«A Verdade sobre a Questão Palestina», por José Neves

Texto da intervenção feita no dia 2 de Novembro de 2017, na Fundação José Saramago, na apresentação pública do Manifesto «Justiça para a Palestina».

Senhoras e Senhores

Como apoiante da luta do povo palestino, não necessito de grandes argumentos para sustentar a minha posição, e uma palavra me basta e sintetiza todos os argumentos: a Verdade. A verdade histórica. A causa da Palestina está eivada de calúnias, embustes, descaradas mentiras de que a propaganda dos judeus sionistas permanentemente se serve para encobrir a verdade. Não será por acaso que magnatas judeus têm investido em poderosas agências de comunicação internacionais.

A Declaração de Balfour, que hoje faz 100 anos, é um exemplo dos estratagemas utilizados para ludibriar. Quando aí se diz que a Grã-Bretanha é favorável a um Lar Nacional para o Povo judaico na Palestina, são palavras para ocultar a verdadeira intenção, pois no genuíno sentido dever-se-ia dizer: a Grã-Bretanha é a favor da criação de um Estado de Israel na Palestina, decisão, aliás, tomada 20 anos antes por um grupo de cidadãos de vários países reunidos na Suíça.

Essa reunião, foi convocada por um senhor austríaco, Theodor Herzl, em 1897. E quem eram e o que tinham em comum essa gente? Comungavam uma cultura, praticavam os rituais de uma religião, tinham os seus livros sagrados, uma cidade santa, Jerusalém, e consideravam-se um povo escolhido por Deus que lhes tinha prometido a Palestina e para onde deveriam regressar.

Foi com base nesta cultura religiosa que os judeus se organizaram no sionismo e se julgaram com legitimidade de reivindicar o Estado de Israel na Palestina, a que se seguiu o apoio da Grã-Bretanha que, no contexto, representa os interesses imperialistas das potências ocidentais.

Esta é a verdade que está na génese da agressão dos judeus sionistas ao povo árabe da Palestina. E não é necessário ter qualificações jurídicas de direito internacional para saber de que lado está a razão e condenar esta insólita pretensão judaica de criar um Estado em território alheio, ocupado por um povo árabe que reside na Palestina há milhares de anos.

O sionismo preparou ardilosamente todo um esquema de ocupação do território da Palestina, servindo-se de todos os meios, praticando actos de terrorismo de que resultou uma limpeza étnica, com a expulsão de 750.000 palestinos e a destruição de 530 aldeias. A esta verdade insofismável os sionistas respondiam com grosseiras mentiras, como a de Golda Meir ter afirmado que quando chegaram à Palestina não encontraram lá ninguém!

São incontáveis os logros, os ardis usados na preparação de assassinatos e crimes em massa de mulheres e homens Palestinos, como o historiador judeu israelita Illan Pappé descreve no seu livro, “A Limpeza Étnica da Palestina”. São descrições assombrosas, verdades irrefutáveis!

Por fim, cito a mentira da actualidade que frequentemente ouvimos nos mídia: de que Israel é um Estado democrático. Todos sabemos como os cidadãos árabes israelitas são interditos dos seus direitos cívicos e de que só os judeus são cidadãos de pleno direito. A verdade é esta: Israel, pelas suas leis e prática, é um Estado com um sistema de apartheid.

Como cidadão defensor dos direitos humanos não posso deixar de condenar a prática de violências cometidas ao longo da história e do genocídio nazi de que as comunidades judias foram vítimas. Entidades políticas já pediram perdão a Israel. Na convicção de que a causa da Palestina um dia triunfará no seu combate, também espero que a comunidade internacional reconheça os seus erros e peça perdão ao heróico Povo Palestino.

Vou terminar: Nesta casa do Prémio Nobel José Saramago, que nos acolhe em solidariedade com a causa da Palestina, evoco a figura de outro Prémio Nobel, Yasser Arafat, Premio Nobel da Paz, foi o líder incontestado do povo árabe da Palestina, Presidente da Autoridade Nacional da Palestina, liderou a OLP, esteve em Lisboa em 1979 e aqui presidiu a uma conferência de solidariedade com o seu povo. Arafat sempre mostrou grande apreço por Portugal, onde tinha tantos amigos. Foi para mim um honroso privilégio ter contactado tão fascinante personalidade, que nos inspira confiança e determinação para prosseguir o combate de solidariedade pela causa da Palestina.

Estou certo que o heróico povo palestino vencerá!
 
José Neves foi fundador do Partido Socialista e membro fundador do MPPM, cujos órgãos sociais integrou entre 2008 e 2015
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