Dezenas de feridos em protestos na aldeia palestina de Khan al-Ahmar. Vários países europeus condenam ameaça de demolição por Israel
Dezenas de palestinos, acompanhados por activistas dos direitos humanos israelitas e internacionais, protestaram hoje em Khan al-Ahmar e nas suas redondezas, enquanto forças israelitas começavam os preparativos para destruir a aldeia beduína, na Cisjordânia ocupada, apesar dos apelos internacionais para a não concretização do plano.
Moradores e activistas agitaram bandeiras palestinas e subiram às escavadoras, tentando impedir a demolição.
O Crescente Vermelho palestino informou que 35 pessoas ficaram feridas e quatro foram levadas para o hospital.
A organização israelita B'Tselem (Centro de Informação para os Direitos Humanos nos Territórios Ocupados) relatou que foram presas nove pessoas.
Os incidentes de hoje surgem depois de representantes da Administração Civil de Israel (órgão do Ministério da Defesa israelita encarregado da administração dos territórios palestinos ocupados) terem na noite de ontem afixado avisos alertando os habitantes da aldeia para a sua expulsão iminente. Na manhã de hoje já havia escavadoras no local e os confrontos começaram.
A área em torno da aldeia foi declarada pelas autoridades israelitas zona militar fechada, inacessível ao público.
Khan al-Ahmar é uma das comunidades palestinas que Israel quer expulsar do chamado Corredor E1, que permitiria estabelecer uma continuidade territorial entre Jerusalém e colonatos israelitas ilegais na Cisjordânia ocupada. O Supremo Tribunal de Israel aprovou em Maio passado o plano de demolição da aldeia.
Os moradores de Khan al-Ahmar deverão ser transferidos para Al Jabel, uma aldeia perto da lixeira de Abu Dis que Israel destinou para instalação permanente dos aldeões.
Originários do deserto de Negev (no Sul de Israel), os habitantes de Khan al-Ahmar foram daí expulsos na década de 1950, estabelecendo-se na zona onde hoje se encontra o colonato israelita de Kfar Adumim; foram para a localização actual depois de também serem expulsos daí.
Segundo noticia o jornal israelita Haaretz, o ministro de Estado britânico para o Médio Oriente, Alistair Burt, anunciou hoje no Parlamento que o Reino Unido vai tomar medidas para impedir a demolição da comunidade beduína em Khan al-Ahmar. «De acordo com a nossa política de longa data», declarou, «condenamos tal medida, que seria um golpe sério nas perspectivas de uma solução de dois Estados com Jerusalém como capital partilhada.» O diário acrescenta que os ministérios dos Negócios Estrangeiros da França e da Irlanda já publicaram declarações similares, esperando-se que se sigam outros países europeus.
Por seu lado, Nikolay Mladenov, Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Médio Oriente, condenou os preparativos para demolir Khan Al Ahmar. «Israel deveria parar tais ações e planos para deslocar comunidades beduínas na Cisjordânia ocupada», escreveu ele no Twitter. «Tais ações são contrárias ao direito internacional e prejudicam a solução dos dois Estados.»
Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da OLP, condenou os planos iminentes de destruição de Khan al-Ahmar e instou a comunidade internacional a agir. «Palavras de advertência a Israel não bastam», declarou a dirigente palestina. «Se não houver uma intervenção séria da comunidade internacional relativamente ao governo israelita e à sua beligerante ocupação militar, outras aldeias se seguirão e mais homens, mulheres e crianças palestinos serão deslocados durante mais 70 anos.»
Já ontem, uma declaração conjunta da Presidência e do Primeiro-Ministro da Autoridade Palestina e da Organização de Libertação da Palestina classificava como «testemunho da cultura de impunidade de Israel» a destruição iminente de Khan al-Ahmar. «Haverá um crime de guerra a ser cometido diante dos olhos de toda a comunidade internacional», prosseguia a declaração, «e ainda assim ninguém está disposto a tomar medidas concretas para deter a ocupação israelita e proteger o povo palestino, inclusive impondo sanções contra Israel e o seu empreendimento de colonização.»
Também o deputado israelita Ayman Odeh, presidente da Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel) declarou que não se trata apenas uma injustiça humana, mas de uma manobra política do governo israelita para cortar e desmantelar os assentamentos árabes na Área C e para expandir os blocos de colonatos israelitas, «evitando assim qualquer hipótese de paz e de um Estado palestino».
Quarta, 4 Julho, 2018 - 00:00