Sheikh Jarrah: assédio e violência contra palestinos não pararam
Dois membros extremistas do Knesset, o parlamento israelita, invadiram o bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, na terça-feira à tarde, para pressionar três famílias palestinas a abandonar as suas casas.
Os dois deputados, Bezalel Smotrich e Orit Strock do Partido do Sionismo Religioso, de extrema-direita, que estavam acompanhados por colonos judeus e protegidos por agentes da polícia israelita, ameaçaram as famílias Diab, Al Kurd e Qasim de serem expulsas à força das suas casas no prazo de um mês.
Os habitantes locais reuniram-se e protegeram as famílias palestinas contra os intrusos.
Smotrich tem um historial de incitamento racista contra os palestinos. Encontrou-se com os colonos israelitas que tinham ocupado parte da casa da família Al Kurd antes de receberem ordem da polícia para sair.
Os residentes de Sheikh Jarrah têm sido sujeitos a assédio regular por parte de deputados extremistas e colonos judeus.
Colonos atacam palestinos com protecção da polícia israelita
Na segunda-feira à noite, colonos israelitas, protegidos pela polícia, atiraram pedras a casas palestinas no bairro de Sheikh Jarrah, incendiaram uma casa pertencente à família al-Kassem e obstruíram as tentativas de apagar os fogos.
Os colonos atiraram cadeiras, pedras e fogo de artifício contra as casas dos residentes e puseram a circular nas redes sociais vídeos do ataque.
Enquanto os colonos realizavam o seu ataque, os agentes da polícia abriram fogo contra os residentes e utilizaram granadas de atordoamento e água fétida para os atacar, ferindo pelo menos 20 palestinos e detendo outros dois.
O Crescente Vermelho Palestino disse que os seus médicos trataram 20 feridos, incluindo um idoso que foi severamente espancado e levado para um hospital para tratamento urgente. Acrescentou que os colonos atacaram uma das suas ambulâncias com pedras enquanto a polícia pulverizava directamente outra ambulância com água fétida.
O Ministro dos Assuntos de Jerusalém Fadi al-Hidmi alertou para a grave escalada, enquanto a comunidade internacional permanece em silêncio sobre os depejos de famílias palestinas de Sheikh Jarrah.
«O que está a acontecer é um crime destinado a desenraizar à força os residentes palestinos das suas casas no bairro», acrescentou al-Himdi ao apelar à comunidade internacional para que intervenha sem mais delongas no sentido de pôr fim às expulsões forçadas.
Uma limpeza étnica em curso
Os palestinos consideram que a decisão das autoridades de ocupação israelitas de despejar as famílias das suas casas em benefício dos grupos de colonos é tem motivação política e surge como parte dos esforços de Israel para limpar etnicamente os palestinos de Jerusalém.
Desde a ocupação de Jerusalém por Israel em Junho de 1967, as organizações de colonos israelitas, nomeadamente a Elad e a Ateret Cohanim, reivindicam a posse de propriedades palestinas em Jerusalém.
Com o apoio do Estado israelita, do poder judicial e dos serviços de segurança, estas organizações têm trabalhado no controlo da propriedade palestina e na sua conversão em postos avançados coloniais como parte dos esforços para assegurar uma maioria judaica na cidade.
Estão também empenhadas na gestão de sítios arqueológicos em Silwan e na supervisão da sua escavação. Este esquema envolve a construção de novos locais turísticos coloniais, tais como a «Cidade de David», para reforçar a narrativa sionista.
Entretanto, prosseguem as demolições em al-Issawiya
As autoridades de ocupação israelitas demoliram ontem, quarta-feira, uma casa palestina no bairro de al-Issawiya, em Jerusalém Oriental.
Funcionários municipais, escoltados pela polícia, demoliram a casa de Mousa Haloulou.
Na terça-feira, Abdel-Rahman Obaid, um outro residente palestino do mesmo bairro, foi forçado a demolir a sua casa pelos seus próprios meios para evitar ter de pagar elevados custos e multas.
A intimação do município israelita de Jerusalém Ocidental, que invocava a construção não autorizada como pretexto, dava a Obaid até ontem um prazo para demolir a casa ou então o município iria demoli-la e obrigá-lo a pagar os custos, que ascendiam a 400 mil Shekels (aproximadamente 122 mil dólares).
Muitos palestinos da cidade ocupada embarcam na demolição das suas próprias casas para evitar pagar os elevados custos que lhes serão impostos pelo município israelita.
Palestinos de Jerusalém Oriental vítimas de apartheid
Utilizando o pretexto de construção ilegal, Israel demole regularmente casas de propriedade palestina para restringir a expansão palestina em Jerusalém ocupada.
Enquanto isso, o município e o governo constroem dezenas de milhares de unidades habitacionais para judeus, em colonatos ilegais em Jerusalém Oriental, com o objectivo de alterar o equilíbrio demográfico em favor dos colonos judeus na cidade ocupada.
Em 1980, num acto internacionalmente condenado, Israel anexou Jerusalém Oriental, que tinha ocupado militarmente em 1967, mas não concedeu aos seus habitantes palestinos direitos de cidadania; em vez disso, são classificados apenas como «residentes» cujas licenças podem ser revogadas discricionariamente.
São também discriminados em todos os aspectos da vida, incluindo habitação, emprego e serviços, e não têm acesso aos serviços na Cisjordânia devido à construção do muro de separação de Israel.