Por que a RTP não deve estar em Tel Aviv: 3. Israel, factor de desestabilização no Médio Oriente

Em 1948, uma nova era se abre na região do Levante. É fundado o Estado de Israel, e desde o momento da sua criação ameaçará a estabilidade e a paz na região.

A fundação de Israel, descrita no primeiro artigo desta série, é desde logo uma operação belicista. Israel nasce com a ocupação de 78% da Palestina histórica (quando o plano de partição da ONU lhe atribuía 55%) e com a limpeza étnica de mais de metade da população palestina autóctone.

O carácter colonial do empreendimento sionista em terra árabe gozará da simpatia e apoio político e militar das potências ocidentais. Israel retribui assumindo-se como ponta-de-lança dos interesses dessas mesmas potências na região.

Em 1956, Israel junta-se à França e Inglaterra na Guerra do Suez, contra a recente nacionalização do Canal de Suez pelo presidente egípcio Nasser, e envia os seus soldados para o Egipto (não sem antes provocar uma onda de terror na Faixa de Gaza — então sob administração egípcia — onde massacra palestinos em Khan Yunis e Rafah).

Esta aliança traduzir-se-á num apoio militar avultado pelos parceiros franceses, com a ajuda dos quais Israel se veio a dotar da arma nuclear. É na década de 1950 que o complexo nuclear de Dimona é construído com ajuda primordial francesa e, mais tarde, com cooperação norte-americana.

Apesar da posição oficial israelita de não o confirmar nem desmentir, amigos e inimigos dão por assente o facto de Israel possuir a arma nuclear. Israel é um Estado fora-da-lei em matéria de armamento nuclear, não tendo subscrito o Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares. Nesta matéria, a complacência ou conivência da comunidade internacional para com Israel contrasta radicalmente com a pressão e sanções internacionais exercidas sobre o Irão.

Em 1967, na chamada Guerra dos Seis Dias, Israel desencadeou uma «operação preventiva» contra os países árabes vizinhos e ocupou a parte do território da Palestina histórica que não ocupara em 1948 (Jerusalém Oriental, Cisjordânia e Faixa de Gaza), e ainda a Península do Sinai egípcia e os Montes Golã sírios.

Em 1973, o Egipto e a Síria lançam operações militares (com apoio de vários países árabes) com vista à recuperação dos seus territórios ocupados seis anos antes. Após dificuldades iniciais em rechaçar a ofensiva árabe, Israel alcança a supremacia militar graças a um maciço fornecimento de armas pelos Estados Unidos.

O apoio americano, que bloqueia a restituição de territórios pertencentes à Síria e ao Egipto, aprofunda a maior aliança militar com um país estrangeiro da história dos Estados Unidos.

Desde a década de 1970 até hoje, nenhum país recebeu somas americanas tão elevadas como Israel: 112 000 milhões de dólares (223 700 milhões tendo em conta a inflação), um valor astronómico destinado exclusivamente ao campo militar.

Parte dessas verbas são desde logo postas em acção em 1978, quando Israel invade o Líbano na operação «Rio Litani».

Em 1981, Israel bombardeia o reactor nuclear iraquiano, apesar de o Iraque ser signatário do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares e de o reactor ser construído com assistência francesa e fiscalizado pela Agência Internacional de Energia Atómica.

O exército israelita nunca se retira totalmente do Líbano, e em 1982, na operação «Paz na Galileia», ocupa todo o Sul do país, até à capital, Beirute. O objectivo é expulsar do país a Organização de Libertação da Palestina.

É neste contexto que se dá o massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, efectuado por milícias falangistas cristãs apoiadas por Israel, cujas forças militares cercam e iluminam os campos durante a matança.

Israel ocupará o Líbano e continuará armando o Exército do Sul do Líbano até ao ano 2000.

Em 1985, Israel bombardeia o edifício da OLP em Tunes (Tunísia), para onde a direcção da organização palestina fora forçada a mudar-se depois do cerco de Beirute em 1982.

Em 2006, Israel volta a invadir o Líbano, numa guerra que se prolonga por um mês.

Em 2007, a aviação israelita bombardeia e destrói um alegado reactor nuclear desenvolvido pela Síria.

Em 2010, Israel pratica um acto de pirataria ao atacar em águas internacionais a Flotilha da Liberdade, em particular o navio Mavi Marmara, que transportava cerca de 10 toneladas de ajuda humanitária para Gaza. O ataque resultou na execução de nove activistas que seguiam a bordo do navio.

Desde 2011, Israel promoveu uma política de bombardeamentos aéreos na Síria, prestando simultaneamente apoio militar e hospitalar a grupos terroristas da frente Al-Nusra nos territórios próximos dos Montes Golã ocupados.

Os mais de 200 bombardeamentos israelitas (desde 2016) à República Árabe Síria produzem-se invariavelmente a partir do espaço aéreo libanês, que é constantemente violado pela aviação israelita. Um exemplo recente foi o ataque aéreo às redondezas de Damasco no passado dia de Natal.

Israel, que desde há décadas viola a soberania e ocupa ilegalmente território de países vizinhos, fazendo até alarde dos ataques aéreos à Síria, infringe grosseiramente os valores de paz e intercâmbio cultural que deveriam presidir ao Festival Eurovisão da Canção. Israel não merece acolher o Festival.

O MPPM renova o apelo à RTP para que não participe no Festival em Tel Aviv, não participe numa operação de branqueamento e normalização da política belicista e agressiva de Israel, a única potência nuclear do Médio Oriente.

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