Festival da Eurovisão: sobre as ruínas da Palestina

A final do Festival da Eurovisão, esta noite em Tel Aviv, tem lugar na mesma semana em que se assinalou o 71.º aniversário da Nakba («catástrofe», em árabe), a expulsão da população autóctone palestina levada a cabo por ocasião da fundação de Israel.

A própria sala onde decorre o Festival está situada em terrenos que pertenciam a uma aldeia palestina demolida por Israel: Al-Shaykh Muwannis, ocupada pelas milícias sionistas em Março de 1948 — ou seja, meses antes da proclamação da independência de Israel e da guerra com os países árabes que habitualmente é apresentada como pretexto para a expulsão dos palestinos. Vários dos seus habitantes foram mortos, os outros foram expulsos e as suas terras expropriadas.

E a umas centenas de metros daí, a Universidade de Tel Aviv está construída sobre as próprias ruínas das casas de Al-Shaykh Muwannis, e o seu Clube de Professores ocupa a «Casa Verde», que era propriedade de Abu Kheel Ibrahim.

Não se trata de uma casualidade. O Estado de Israel está fundado sobre as ruínas da Palestina, sobre a demolição de 530 aldeias e a expulsão dos palestinos das cidades, sobre o crime inapagável da limpeza étnica de mais de 750 000 palestinos do território que Israel viria a ocupar. Território, aliás, largamente mais vasto do que aquele que lhe tinha sido atribuído pela ONU em 1947 no plano de partição da Palestina histórica.

Os palestinos da Cisjordânia, mesmo que o desejassem, não seriam autorizados entrar em Israel para assistir ao espectáculo: estão submetidos desde 1967 a uma brutal ocupação e não têm liberdade de movimentos. Mas as centenas de milhares de colonos israelitas que vivem no território palestino ocupado podem fazê-lo sem dificuldade, usando até estradas para seu uso exclusivo

E que dizer dos palestinos da Faixa de Gaza, também a algumas  dezenas de quilómetros de Tel Aviv, submetidos desde há doze anos a um sufocante bloqueio, e dos milhares de vítimas — ainda este mês — dos atiradores de elite e dos repetidos bombardeamentos aéreos de Israel?

Os próprios cidadãos palestinos de Israel, 21% da população do país, sofrem de uma sistemática discriminação de base étnico-religiosa, consagrada constitucionalmente.

Entre os alegres vídeos promocionais dos cantores, filmados «em Israel», vários têm de facto por cenário os Montes Golã sírios ocupados ou Jerusalém Oriental ocupada — ocupações em ambos os casos rejeitadas pela ONU.

Apesar dos desejos das autoridades israelitas, as luzes e lantejoulas do espectáculo de Tel Aviv não conseguem branquear a crua realidade: não, Israel não é nem «a única democracia do Médio Oriente» nem um país acolhedor e pacífico. Israel é um Estado belicista e violento, discriminatório e opressor.

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