Preso político palestino Khader Adnan morre após 87 dias de greve de fome

O preso político palestino Khader Adnan, que se tornou um ícone da resistência palestina às políticas de detenção israelitas, morreu na prisão na madrugada desta terça-feira, após 87 dias de greve de fome em protesto contra a sua detenção administrativa.

Khader Adnan, da cidade de Arraba, a sul de Jenin, tinha 44 anos. Era casado com Randa Musa e pai de nove filhos. Foi detido em 5 de Fevereiro e entrou imediatamente em greve de fome ilimitada em protesto contra a sua detenção ilegal.

Os Serviços Prisionais de Israel (SPI) informaram que Adnan foi encontrado inconsciente na sua cela de isolamento na prisão de Ramleh, tendo sido declarado morto no hospital Assaf Harofeh.

Segundo a Samidoun – Rede de Solidariedade com os Presos Palestinos, Adnan recusou-se a interromper a greve, apesar da imensa pressão exercida para o fazer. Quando as forças de ocupação o acusaram de ser membro da Jihad Islâmica e de fazer discursos políticos ("incitamento") perante os seus tribunais militares, recusou-se a terminar a greve.

Ainda segundo a Samidoun, a administração prisional israelita recusou-se a transferi-lo para um hospital civil e recusou a sua libertação sob fiança na semana passada, declarando que eram necessárias mais informações sobre o seu estado de saúde.

Adnan foi preso 12 vezes durante a sua vida e fez várias greves de fome em protesto conta a medida de detenção administrativa que permite a privação de liberdade sem julgamento ou acusação por períodos indefinidamente prorrogáveis. Em 2015 esteve 55 dias em greve de fome.

De acordo com a Sociedade dos Presos Palestinos, Adnan é o primeiro preso a morrer durante uma greve de fome individual. Outros seis morreram na prisão desde 1970, mas durante greves de fome colectivas.

Com a morte de Adnan, eleva-se a 236 o número de palestinos que morreram desde 1967, nas prisões israelitas, dos quais 75 morreram em consequência de negligência médica.

Dedos apontados a Israel

O Ministério dos Negócios Estrangeiros e Expatriados da Palestina considerou hoje o governo de ocupação israelita totalmente responsável pela morte de Khader Adnan, que considerou «um crime hediondo», e apelou à comissão internacional de inquérito para que inclua as circunstâncias da morte de Adnan na prisão israelita na sua investigação dos crimes cometidos por Israel contra o povo palestino, afirmando que apresentará o processo deste crime ao Tribunal Penal Internacional.

O Primeiro-Ministro Mohammad Shtayyeh acusou ainda Israel de assassinar deliberadamente Adnan, rejeitando o seu pedido de libertação, negligenciando-o do ponto de vista médico e mantendo-o na sua cela apesar da gravidade do seu estado de saúde.

O secretário-geral do Comité Executivo da Organização para a Libertação da Palestina considera as autoridades israelitas «totalmente responsáveis» pela morte de Adnan, atribuindo-a a «negligência e detenção forçada».

Jamal Huwail, um dirigente da Fatah na cidade de Jenin, considera que «o que aconteceu a Khader Adnan é uma implementação das políticas do actual governo israelita, especialmente de Itamar Ben-Gvir, que é responsável pelas prisões e que tornou as coisas mais difíceis para os nossos presos. Com o assassinato de Khader Adnan, a ocupação tentou enviar uma mensagem - uma mensagem de dissuasão - aos nossos heróicos presos». Huwail afirmou que os próximos dias «serão preenchidos com uma resposta a esta ocupação e à forma como está a tratar os nossos presos».

O porta-voz do Hamas, Hazem Qasem, afirma que «Este crime representa uma execução a sangue-frio levada a cabo pelos Serviços Prisionais contra o preso mártir Khader Adnan. O caminho da revolução e da resistência vai intensificar-se em toda a Palestina em resposta a este crime e a todos os crimes da ocupação israelita».

Mustafa Barghouti, antigo ministro da informação palestino e secretário-geral do partido político Iniciativa Nacional Palestina, considera que a morte de Adnan é uma coisa muito perigosa. Em declarações à Al Jazeera, Barghouti disse que o governo israelita e o seu ministro da segurança nacional, Itamar Ben-Gvir, «são pessoalmente responsáveis por este acto de assassinato».

«Chamo-lhe um acto de assassinato porque o governo israelita e os seus tribunais militares sabiam muito bem que uma pessoa em greve de fome há 87 dias, que não tinha recebido qualquer tipo de cuidados médicos, podia morrer a qualquer momento. E foi exactamente isso que aconteceu», afirmou Barghouti

Os Médicos para os Direitos Humanos de Israel, citados pela Al Jazeera, revelam que um médico que visitou Adnan há vários dias escreveu um parecer médico descrevendo o risco imediato para a sua vida, mas que essas súplicas foram ignoradas. «Khader Adnan escolheu a greve de fome como último recurso, um meio não violento de protesto contra a opressão de si próprio e do seu povo», afirmou o grupo num comunicado.

Família reclama devolução do corpo

Randa Musa, a mulher de Adnan exigiu que Israel entregasse o corpo do seu marido e não o submetesse a uma autópsia pelas autoridades israelitas.

O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em Israel e nos Territórios Ocupados secundou o apelo de Randa Musa: «Apelamos às autoridades israelitas para que libertem o corpo do Sr. Adnan, para que a sua família possa fazer o seu luto e organizar um enterro digno de acordo com os seus costumes e crenças».

A organização visitou o detido várias vezes desde a sua detenção em Fevereiro para monitorizar o seu estado.

Israel tem um longo historial de retenção dos corpos de palestinos mortos pelas forças de ocupação ou nas prisões, quer como forma de punição sobre as famílias, quer para usar como moeda de troca em possíveis negociações. Presentemente, Israel continua a reter os corpos de onze palestinos que morreram nas suas prisões, sem contar com Khader Adnan.

Reacção palestina

Pouco depois do anúncio da sua morte, os grupos da resistência palestina na Faixa de Gaza dispararam uma salva de foguetes contra o Sul de Israel.

Segundo fontes israelitas, na Cisjordânia, três carros pertencentes a colonos foram atingidos por tiros, tendo um deles ficado ligeiramente ferido.

Em todos os territórios palestinos ocupados há hoje uma greve geral em luto pela morte de Khader Adnan.
 

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