duarte Mangas, Os Frutos

a árvore das palavras
povoa-se de frutos
e esses pequeninos frutos
abrigam o silêncio
dos meninos mortos de gaza.

João Pedro Mésseder, Palestina, 2023

Se te roubam a terra
se te cercam o mar
se o céu não to roubam
que o não podem roubar

mas to enchem de fogo
que te chega do ar
e a casa desaba
e os pais tos esmaga
e os filhos te mata
a mulher a gritar,

que palavras te escutam
no meio das ruínas
da escola ou da casa
ou do novo hospital?

No meio do medo
do choro e dos brados
que te pões a pensar
que te ouvem jurar?

José Queiroga, Fado Palestino

primeiro
desviram-me a água
depois
queimaram a oliveira
por fim
arrasaram a casa
e com ela a mulher
mais os meus oito filhos.

José do Carmo Francisco, Palestina

Não são donos sequer da sombra
Que no chão projectam ao passar

Tudo ou quase tudo lhes foi tirado
A terra, os ribeiros, as ovelhas dispersas pela terra
Os títulos de posse das pequenas quintas.

Tudo ou quase tudo
Menos o futuro amarrotado num bolso
Menos a esperança, menos o olhar.

Júlio Roldão, Os Rios de Gaza

As águas do Tigre
que choram sempre mil noites
na bela Bagdad
são menos violentas
que o rio de lágrimas
que tenta deter
o sangue que corre
pela Palestina
a ferro e fogo.

 

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