A Veolia abandona o projecto do Metro ligeiro de Jerusalém

A empresa francesa Veolia, que integrava, com a Alstom, o consórcio para a construção e exploração do Metro Ligeiro de Jerusalém, terá abandonado o projecto em consequência das fortes pressões exercidas pelo movimento global BDS (Boicote – Desinvestimento – Sanções) que terão causado àquela empresa perdas na ordem de 7 mil milhões de dólares.
O jornal Haaretz (8 Junho 2009) confirma a notícia e refere que a empresa estava a ser alvo de um processo judicial movido por uma organização pró-Palestina ao abrigo de um artigo da lei francesa que considera nulos os contratos celebrados por empresas francesas, no estrangeiro, que violem a lei internacional.
Para Omar Barghouti, membro fundador da Campanha Palestina para o Boicote Académico e Cultural a Israel, trata-se da «primeira vitória esmagadora e convincente do movimento BDS global no domínio da responsabilidade corporativa e do respeito ético».
O Metro Ligeiro de Jerusalém pretende ligar, em território palestino ocupado, os colonatos à cidade de Jerusalém em clara violação do Direito Internacional. De facto, a IV Convenção de Genebra - relativa à protecção de civis em tempo de guerra – aprovada em 12 de Agosto de 1949 e em vigor desde 21 de Outubro de 1950, protege os direitos das populações dos territórios ocupados - Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Gaza são territórios ocupados por Israel na sequência da "Guerra dos Seis Dias” - e interdita toda a forma de colonização desses territórios.
Na sua edição de 5 de Junho, em artigo do seu correspondente em Jerusalém, o jornal Le Monde enuncia as perdas recentes sofridas pela Veolia:
- No início do ano perdeu a gestão, que detinha, do metro de Estocolmo.
- Em meados de Março, a Veolia foi afastada da gestão de recolha de resíduos da cidade de Sandwell, no Reino Unido – um negócio avaliado em 1600 milhões de euros.
- Em Abril foi a vez de a cidade de Galway, na Irlanda, não renovar o contrato de distribuição de água com a Veolia.
- Ainda em Abril, em Bordéus, a Veolia perdeu um contrato de transportes no valor de 750.000 euros.
O jornal cita o comentário de uma fonte da empresa: «É normal na vida de uma empresa perder mercados. Em Bordéus as autoridades locais tinham vontade de experimentar outro operador. Na Escandinávia e no Reino Unido a campanha pode ter-nos custado um pouco caro». Ainda citado pelo Le Monde, Barghouti contrapõe: «Desde o início do ano a Veolia perdeu 7 mil milhões de dólares em mercados potenciais. A menos que se considere que os gestores da empresa se tornaram, de repente, incompetentes, é evidente que o negócio do metro denegriu a sua imagem.»
Num artigo divulgado na edição web da Monthly Magazine, em 8 de Junho, Omar Barghouti considera que “esta grande vitória é o resultado de anos de trabalho intenso, escrupuloso, meticuloso e persistente dos grupos franceses de solidariedade, em particular a AFPS; do crescente movimento BDS francês que foi instrumental na perda de um grande contrato em Bordéus; dos activistas holandeses que obtiveram o primeiro sucesso ao convencer um banco holandês a desinvestir da Veolia e pressionaram outros bancos para o acompanhar; dos grupos suecos pela justiça e pela paz, principalmente ligados à Igreja da Suécia, em particular o Diakonia, e grupos suecos de Solidariedade com a Palestina que custaram à Veolia o contrato de 4500 milhões de dólares para gerir o metro de Estocolmo; de activistas e grupos de solidariedade britânicos, em particular os ligados ao PSC, que contribuíram enormemente para excluir a Veolia de um lucrativo contrato nas West Midlands; e, evidentemente, do Comité Nacional BDS Palestino que emparceirou com todas as outras organizações para lançar a já famosa campanha “Façamos Descarrilar a Veolia e a Alstom” [oficialmente lançada na conferência 'Iniciativa Bilbau' que teve lugar nesta cidade basca em Novembro do ano passado] para pressionar a companhia para abandonar este projecto ilegal”.
A concluír, Barghouti adverte: «a Solidariedade com a Palestina quase nada significa se não for traduzida em acções BDS que realmente custem caro ao regime de ocupação e apartheid de Israel.»
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