Sério agravamento do bloqueio a Gaza: Israel fecha único ponto de passagem de mercadorias e reduz zona de pesca
Israel anunciou o encerramento, a partir de terça-feira 10 de Julho, do posto de Kerem Shalom/Karam Abu Salem, a única passagem de mercadorias para a Faixa de Gaza.
Esta medida vai apertar ainda mais o bloqueio imposto há mais de onze anos ao pequeno enclave palestino. A partir de agora não é permitida nenhuma exportação da Faixa de Gaza e apenas aí podem entrar produtos e equipamentos «humanitários», o que, segundo o exército israelita, inclui alimentos e medicamentos. Será afectada a importação de mercadorias, principalmente materiais de construção (desesperadamente necessários nomeadamente para reparar os danos causados pelas sucessivas agressões militares israelitas) mas também roupa e produtos químicos, e será igualmente interrompida a escassa exportação de produtos agrícolas de Gaza para o mundo exterior.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse ontem no Knesset (parlamento) que a medida é uma retaliação contra o lançamento de papagaios-de-papel incendiários a partir do território palestino. «Em acordo com o ministro da Defesa, vamos agir com mão pesada contra o regime do Hamas na Faixa de Gaza», afirmou.
Também o ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, declarou aos deputados que Israel não hesitaria em tomar novas medidas se houvesse uma escalada, ameaçando com «um preço muito mais pesado do que o da Operação Margem Protectora», referindo-se à agressão israelita de 2014, que provocou a morte de mais de 2250 palestinos de Gaza.
Os pescadores de Gaza também ficarão limitados a pescar apenas até seis milhas náuticas da costa, em vez das nove milhas anteriormente autorizadas — embora os Acordos de Oslo de 1993 previssem uma zona de pesca até 20 milhas náuticas da costa.
A entrada em vigor das medidas anunciadas por Israel vai certamente acarretar um acentuado agravamento da situação na Faixa de Gaza, com apenas 365 km2, onde dois milhões de pessoas vivem uma verdadeira catástrofe humanitária, com um nível de desemprego dos mais altos do mundo, fornecimento de electricidade apenas durante quatro horas por dia, sem tratamento de esgotos e, portanto, sem água canalizada potável por contaminação dos aquíferos.
O encerramento do ponto de passagem foi criticado pelo Hamas, quer governa a Faixa de Gaza, como «um novo crime contra a humanidade» que viola o direito internacional. O movimento Jihad Islâmica Palestina considerou a medida israelita uma «declaração de guerra», mas afirmou que isso não iria quebrar a resolução do povo palestino. A Frente Popular de Libertação da Palestina, por seu lado, apelou a enfrentar as medidas do ocupante e alertou para os perigos de uma escalada.
O governo israelita ordenou à Autoridade Palestina, que governa a Cisjordânia, que pague 1,4 milhões de dólares em indemnização pelos danos causados pelos papagaios-de-papel. O ministro da Segurança Pública israelita, Gilad Erdan, sugeriu no mês passado que os palestinos que lançam papagaios-de-papel da Faixa de Gaza deveriam ser mortos.
Israel classifica de «terrorismo incendiário» os papagaios-de-papel lançados da Faixa de Gaza durante a Grande Marcha de Retorno, que têm provocado incêndios no Sul de Israel, mas na realidade trata-se de uma bem irrisória arma em comparação com os aviões e tanques israelitas.