Polícia israelita assina agressão a preso palestino marcando-o com a estrela de David

Um homem palestino, detido pela polícia israelita, foi brutamente espancado e marcado no rosto com o símbolo judaico da estrela de David, segundo relato do seu defensor oficioso divulgada pela imprensa de Israel, trazendo novamente à actualidade a questão da brutalidade policial contra palestinos e da sua impunidade.

Arwa Sheikh Ali, de 22 anos, que foi detido na quarta-feira 16 de Agosto no campo de refugiados de Shuafat, em Jerusalém Oriental, alegadamente no âmbito de uma investigação sobre tráfico de droga, diz que os polícias o vendaram e depois o espancaram em todo o corpo. Como estava vendado não viu como lhe imprimiram a estrela de David na face.

O seu advogado apresentou queixa a um tribunal distrital de Jerusalém na quinta-feira alegando que era «um caso grave de violência intencional e humilhação de um detido pela polícia» e exigiu uma investigação policial imediata.

Vadim Shub, chefe do gabinete do defensor público de Jerusalém, que representa Sheikh Ali, disse numa entrevista: «A marca no seu rosto é a ponta do iceberg. […] Queremos levantar a questão da violência policial». E acrescentou: «Enquanto país respeitador da lei, não devemos tolerar o fenómeno da brutalidade policial. Neste caso, a natureza dos ferimentos levanta fortes suspeitas de que tenham sido motivados por razões raciais.»

As explicações da polícia e o «horror» do juiz

O departamento de polícia alegou que Sheikh Ali «resistiu à prisão, atacando violentamente e pontapeando a polícia que respondeu com “força razoável” para o subjugar», o que é contestado por Shub que faz notar o número de policias envolvidos na detenção e a natureza das marcas e os hematomas no seu corpo.

Pelo menos 16 agentes estiveram envolvidos na detenção de Ali, mas nenhum deles tinha as suas câmaras corporais ligadas, segundo o site de notícias israelita Ynet. Os meios de comunicação social israelitas questionaram por que razão não havia nenhum vídeo de câmara corporal. De acordo com a Associação para os Direitos Civis em Israel, uma organização sem fins lucrativos, um regulamento da polícia de 2018 determina que os agentes devem ligar as câmaras corporais em todas as interacções policiais.

A polícia nega intencionalidade na marcação da estrela de David na face de Sheik Ali, sugerindo que as marcas foram «presumivelmente feitas por um artigo de vestuário usado por um dos agentes da polícia», ou seja, pelos atacadores de uma bota, mas não explicou como é que as marcas de uma bota da polícia apareciam na cara do detido. Aliás, na fotografia de uma bota divulgada pela polícia é impossível detectar um padrão que se assemelhe a uma estrela de David.

A explicação também não convence Avner Rosengarten, fundador do Instituto de Ciência Forense de Jerusalém, que disse que parecia improvável que os atacadores tivessem causado as marcas no rosto de Sheikh Ali, uma vez que os atacadores do sapato são flexíveis, sendo mais provável que as marcas tivessem sido feitas por um objecto duro.

Michael Sfard, um advogado israelita dos direitos humanos, disse que o caso que envolveu Sheikh Ali tinha uma ressonância especial por causa das marcas: «Há qualquer coisa neste caso que capta a atenção de pessoas que normalmente desviam o olhar quando se trata de brutalidade policial contra palestinos», afirmou. «É um abuso muito simbólico, que muitos judeus recordam ou com o qual têm uma ligação imediata, porque no passado os judeus foram vítimas de humilhações semelhantes».

Segundo o Times of Israel, o juiz que preside ao processo, Amir Shaked, terá manifestado o seu «horror» perante o incidente e remeteu o caso para o departamento de investigação interna da polícia.

Numa audiência em Jerusalém, no domingo, um juiz recusou o pedido do Ministério Público para manter Sheikh Ali detido por mais cinco dias e libertou-o sob fiança para prisão domiciliária, citando as provas dos ferimentos. «Pelas fotografias que me foram mostradas, parece que a detenção foi acompanhada de grande violência», declarou o juiz, Adi Bartal.

Impunidade assegurada

Os defensores dos direitos humanos afirmam que os ferimentos de Sheikh Ali são indicativos de um problema mais vasto de brutalidade por parte das forças israelitas, especialmente contra os palestinos.

Os grupos de defesa dos direitos humanos há muito que acusam as forças israelitas de matar palestinos em circunstâncias questionáveis. Dizem que Israel faz um mau trabalho ao processar e punir as suas forças em casos de irregularidades.

As investigações terminam frequentemente sem acusações ou com sentenças brandas e, em muitos casos, as testemunhas nem sequer são convocadas para interrogatório.

De acordo com um relatório do Controlador do Estado de Israel divulgado em Maio e citado pelo New York Times, em 2021, das 4401 queixas enviadas à unidade de investigação interna da polícia, apenas 1,2% resultaram em acusação.

Sawsan Zaher, um advogado que defende os direitos dos palestinos nos tribunais israelitas, disse que esses números indicam que existe «uma falha geral de aplicação da lei contra a brutalidade policial».

No mês passado, um tribunal israelita absolveu um agente da polícia de fronteira que era acusado de homicídio involuntário por negligência na morte de um palestino em Jerusalém Oriental. O tribunal decidiu que o agente estava a agir em legítima defesa quando abateu a tiro Iyad Khairi Hallak, de 32 anos, no dia 30 de Maio de 2020.

Hallak, que era autista, habitava o bairro Wad el-Joz, em Jerusalém Oriental ocupada e frequentava uma instituição para pessoas com necessidades especiais na mesma zona. Foi intimado a parar por agentes da polícia israelita, mas teve medo e não obedeceu à ordem. Então os agentes dispararam vários tiros e deixaram-no a sangrar até morrer. A polícia alegou inicialmente que suspeitava que ele tinha uma arma mas, mais tarde, confirmou que estava desarmado.


Imagem: Fotografia de Sheik Ali mostrando a estrela de David marcada na face


Fontes: Al Jazeera, Palestine Chronicle, New York Times
 

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