Dois jovens palestinos mortos pelo exército israelita na cidade sitiada de Beit Ummar em dois dias consecutivos
Um jovem palestino, Shawkat Khalid Awad, de 20 anos, faleceu ontem no hospital horas depois de ter sido baleado na cabeça e no estômago por soldados israelitas em Beit Ummar, na Cisjordânia ocupada.
Awad participava no cortejo fúnebre de Mohammed al-Allami, também ele morto pelo exército israelita, quando os soldados responderam com gás lacrimogénio e fogo vivo às manifestações de protesto de centenas de palestinos indignados com a sua presença.
Shawkat Awad foi o 78º menor palestino a ser assassinado pelas forças israelitas em 2021 e o quarto a morrer no espaço de uma semana.
Na passada quarta-feira, Mohammed Al-Allami, um rapaz palestino de 12 anos, foi baleado no peito por um soldado que abriu fogo contra o carro conduzido pelo seu pai à entrada de Beit Ummar.
Nasri Sabarneh, o presidente da câmara de Beit Ummar, disse que o pai de Mohammed estava a conduzir com ele e a sua irmã quando Mohammed lhe pediu para parar numa loja. O pai fez uma inversão de marcha e as tropas israelitas próximas começaram a gritar e um soldado abriu fogo sobre o veículo, disparando contra o peito de Mohammed.
No passado sábado, o palestino Mohammed Munir Al-Tamimi, de 17 anos, morreu no hospital depois de ter sido alvejado a tiro pelas forças israelitas durante os protestos na aldeia de Nabi Saleh, nos arredores de Ramala.
Apenas alguns dias depois, na segunda-feira, Yousef Nawaf Mhareb,de 17 anos, da aldeia de Abwein, na área de Ramala, sucumbiu às feridas sofridas pelo fogo israelita durante os protestos de Maio.
Reacções internacionais
A organização internacional Save the Children condenou, ontem quinta-feira, o uso excessivo da força pelas forças israelitas contra as crianças no território palestino ocupado, o que resultou na morte de três menores em toda a Cisjordânia na última semana.
Referindo-se à morte de três menores palestinos vitimado por balas das forças israelitas, Jason Lee, Director Nacional da Save the Children no território palestino declarou:
«Três crianças atingidas no peito, pescoço e costas: é totalmente inaceitável que qualquer vida seja ceifada tão cedo. A perda destas crianças deixará cicatrizes emocionais duradouras nas suas famílias e amigos. As crianças têm protecção especial ao abrigo do direito internacional e devem ser sempre protegidas da violência».
«As forças de segurança israelitas devem respeitar, proteger e cumprir plenamente os direitos de todas as crianças e agir em conformidade com o direito internacional. Israel deve investigar prontamente, de forma transparente e independente todos os casos de uso da força contra crianças», acrescentou.
Também ontem, as Nações Unidas instaram Israel a investigar o assassinato do menor palestino Muhammad Muayyad Bahjat Al-Alami, de 12 anos, que foi baleado no peito perto da cidade de Beit Ummar, no sul da Cisjordânia.
Eri Kaneko, um porta-voz do secretário-geral da ONU, disse aos jornalistas que o Secretário-Geral Antonio Guterres tinha conhecimento do assassinato de Al-Alami, acrescentando que a ONU tinha feito pressão para «as autoridades israelitas investigarem o seu assassinato».
Beit Ummar sob ocupação
Os habitantes de Beit Ummar realizam periodicamente protestos não-violentos contra a ocupação. Para se compreender a razão de ser destes protestos é necessário ter presente o impacte da ocupação israelita sobre a cidade.
Beit Ummar é uma cidade palestina situada onze quilómetros a noroeste de Hebron. De acordo com o Gabinete Central de Estatística Palestino, em 2016, a cidade tinha uma população de 17 892 habitantes.
Desde a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Beit Ummar tem estado sob ocupação israelita. O território do município está actualmente repartido entre a Área B (assuntos civis administrados pela Autoridade Palestina) e a Área C (assuntos civis e militares controlados por Israel).
Devido à sua localização perto da Estrada 60 (estrada de desvio, para uso de colonos, interdita a veículos palestinos) e de vários colonatos israelitas, Beit Ummar está sujeita a muitas agressões israelitas. Para a construção de colonatos e estradas de desvio, as forças israelitas confiscaram aproximadamente 400 hectares de terra, para além da demolição de 22 unidades habitacionais e do arranque de 5000 videiras, 1500 árvores de fruta e 350 árvores florestais.
Vários colonatos rodeiam a cidade: Karmei Zur e Tzur Shalem a sul, Migdal Oz a leste, e Kfar Etzion e Bat Ayin a norte.
Na entrada oriental de Beit Ummar, as forças israelitas construíram um posto de controlo militar permanente com um portão de ferro, restringindo severamente o movimento de pessoas que entram e saem da cidade.
Além disso, os postos de controlo permanentes de Kfar Etzion e Al ‘Arrub, bem como outros postos de controlo móveis, restringem as viagens dos residentes de Beit Ummar aos distritos vizinhos de Belém e Ramala, bem como as viagens dentro do próprio distrito de Hebron.
Estes pontos de controlo colocam restrições aos movimentos dos residentes, dificultando o acesso aos serviços de saúde noutras localidades, impedindo os médicos de chegar a clínicas e centros de saúde e condicionando o acesso de professores e estudantes a escolas e universidades e o acesso de agricultores às suas terras.
As autoridades israelitas estão a planear a construção de uma secção do Muro de Segregação no lado norte e leste de Beit Ummar. A construção do muro confiscará aproximadamente 45 hectares de terras e isolará cerca de 40 hectares de terras da cidade atrás do muro. O município também estima que cerca de 18 000 árvores serão desenraizadas no processo.
Os colonatos israelitas vizinhos da cidade de Beit Ummar têm um efeito negativo na população local e na sua produção agrícola, nomeadamente pelas águas residuais que correm para as terras palestinas destruindo culturas e causando infecções.
Foto: Funeral de Mohammed al-Alami (Middle East Eye/Akram al-Waara)