Trump afasta-se da solução de dois Estados. Palestinos condenam, direita israelita aplaude

Tornou-se clara uma mudança na política dos EUA, afastando-se do apoio à solução de dois Estados, Palestina e Israel, por ocasião da reunião realizada na quarta-feira, 15 de Fevereiro, entre o presidente dos EUA, Donald Trump, e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu.
Segundo informa a agência palestina Ma'an, já no dia anterior um alto funcionário dos EUA afirmara que o país não estava necessariamente comprometido com a política de dois Estados como única maneira de resolver o «conflito israelo-palestino». Trump, respondendo a uma pergunta sobre a matéria na conferência de imprensa conjunta com Netanyahu, declarou: «Eu olho para os dois Estados e um Estado, e gosto do que ambas as partes gostarem.»
Embora o apoio a Israel seja um dos pilares inamovíveis da política de todas as administrações estado-unidenses, esta posição rompe com a política oficialmente declarada desde há décadas, favorável à solução dos dois Estados. Também a comunidade internacional tem afirmado apoiar uma solução baseada na criação de dois Estados, como prevêem as resoluções da ONU e, designadamente, os Acordos de Oslo entre Isrel e a OLP.
A confirmar-se o sentido destas declarações, tratar-se-ia de uma viragem num sentido muito negativo para a realização das aspirações nacionais do povo palestino. Naturalmente, suscitou reacções quer de apoio, do lado israelita, quer de repúdio, do lado palestino.
Políticos israelitas de direita não demoraram a aplaudir o encontro entre Trump e Netanyahu. Naftali Bennett, ministro da Educação e líder do partido Lar Judaico, de extrema-direita e pró-colonização, declarou: «Os palestinos já têm dois Estados — Gaza e a Jordânia. Não há necessidade de um terceiro.»
O ministro da Segurança Pública, Gilad Erdan, do partido Likud, afirmou que a posição do Trump «prova que estamos numa nova era. As posições do presidente indicam um entendimento de que a solução de dois Estados não é a única solução para alcançar a paz e que chegou o tempo de inverter a equação e exercer pressão sobre o lado palestino».
Outros ministros, como o ministro da Cultura, Miri Regev, e o ministro da Ciência e Tecnologia, Ofir Akunis, expressaram o seu alívio por o governo israelita já não ter de manter a aparência de apoiar a solução de dois Estados.
Do lado palestino, as reacções foram diametralmente opostas. O embaixador palestino na ONU, Riyad Mansou, divulgou um comunicado dizendo que a paz não seria alcançada «sem determinar a base do processo de paz» e destacando que a maioria da comunidade internacional continua a apoiar a solução de dois Estados.
Por seu lado, o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, declarou que a solução de dois Estados já era um compromisso duro e que a alternativa proposta por Israel equivaleria ao apartheid. «Ao contrário do plano de Netanyahu de um só Estado e dois sistemas, o apartheid, a única alternativa a dois Estados soberanos e democráticos nas fronteiras de 1967 é um Estado laico e democrático único, com direitos iguais para todos, cristãos, muçulmanos e judeus, em toda a Palestina histórica.»
O porta-voz do Movimento Islâmico de Resistência (Hamas), Hazem Qasim, pediu à Autoridade Palestina para abandonar as negociações com Israel e a convicção de que os EUA podem agir como um mediador no processo de paz.
Do lado da Fatah, o dirigente Rafaat Elayyan divulgou uma declaração dizendo que Trump tinha violado o direito internacional e todos os acordos anteriores entre os palestinos e israelitas para alcançar a paz na região. Exortou os dirigentes palestinos a adoptarem uma «nova estratégia», baseada na unificação, susceptível de acabar com o conflito nacional dentro da Palestina.
A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) declarou num comunicado que a reunião Trump-Netanyahu marca «um claro ponto de viragem para liquidar os objectivos palestinos» e que esta mudança de política representa uma violação do direito internacional. A FPLP destacou cinco passos para enfrentar a recente mudança de política dos EUA e de Israel: declarar uma posição palestina unificada rejeitando a política EUA-Israel; retirar o reconhecimento de Israel pelos palestinos; realizar uma reunião urgente entre todas as forças nacionais e islâmicas para preparar uma nova estratégia nacional para enfrentar os próximos desafios e proteger os direitos nacionais; acabar imediatamente com o conflito nacional palestino e continuar os esforços para realizar uma sessão do Conselho Nacional Palestino («parlamento» da OLP); cessar a «criação de ilusões» pela AP no cenário internacional e retirar-se dos Acordos de Oslo.
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