Palestinos dizem não a conferência económica integrada no «acordo do século» de Trump
Os dirigentes palestinos não participarão na conferência económica que os Estados Unidos vão organizar em Junho no Barém, primeira etapa do «plano de paz» de Trump para a Palestina.
O governo dos EUA anunciou uma «oficina» económica em 25 e 26 de Junho em Manama para aumentar o investimento na Faixa de Gaza e na Cisjordânia, o que alegadamente permitiria a melhoria das condições de vida dos palestinos que vivem sob ocupação israelita.
A Autoridade Palestina recusou já participar no encontro. «A questão económica deve ser um resultado da solução política», declarou o primeiro-ministro da AP, Mohammad Shtayeh, «porque o povo e a direcção palestinos não procuram apenas melhorar as condições de vida sob ocupação. Qualquer solução para o conflito na Palestina surgirá apenas através de uma solução política destinada a acabar com a ocupação e a realizar os direitos dos palestinos num Estado independente, soberano e viável nas fronteiras de 1967, com Jerusalém como capital, e o direito de retorno dos refugiados com base nas resoluções das Nações Unidas e no direito internacional.»
«Não cedemos à extorsão nem trocaríamos os nossos direitos nacionais por dinheiro», acrescentou Shtayeh.
Por seu lado, a OLP anunciou num comunicado oficial na noite de quarta-feira que «a Palestina não comparecerá à reunião de Manama». A declaração de Saeb Erekat, secretário-geral do Comité Executivo da OLP, declarou: «Esta é uma posição coletiva palestina, desde o presidente Mahmoud Abbas e do Comité Executivo da OLP até todos os movimentos políticos e facções palestinas, figuras nacionais, sector privado e sociedade civil. Reiteramos que não mandatámos ninguém para negociar em nosso nome.»
O plano estado-unidense concentrar-se-á em quatro componentes principais, segundo revelou um alto funcionário da Casa Branca: «infraestruturas, indústria, capacitação e investimento em pessoas e reformas de governança». Mas «evitará cuidadosamente as muitas questões políticas», que serão adiadas indefinidamente.
Na realidade, nem é certo que a parte política do «plano de paz» venha alguma vez a ser revelada — mas está já a ser posta em prática. Não têm outro sentido as recentes decisões do governo dos EUA, a saber: reconhecer Jerusalém como capital de Israel e transferir para aí a sua embaixada; fechar a representação diplomática da OLP em Washington; cortar o financiamento à AP e à agência de auxílio aos refugiados palestinos (UNRWA); o reconhecimento da soberania israelita sobre os Montes Golã sírios ocupados.
OU seja, o «acordo do século» consiste numa tentativa, totalmente alinhada com os desejos do governo de Israel, de impor aos palestinos a renúncia aos seus direitos nacionais, em troca de promessas de investimentos que seriam feitos não pelos EUA, mas sim pelas petromonarquias suas aliadas da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos.
Foram convidados para a controversa oficina ministros das Finanças de diferentes governos, incluindo representantes estado-unidenses, israelitas e árabes. Já anunciaram a sua participação a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos (que numa pouco secreta aliança com Israel fazem parte do eixo anti-Irão promovido pelos EUA).
Mas o Comité Executivo da OLP revelou que os palestinos não foram informados e muito menos consultados sobre a oficina, que no entanto se destina a discutir o seu futuro.
A indignação e o repúdio por esta perigosa iniciativa dos EUA abarca ainda a generalidade dos movimentos e partidos palestinos. Por exemplo, a Frente Popular para a Libertação da Palestina afirmou num comunicado que «a oficina no Barém não é mais do que uma plataforma para a declaração da participação oficial árabe na aprovação do "acordo do século" e na adopção da visão de Netanyahu, apoiada pelos americanos, da paz económica como solução para o conflito árabe e palestino com a entidade sionista».
Publicaram também declarações condenando a conferência, entre outros, o Partido do Povo Palestino, a Frente Democrática para a Libertação da Palestina, o Hamas e a Jihad Islâmica Palestina.