«A Paz é urgente, a Paz é inadiável!», por Jorge Cadima

Saudações a todos os participantes nesta importante iniciativa que, se já era importante quando foi convocada, ainda mais importante se tornou nos últimos dias, perante a barbárie que está a ser cometida contra a população da Faixa de Gaza.

Gostava de trazer, em nome do MPPM, duas ideias sobre o tema desta Mesa.

A primeira: Não há ideia mais importante para a Cultura e Educação pela Paz do que a expressa no primeiro Artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada pela Assembleia Geral da ONU. Esse Artigo 1.o começa assim: «Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos».

E como todas as acções contra civis são condenáveis, não podemos aceitar a ideia que nos querem vender de que há civis de primeira categoria e civis de segunda categoria. É urgente, é inadiável pôr imediatamente fim ao massacre que Israel está a cometer em Gaza e em toda a Palestina.

O que se está a passar é um castigo colectivo duma população inteira, é uma agressão em larga escala contra civis, que são crimes ao abrigo do Direito Internacional e do Direito Internacional Humanitário. Não podemos aceitar bombardeamentos que arrasam bairros, matam milhares e dizimam famílias inteiras. Não podemos aceitar o corte de acesso a água, electricidade, comida, assistência médica aos 2,3 milhões de habitantes de Gaza. Não podemos aceitar a intenção expressa por dirigentes israelitas de concretizar a expulsão e limpeza étnica da população palestina.

Não podemos aceitar que um cessar-fogo humanitário seja travado no Conselho de Segurança da ONU pelo veto dos Estados Unidos. E não podemos aceitar que quem defenda o cessar-fogo humanitário seja apelidado de amigo de terroristas, como aconteceu há poucos dias ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres.

Há 75 anos que Israel foi criado e é reconhecido como Estado. Mas a mesma Resolução da Assembleia Geral da ONU que previa a criação de Israel também previa a criação dum Estado árabe da Palestina. E apesar de décadas de promessas e de um sem-fim de resoluções das Nações Unidas, o Estado da Palestina nunca viu a luz do dia. Afinal, parece que não nascemos todos iguais em direitos.

É essa a questão de fundo e a chave para a resolução política da questão.

Isto traz-nos à segunda questão:

Todos os que aqui estamos defendemos soluções políticas, e não militares. Mas para que as soluções políticas sejam possíveis, é necessário que os processos políticos, as negociações e os acordos que se assinem sejam encarados com seriedade e com verdade.

Negociar implica sempre concessões de parte a parte. Há mais de 40 anos, os dirigentes palestinos aceitaram encetar um processo político, no quadro da ONU. Aceitaram a dolorosíssima concessão de que o futuro Estado da Palestina fosse constituído em apenas 22% do território histórico da Palestina. Mas todas as resoluções e acordos ficaram no papel. Israel nunca cumpriu aquilo a que estava obrigado pelos acordos. Pelo contrário, procedeu à criação de centenas de colonatos, onde vivem hoje cerca de 700 mil colonos israelitas, nesses 22% de território destinado ao Estado da Palestina. As concessões da parte palestina foram vistas apenas como ponto de partida para sempre novas exigências.

Coisa semelhante se passa com o acordo nuclear sobre o Irão, que foi assinado e aprovado no Conselho de Segurança da ONU. O Irão foi sujeito a inspecções pela Agência Internacional de Energia Atómica, que verificou o seu cumprimento. Mas quando chegou a vez de serem levantadas as sanções ao Irão, tal como previsto no acordo, Trump rasgou o acordo e deitou-o para o caixote do lixo. E rasgado permanece com Biden.

Rasgar ou violar sistematicamente os acordos assinados significa destruir os processos políticos e negociais. Significa que não vale a pena negociar, fazer concessões para chegar a acordos, já que estes não vão ser cumpridos. E minar os processos políticos e negociais significa inevitavelmente abrir caminho à violência e à guerra.

A Paz é urgente. A Paz é inadiável.

Mas para ser alcançada tem de assentar no reconhecimento da dignidade, igualdade e direitos de todos, e também na seriedade, na verdade e na coerência.

Quando não é assim, o resultado é o desastre a que assistimos hoje em todo o mundo, e desde logo na Palestina. Um desastre que é urgente parar, antes que seja tarde. Um desastre que ameaça conduzir-nos a todos para o abismo.

Viva a Paz!

A Palestina Vencerá!


Jorge Cadima é professor universitário e membro da Direcção Nacional do MPPM.


Este é o texto da intervenção de Jorge Cadima no Painel 2 – Educação e Cultura para a Paz do III Encontro pela Paz realizado em Vila Nova de Gaia em 28 de Outubro de 2023


Os artigos assinados publicados nesta secção, ainda que obrigatoriamente alinhados com os princípios e objectivos do MPPM, não exprimem necessariamente as posições oficiais do Movimento sobre as matérias abordadas, responsabilizando apenas os respectivos autores.


 

Jorge Cadima | A Paz é urgente, a Paz é inadiável!
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