Vida e morte na aldeia de Ahed Tamimi em filme de realizador belga
Nabi Saleh é a aldeia de Ahed Tamimi. É também a aldeia que se tornou conhecido pelos seus protestos pacíficos contra a violência dos habitantes do vizinho colonato de Halamish e o roubo das suas terras, protestos esses que o exército israelita reprime com brutalidade. É ainda a aldeia onde três habitantes foram mortos pelo exército de Israel.
O realizador belga Jan Beddegenoodts apresenta em «Thank God, it’s Friday» («Graças a Deus é Sexta-Feira»), um documentário sobre a vida diária na aldeia palestina de Nabi Saleh e também no vizinho colonato israelita de Halamish.
Todas as sextas-feiras – desde 2009 – os habitantes de Nabi Saleh fazem o seu protesto debaixo de gás lacrimogéneo e balas de borracha. Durante um protesto, numa sexta-feira de Dezembro de 2011, Mustafa Tamimi, um jovem de Nabi Saleh, foi morto. Um momento de tensão emocional do filme é aquele em que a mãe de Mustafa conta a última e fatídica sexta-feira em que o seu filho saiu de casa para não voltar.
Há um elemento em «Thank God it’s Friday» que o distingue de muitos outros documentários filmados na Palestina: os cineastas também estão em Halamish a entrevistar colonos. Uma habitante guia os cineastas numa volta ao colonato, mostrando a sua piscina e outras instalações, procurando retratar os colonos como "pessoas normais". O filme fornece uma visão de como os colonos se relacionam com os palestinos em cuja terra vivem, e como eles racionalizam, justificam ou simplesmente bloqueiam nas suas mentes a violência que torna isso possível.
«Eles estão a tentar dizer-nos algo, mas nem sequer prestamos atenção», comentam colonos sobre os protestos de sexta-feira.
Um ano depois, quando o filme foi concluído, os cineastas organizaram uma projecção do documentário em Nabi Saleh e no colonato de Halamish e incluíram no documentário as reacções de ambos os lados.
Em Outubro passado, correspondendo a um apelo do Comité Popular de Nabi Saleh, o realizador retirou o seu documentário do festival de cinema One World, na capital eslovaca Bratislava, quando se soube que o festival era patrocinado pela Embaixada de Isarel. Beddegenoodts decidiu, em vez disso, disponibilizar este filme para todos.
Halamish, também conhecido como Neveh Tzuf, é um colonato israelita situado em território palestino ocupado, a norte de Ramala e cerca de 11 km a leste da linha verde do armistício de 1949. A sua construção iniciou-se em Outubro de 1977 quando dois grupos de colonos, um religioso e um secular, se instalaram num antigo forte abandonado, perto da aldeia palestina de Nabi Saleh. A sua população actual ultrapassa os 1300 colonos. A comunidade internacional considera ilegais os colonatos israelitas de acordo com o direito internacional.
Em Halamish está instalada a Mechina Elisha, uma instituição de ensino religioso pré-militar para jovens.
Nabi Saleh é uma aldeia palestina localizada a 20 quilómetros a noroeste de Ramala com uma existência milenar. Há vestígios de ocupação durante as eras romana e bizantina, e consta dos registos do império otomano.
O túmulo do profeta Saleh foi um importante lugar de peregrinação na região. Presentemente, o complexo religioso acolhe, além do túmulo do profeta e de uma grande sala de oração, as instalações do Centro Cultural.
Em 2009, os habitantes de Nabi Saleh iniciaram protestos semanais não-violentos contra as acções dos colonos de Halamish que incluíram a destruição de pomares e colmeias e a apropriação da histórica fonte de Ein-al-Qaws, cujo uso interditaram aos palestinos. Ao ocasional arremesso de pedras, responde o exército israelita com gás lacrimogéneo, balas de borracha, canhões de água e, por vezes, fogo real. Desde o início dos protestos, segundo o autarca de Nabi Saleh, Israel causou três mortos e mais de 350 feridos, dos quais 50 ficaram incapacitados, entre os 600 habitantes da aldeia.
Bassem Tamimi, o impulsionador dos protestos não-violentos, foi preso e torturado por Israel inúmeras vezes. A União Europeia considera-o um defensor dos direitos humanos. A Amnistia Internacional designou-o como «prisioneiro de consciência». A sua filha, Ahed, e a sua mulher, Nariman, foram há poucos dias detidas pelo exército israelita.
Domingo, 31 Dezembro, 2017 - 00:00