Três anos depois Israel entrega à família o corpo de um palestino morto pelo seu exército
Israel entregou, na sexta-feira, à sua família, o corpo de Sufyan Nawwaf Khawaja, 20 anos, morto a tiro pelo exército israelita em 23 de Março de 2020 na entrada da cidade de Ni’lin, a oeste de Ramala. Na altura, os soldados israelitas bloquearam o acesso das ambulâncias ao corpo, que retiveram desde então.
O corpo de Khawaja foi entregue ao Crescente Vermelho palestino no posto de controlo militar de Ni'li, na presença da sua família e de membros da Autoridade para os Assuntos Civis. Foi enterrado ontem, na sua cidade natal.
Na semana passada, mais de 150 organizações internacionais subscreveram um apelo para uma «Campanha internacional para libertar os restos mortais dos mártires palestinos retidos nas morgues e "cemitérios de números" da ocupação sionista».
Segundo os promotores da campanha, Israel está a reter nas suas morgues os corpos de 131 resistentes palestinos que as suas forças mataram, desde 2015, ou que morreram na prisão.
Também não foram entregues às suas famílias os corpos de 256 palestinos mortos em acção desde 1967 e que estão enterrados nos quatro "cemitérios dos números" onde as sepulturas são identificadas por números em vez dos nomes dos que ali se encontram enterrados.
A ocupação utiliza este tipo de retenção como um mecanismo de punição colectiva das famílias palestinas, para as pressionar e tornar a sua vida quotidiana ainda mais dolorosa. Esta política de retenção dos restos mortais dos resistentes é combinada com demolições de casas, com a detenção e perseguição dos familiares dos mortos, com o forçar estas famílias a abandonar as suas casas, e com o reforço do nível de controlo de segurança e de vigilância das famílias.
A ocupação também utiliza os corpos dos mártires como reféns e como moeda de troca para potenciais acordos de permuta de prisioneiros com as forças de resistência palestinas, uma política oficial defendida pelo Supremo Tribunal israelita a 9 de Setembro de 2019.
As famílias dos mortos questionam a forma como os corpos dos seus entes queridos estão a ser tratados, especialmente tendo em conta as provas documentadas de que, durante os anos 90, os órgãos dos mortos palestinos foram colhidos ou utilizados para estudos no Centro Nacional de Medicina Legal de Israel.
Em Julho do ano passado, o primeiro-ministro palestino Mohammad Shtayyeh denunciou que Israel estava a utilizar os cadáveres de palestinos assassinados para realizar testes em laboratórios nas escolas de medicina, o que constitui uma flagrante violação dos direitos humanos.