Palestinos acusam EUA de ingerência e de tentar impedir governo de unidade

O chefe do Hamas na Faixa de Gaza, Yahya Sinwar, afirmou hoje, 19 de Outubro, que ninguém pode forçar o Movimento Islâmico de Resistência a desarmar-se ou a reconhecer Israel.
Horas antes, Jason Greenblatt, representante especial do presidente Donald Trump para o «processo de paz» israelo-palestino, declarara que um governo de unidade palestino tem de reconhecer Israel e desarmar o Hamas, o que constitui a primeira resposta oficial de Washington ao recente acordo de reconciliação palestino entre o Hamas e a Fatah, partido do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abas. Segundo Greenblatt, qualquer governo palestino tem de «inequívoca e explicitamente» comprometer-se com as condições estabelecidas pelo Quarteto: abster-se de violência, reconhecer Israel e aceitar acordos anteriores, incluindo desarmar os terroristas e comprometer-se com a paz.
Foi em resposta às suas declarações que Yahya Sinwar afirmou: «Ninguém no universo pode desarmar-nos. Pelo contrário, vamos continuar a ter o poder de proteger os nossos cidadãos. Ninguém tem a capacidade de extrair de nós o reconhecimento da ocupação … Somos lutadores pela liberdade e revolucionários pela liberdade do nosso povo. Nós lutamos contra a ocupação de acordo com o direito internacional e humanitário.»
Bassem Naim, um alto funcionário do Hamas, acusou Greenblatt de estar a ceder a pressões do primeiro-ministro israelita. Tom semelhante foi utilizado por um membro do Comité Executivo da OLP e um assessor do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, ao declararem que a posição de Greenblatt constitui uma intervenção grosseira nos assuntos internos da Palestina.
O comunicado de Greenblatt foi divulgado dois dias depois de o gabinete de segurança de Israel decidir que Tel Aviv não participará em negociações políticas com um governo de unidade palestino que tenha o apoio do Hamas.
Tanto o Hamas como a Fatah rejeitaram as ameaças de Netanyahu, ao passo que a Autoridade Palestina (dominada pela Fatah) declarou que essa postura hostil não afectaria a determinação do país de prosseguir os seus objectivos.
Há uma semana a Fatah e o Hamas assinaram um acordo no Cairo visando ultrapassar a divisão reinante há uma década. Para possibilitar o acordo, o Hamas, que governava a Faixa de Gaza, concordou em dissolver a comissão administrativa que geria a pequena faixa costeira, sujeita a um bloqueio total desde há dez anos.
O acordo do Cairo prevê nomeadamente que a Autoridade Palestiniana retome o controlo da Faixa de Gaza até 1 de Dezembro e assuma o controlo das passagens entre Gaza e o exterior. Também estão previstas conversações para a formação de um governo de unidade, estando um outro encontro entre as várias facções políticas palestinas agendado para o próximo mês. Entretanto, estão ainda por discutir uma série de pontos delicados, como a situação das dezenas de milhares de funcionários públicos admitidos durante a administração do Hamas e o destino da sua ala armada, as Brigadas Izz ad-Din al-Qassam.
 
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