UNESCO aprova Tell es-Sultan (Jericó) como Património Mundial da Humanidade
O Comité do Património Mundial da UNESCO decidiu neste domingo, em Riade, capital da Arábia Saudita, inscrever o sítio pré-histórico de Tell es-Sultan, perto da cidade palestina de Jericó, na Cisjordânia ocupada, na Lista do Património Mundial.
O sítio de Tell es-Sultan tem estado a ser escavado há mais de um século e revelou as ruínas de uma cidade fortificada que se considera a mais antiga povoação fortificada continuamente habitada do planeta, remontando ao nono milénio a.C. A própria Jericó é uma das mais antigas cidades continuamente habitadas do mundo.
A UNESCO descreve o sítio como «um tell, ou monte, de forma oval que contém depósitos pré-históricos de actividade humana e inclui a nascente perene adjacente de 'Ain es-Sultan. Entre o 9.o e o 8.o milénio a.C., surgiu aqui uma povoação permanente, devido ao solo fértil do oásis e ao fácil acesso à água.»
«Os crânios e estátuas encontrados no local testemunham práticas cultuais entre as populações neolíticas que aí viviam, e o material arqueológico da Idade do Bronze Inicial mostra sinais de planeamento urbano», refere a UNESCO, concluindo: «Os vestígios da Idade do Bronze Médio revelam a presença de uma grande cidade-estado cananeia ocupada por uma população socialmente complexa.»
Palestina congratula-se
O Presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, afirmou numa declaração que a decisão da UNESCO é «uma questão de grande importância e testemunha a autenticidade e a história do povo palestino», acrescentando que «o Estado da Palestina está empenhado em preservar este local único para benefício da humanidade».
Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros da AP se congratulou com a decisão, considerando-a um reconhecimento do «significado cultural, económico e político» de Jericó» e um testemunho de «10 000 anos de desenvolvimento humano».
A Ministra do Turismo e das Antiguidades da AP, Rula Ma'ayah, que participou na reunião em Riade, afirmou que a classificação pela UNESCO mostra que o sítio de Tell es-Sultan é «parte integrante do diversificado património palestino de excepcional valor humano».
O Estado da Palestina foi admitido como membro da UNESCO em 31 de Outubro de 2011.
Israel condena
O Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel expressou a sua desaprovação da decisão, dizendo que via a acção como «outro sinal do uso cínico da UNESCO pelos palestinos e da politização da organização».
«Israel agirá com seus muitos amigos na organização para mudar as decisões erradas tomadas», ameaçou o MNE israelita.
Israel deixou a UNESCO em 2019 devido a acusações de que ela nutre um preconceito anti-Israel, mas enviou uma delegação à reunião deste ano na Arábia Saudita.
Património palestino da Humanidade
Tell es-Sultan é o quarto sítio palestino a ser inscrito na lista do património mundial da UNESCO, depois da Igreja da Natividade e Rota de Peregrinação, em Belém (2012), da Paisagem Cultural de Oliveiras e Vinhas de Battir, a Sul de Jerusalém (2014), e da Cidade Velha de Al-Khalil/Hebron (2017).
A Cidade Velha de Hebron e a Mesquita de Ibrahimi / Túmulo dos Patriarcas foram inscritos na Lista do Património Mundial da UNESCO em 7 de Julho de 2017, mas foram reconhecidos como estando em perigo, devido à ocupação israelita, o que significa que o Comité do Património Mundial da UNESCO discutirá anualmente o seu caso. Em Portugal, a Assembleia da República congratulou-se com a decisão.
Também a Paisagem Cultural de Battir, a Sul de Jerusalém, foi inscrita na lista do Património da Humanidade em 2014 e logo classificada como estando em risco, situação que ainda se mantém.
A Igreja da Natividade e a Rota da Peregrinação estiveram classificadas como estando em risco entre 2012 e 2019.
A Palestina tem ainda quatro inscrições na lista do Património Imaterial da Humanidade.
Em 2008 foi inscrito o Hikaye palestino, uma forma de narrativa oral exclusivamente feminina.
Em 2021 entrou para a lista a Arte do bordado na Palestina.
Ainda em 2021, a Palestina e mais 15 países árabes viram inscrita a Caligrafia árabe.
Em 2022, a Tamareira foi inscrita pela Palestina e mais 14 países árabes.