EUA vão cortar mais de 200 milhões de dólares de ajuda à Palestina

Os Estados Unidos vão cortar mais de 200 milhões de dólares de ajuda aos palestinos, informou o Departamento de Estado na sexta-feira 24 de Agosto. Um alto funcionário do Departamento de Estado afirmou num comunicado que os fundos, originalmente destinados a programas na Cisjordânia e em Gaza, seriam redireccionados para «projectos de alta prioridade em outros lugares».
Este anúncio insere-se no conjunto de pressões sobre a direcção palestina para a forçar a renunciar à sua posição, reafirmada pelo Conselho Nacional Palestino (a mais alta instância da OLP), de recusar os Estados Unidos como mediador do «processo de paz» depois de os EUA reconhecerem  Jerusalém como a capital de Israel e transferirem para aí a sua embaixada, contrariando décadas de política estado-unidense e violandio a legalidade internacional.
A administração Trump está a preparar um «plano de paz» alegadamente destinado a iniciar conversações entre Israel e os palestinos para pôr fim ao conflito. O anúncio público do plano tem vindo a ser sistematicamente adiado, mas notícias vindas a público — e a evolução da realidade no terreno — fazem crer que contempla a satisfação em toda a linha das posições de Israel e implicaria a renúncia pelos palestinos aos seus direitos nacionais, nomeadamente a criação do seu Estado independente.
O Departamento de Estado citou o controlo do Hamas (que os EUA e Israel designam como grupo terrorista) sobre a Faixa de Gaza como parte da justificação para o redireccionamento dos fundos.
A decisão vai decerto agravar a já terrível situação humanitária dos dois milhões de palestinos que habitam no pequeno território palestino, submetido a um desumano bloqueio por Israel (com a colaboração do Egipto) desde há doze anos. 
Em Janeiro os EUA tinham anunciado que iam reter 65 milhões de dólares dos 125 milhões que planeavam doar à UNRWA (agência da ONU de assistência aos refugiados palestinos), que é financiada quase inteiramente por contribuições voluntárias de países da ONU, sendo os Estados Unidos historicamente o maior contribuinte.
O assessor de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, afirmou esta semana que a UNRWA era «um mecanismo fracassado» que violava o direito internacional padrão sobre o estatuto dos refugiados.
A UNRWA foi fundada em 1949 para dar assistência aos mais de 750.000 palestinos vítimas  da limpeza étnica levada a cabo pelas forças sionistas antes e depois da criação de Israel. Actualmente a UNRWA fornece uma ajuda vital para a sobrevivência de cerca de cinco milhões de refugiados palestinos.
Israel, e agora os Estados Unidos, deseja desde há muito o desaparecimento da UNRWA, para fazer esquecer que o Estado sionista está fundado sobre um imprescritível crime de limpeza étnica, e ao mesmo tempo fazer «desaparecer» um problema de primeira importância na solução da questão palestina.
Em reacção a esta medida da administração Trump, Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP) e chefe do Departamento de Diplomacia e Política Pública, afirmou que «o povo e a direcção palestinos não se deixarão intimidar e não sucumbirão à coerção». «Os direitos do povo palestino não estão à venda», acrescentou.
Por seu lado, o embaixador Husam Zomlot, chefe da Delegação-Geral da OLP nos EUA, declarou: «Depois de Jerusalém e da UNRWA, esta é mais uma confirmação de que [o governo estado-unidense] abandonou a solução dos dois Estados e abraçou completamente a agenda anti-paz de [primeiro-ministro israelita] Netanyahu».
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