Vitória palestina com inscrição da cidade velha de Hebron na lista do Património Mundial em Perigo

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) aprovou a inscrição da Cidade Velha de Hebron (cidade palestina na Margem Ocidental ocupada), incluindo a Mesquita de Ibrahim e o Túmulo dos Patriarcas, na lista do Património Mundial em Perigo. Apesar dos esforços diplomáticos de Israel e dos Estados Unidos para bloquear a medida, a votação do Comité do Património Mundial ocorreu nesta sexta-feira, 7 de Julho. Por voto secreto, 12 países pronunciaram-se a favor e apenas 3 votaram contra; 6 países abstiveram-se.
A resolução, apresentada pelos ministérios palestinos dos Negócios Estrangeiros e do Turismo, pelo município de Hebron e pela Comissão de Reabilitação de Hebron, afirmava que a Cidade Velha de Hebron necessita urgentemente de protecção contra violações israelitas que prejudicam o excepcional valor internacional do sítio.
O texto votado afirma que a Cidade Velha de Hebron e a Mesquita de Ibrahimi / Túmulo dos Patriarcas ficarão registados na Lista do Património Mundial da UNESCO e também que os dois sítios são reconhecidos como estando em perigo, o que significa que o Comité do Património Mundial da UNESCO discutirá anualmente o seu caso.
A decisão foi saudada pelos palestinos como uma vitória diplomática contra a pressão de Israel e dos EUA. O embaixador palestino na UNESCO apontou que a questão da religião não fazia parte do processo de inscrição. «A Palestina não inscreveu uma religião na lista do património mundial. A religião não pode ser inscrita nessa lista», afirmou Elias Sanbar. «O Estado palestino é soberano, embora esteja sob ocupação. Está a actuar no âmbito dos seus plenos direitos ao tomar a iniciativa de nomear esta cidade para inscrição na lista do património mundial. Esta cidade que está no seu território.»
O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Palestina declarou que a UNESCO tinha tomado «a única decisão lógica e correcta» e classificou a medida como uma «vitória da tolerância e da diversidade», acrescentando: «Apesar de uma frenética campanha israelita espalhando mentiras e distorcendo os factos acerca dos direitos palestinos, o mundo reconheceu o nosso direito de registar Hebron e a Mesquita de Ibrahimi sob a soberania palestina.» O ministério refere que a Cidade Velha de Hebron e a mesquita estavam «em perigo devido às acções irresponsáveis, ilegais e altamente prejudiciais de Israel, a potência ocupante, que mantém um regime de separação e discriminação na cidade com base na origem étnica e na religião».
Na Cidade Velha de Hebron, que está sob completo controlo militar israelita, vivem cerca de 30.000 palestinos e cerca de 800 colonos israelitas, protegidos por forças militares israelitas. A Mesquita de Ibrahimi, onde se acredita que esteja enterrado o Profeta Abraão, entre outros, é um local sagrado para muçulmanos e judeus e tem sido desde há décadas um foco de violência. Foi dividida numa sinagoga e numa mesquita depois de em 1994 o colono israelita Baruch Goldstein ter massacrado 29 palestinos no interior da mesquita.
Israel reagiu violentamente à decisão da UNESCO. Naftali Bennett (do partido de extrema-direita pró-colonatos Lar Judaico), ministro da Educação e presidente da comissão israelita da UNESCO, condenou a decisão e afirmou que Israel não renovará a cooperação com a UNESCO «enquanto ela continuar a servir como instrumento para ataques políticos».
Por seu lado, o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, chamou à UNESCO uma «organização politicamente tendenciosa, vergonhosa e anti-semita», afirmando que «nenhuma decisão desta organização irrelevante irá minar o nosso direito histórico sobre o Túmulo dos Patriarcas ou o nosso direito sobre o país.»
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu classificou de «delirante» a decisão da UNESCO e anunciou um corte de 1 milhão de dólares nos pagamentos de Israel à ONU. Este anunciado corte de financiamento por parte de Israel é o quarto no ano que passou. Na sequência de decisões de vários organismos da ONU, Israel diminuiu a sua contribuição para a ONU de 11 milhões de dólares para apenas 1,7 milhões, segundo informação de uma personalidade oficial israelita.
O Comité do Património Mundial da UNESCO já aprovara na passada terça-feira, 4 de Julho, uma resolução reafirmando o não reconhecimento por este organismo internacional da soberania israelita em Jerusalém Oriental ocupada e condenando as políticas israelitas na sua Cidade Velha.
 
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