Poluição da água é principal causa da mortalidade infantil em Gaza, revela estudo
As doenças causadas pela poluição da água são uma das principais causas de mortalidade infantil na Faixa de Gaza, indica um estudo da citado pelo jornal israelita Haaretz.
O estudo mostra que a poluição da água é responsável por mais de um quarto das doenças em Gaza e que até há quatro anos mais de 12% das mortes de crianças estavam ligadas a distúrbios gastrointestinais devidos à poluição da água. Desde então, esses números não pararam de crescer. O colapso das infraestruturas da água conduziu a um aumento acentuado de micróbios e vírus tais como rotavírus, cólera e salmonela, afirma o estudo, produzido por três cientistas do think tank estado-unidense RAND Corporation.
A crise da água em Gaza é antiga e é de natureza política: deve-se fundamentalmente à ocupação e ao bloqueio a que o território está sujeito por parte de Israel.
Os habitantes da Faixa de Gaza são actualmente mais de 2 milhões, cerca de 70% dos quais refugiados provenientes de localidades no actual Estado de Israel, de onde foram expulsos na campanha de limpeza étnica que acompanhou a formação do Estado sionista. No entanto, esses 2 milhões dispõem apenas da mesma parte do aquífero costeiro, com a mesma capacidade hídrica, de que se serviam os 80 mil habitantes de antes de 1948.
Para mais, antes da retirada de Gaza, em 2005, dos colonatos israelitas, a maioria dos quais agrícolas, estes usavam grandes quantidades de água, e a bombagem excessiva não era compensada com transferências de água vinda de Israel.
A política de Israel tem sido considerar a Faixa de Gaza como uma entidade hídrica autónoma, o que foi ainda agravado pelos Acordos de Oslo, que determinaram que o controlo dos recursos hídricos permaneceria nas mãos de Israel até a implementação da solução de estatuto final — que nunca chegou. Na realidade, o mínimo exigível seria a transferência de água de Israel para Gaza, quanto mais não seja como compensação parcial pelas grandes quantidades de água que Israel bombeou e ainda bombeia na Cisjordânia ocupada, para os cidadãos israelitas e os colonatos (os israelitas dispõem para uso doméstico de quatro vezes mais água do que os palestinos).
O excesso de bombagem provoca um abaixamento do nível dos aquíferos, com a consequente invasão de água salgada marinha; além disso, os aquíferos são contaminados por esgotos não tratados. Deste modo, na Faixa de Gaza hoje em dia 97% da água para onsumo humano não é potável segundo nenhum padrão internacional reconhecido.
A falta de água e a insuficiência de instações sanitárias nas escolas significa que a própria presença aí das crianças as coloca em risco de contrair doenças gastrointestinais.
Enquanto nos países ocidentais, diz o estudo, o custo médio per capita do uso de água é de 0,7% do salário mensal, em Gaza a compra de água potável representaria um terço do salário. Com uma economia devastada e um desemprego superior a 57%, a maioria dos habitantes não podem fazê-lo e são forçados a consumir mesmo água da torneira — no único dia da semana e durante as poucas horas em que há água.
O bloqueio a que está sujeito o pequeno território palestino, agravado por sucessivas guerras lançadas por Israel, são um factor de primeira ordem da degradação das infraestruturas de água, esgotos e electricidade. Invocando razões de segurança, Israel entrava a entrada em Gaza de bombas para instalações de tratamento de esgotos, peças sobresselentes, tubos, etc., impedindo assim a reabilitação e expansão das infraestruturas. Por essa razão, a maior parte dos esgotos são lançados ao mar sem tratamento.
Até há pouco tempo, o risco de um surto de cólera em Gaza, devido à poluição da água, era contrariado pelo facto de os habitantes estarem vacinados. A UNRWA (agência da ONU de assistência aos refugiados) vacinava regularmente 1,3 milhões de habitantes de Gaza e realizava 4 milhões de consultas médicas. Porém, afirma uma das autoras do estudo, o corte do financiamento à UNRWA pelo governo de Trump significa que agora uma epidemia de cólera é apenas uma questão de tempo.
Terça, 16 Outubro, 2018 - 23:50