Selecção argentina cancela jogo amigável com Israel: «Um golo pela liberdade, justiça e igualdade»

Cartaz na cidade de Hebron, na Cisjordânia ocupada, apelando a Messi para não participar no jogo amigável Argentina-Israel de preparação para o Mundial
A Associação Argentina de Futebol (AFA) decidiu cancelar o jogo amigável marcado para sábado contra Israel, que deveria realizar-se em Jerusalém. Depois de uma pressão crescente vinda de todo o mundo, pedindo à Argentina para boicotar a partida, Messi e os seus companheiros de equipa já não irão a Israel. Foram invocadas «preocupações de segurança» como motivo do cancelamento de última hora.
O cancelamento do jogo ocorre após meses de uma campanha do movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) que começou na Argentina. Sindicatos argentinos e as Madres de la Plaza de Mayo juntaram-se ao apelo, e na semana passada houve uma manifestação diante da Associação Argentina de Futebol, em Buenos Aires. 
Após a notícia do cancelamento, o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, telefonou ao presidente argentino, Mauricio Macri, pedindo-lhe para intervir, mas Macri respondeu que não tinha autoridade sobre a decisão. 
Segundo fontes citadas pela agência Wafa, Israel iria pagar 3 milhões de dólares à selecção argentina para jogar a partida como parte das «celebrações» dos seus 70 anos. 
Inicialmente previsto para Haifa, o governo israelita mudou o jogo para Jerusalém. 
Jibril Rjoub, presidente da Associação de Futebol Palestina, considerou a decisão de Israel de mudar o jogo de Haifa para Jerusalém como uma tentativa de utilizar o desporto para fins políticos, ligando-o à celebração dos 70 anos de Israel, aos 51 anos da ocupação da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental e à transferência da embaixada dos EUA para Jerusalém. «Não foi uma vitória política», declarou. «Foi uma vitória desportiva. Israel usou o desporto como ferramenta para fins políticos e por isso fracassou.»
O cancelamento do jogo «amigável» é um incentivo à campanha Red Card Israel (Cartão Vermelho Israel), que pediu à FIFA a expulsão de Israel devido a violações contra o futebol palestino e ao seu desrespeito pelos estatutos da FIFA, afirmou a campanha palestina BDS. 
Saeb Erekat, secretário-geral do Comité Executivo da Organização de Libertação da Palestina (OLP), agradeceu ao povo e à selecção argentina o facto de terem escolhido «respeitar os princípios do direito internacional e recusado ceder a qualquer forma de táticas de intimidação e extorsão» do governo israelita.
Numa mensagem de vídeo, também a equipa de futebol de Nabi Saleh, a aldeia natal de Ahed Tamimi, na Cisjordânia ocupada por Israel, agradeceu à Argentina e a Lionel Messi: «Vocês marcaram um golo pela liberdade, justiça e igualdade». 
Por seu lado, Ayman Odeh, chefe da Lista Conjunta (coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel) no parlamento israelita, declarou: «O governo de Netanyahu pode estar a ganhar Trump, mas está a perder o mundo. Não se pode simplesmente continuar a desfrutar os jogos enquanto os direitos de milhões de palestinos estão a ser espezinhados.»
Naturalmente diferente foi a reacção da direita sionista em Israel. O ministro da Defesa, Avigdor Lieberman, lamentou a suspensão do jogo, provocada por «incitadores que odeiam Israel» e «simpatizantes anti-semitas do terrorismo». Figuras políticas de topo em Israel pediram a Netanyahu que sancionasse Jibril Rajoub e revogasse a sua autorização de entrada em Israel.
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