«Para saber a natureza da NATO basta olhar para o Médio Oriente»

Por iniciativa do CPPC, coincidindo com a cimeira da NATO que estava a ter lugar em Vilnius, realizou-se ontem, quarta-feira, uma Tribuna Pública «Paz Sim! NATO Não!», no Largo José Saramago em Lisboa. Jorge Cadima interveio, em representação do MPPM, para denunciar as agressões da NATO, dos seus Estados membros e dos seus aliados regionais, no Médio Oriente.

A Tribuna foi moderada por Julie Neves, do CPPC.

Na primeira intervenção, Rita Janeiro (CPPC), apelou à assinatura da petição que reclama a adesão de Portugal ao Tratado de Proibição de Armas Nucleares.

Seguiu-se João Coelho (CGTP) que denunciou a escalada da corrida aso armamentos e a expansão da NATO a todo o mundo.

Interveio, depois, Jorge Cadima (MPPM).

NATO, instrumento de dominação dos Estados Unido no Médio Oriente

«Se alguém ainda tem dúvidas sobre a natureza da NATO – não é uma aliança defensiva e de paz, é uma máquina de guerra e agressão – basta olhar para o Médio Oriente e envolventes nos últimos 25 anos», disse Jorge Cadima a abrir a sua intervenção.

Recordou, então, a «sucessão de guerras e agressões da NATO ou das suas potências que destruíram a região do planeta mais rica em recursos energéticos»:

– Afeganistão, em 2001, seguido de 20 anos de ocupação;

– Iraque, em 2003, já depois da destruição da guerra de 1991 e de uma década de sanções mortíferas [aqui Jorge Cadima fez um parêntesis para recordar o papel de Durão Barroso na organização da cimeira das Lajes que lhe valeu a presidência da Comissão Europeia e, depois, a ida para a Goldman Sachs];

– Líbia, em 2011, enquanto NATO, que destruiu o país africano com maior índice de desenvolvimento humano e escancarou as portas ao tráfico de migrantes e refugiados que tornaram o Mediterrâneo num mar de morte;
– Síria, de 2011 até hoje, destruída por guerra e terramoto, mas sujeita a sanções; a ajuda humanitária da ONU foi confinada às zonas controladas pelos rebeldes; um terço do país está ocupado pelos Estados Unidos e Trump não escondia que estava lá pelo petróleo; e os Montes Golã estão há 56 anos ocupados por Israel

«Faz sentido», prosseguiu Cadima, «falar de Israel, o principal aliado da NATO na região, apadrinhado permanentemente pelos Estados Unidos, logo com impunidade assegurada.»

Recordou a agressão ao Líbano em 2006 e as sucessivas agressões armadas contra os palestinos, em Gaza em 2008, 2012, 2014, 2020 e agora o brutal assalto e destruição do campo de refugiados de Jenin. Este ano ascende já a 200 o número de palestinos mortos pelas forças armadas ou pelos colonos israelitas.

«Todas estas guerras e agressões da NATO, dos seus membros ou dos seus aliados têm características comuns:

– São conduzidas em violação do direito internacional;

– São justificadas com mentiras (não só as alegadas armas de destruição maciça de Sadam Hussein);

– Deixam para trás países destruídos e fragmentados e enormes tragédias humanas de mortos, feridos, desalojados e refugiados;

– Mostram continuidade dos políticos que as apoiam, sejam os democratas ou os republicanos, nos EUA, ou os conservadores ou social-democratas, na Europa, ou até os Verdes, na Alemanha;

– Mostram total repúdio pelas soluções políticas, pela diplomacia».

Como exemplo de promessas traídas, Jorge Cadima citou o acordo nuclear assinado com o Irão em 2015, em que os países signatários se comprometiam a levantar as sanções àquele país em troca do seu compromisso de só utilizar a energia nuclear para fins pacíficos – o que o Irão sempre afirmou pretender. Embora não houvesse qualquer evidência de que o Irão não estava a cumprir o acordo, as sanções nunca foram levantadas e o Estados Unidos retiraram-se unilateralmente em 2018.

Outro exemplo de promessas traídas é a da criação de um Estado nacional e soberano da Palestina, feita há 75 anos pela ONU mas nunca cumprida, como nunca o foram as inúmeras resoluções aprovadas desde então, que Israel viola impunemente. Enquanto a Palestina é vítima da violência e dos massacres de Israel, recebe apelos para não resistir, como se não houvesse um agressor e um agredido.

«O que se passa no Médio Oriente tem tudo que ver com a NATO que é o instrumento pelo qual os Estados Unidos procuram impor as velhas e novas colonizações do planeta para servir os interesses dos grandes senhores do dinheiro que destroem a vida de todos os povos. Paz, sim! NATO não!», concluiu Jorge Cadima.

«Para dar 2% do PIB para a defesa, o que vai ser cortado?»

Sofia Costa (CPPC) evocou a luta e resistência do povo sarauí.

Deolinda Machado (CPPC) referiu que a guerra contribui para o agravamento das desigualdades e recordou as posições do Papa Francisco.

Matilde Lima (Projecto Ruído) garantiu: os jovens querem a paz, não o que a guerra traz!

Encerrou as intervenções na Tribuna Ilda Figueiredo, presidente da Direcção Nacional do CPPC, que denunciou que a cimeira da NATO, a decorrer em Vilnius, aponta como objectivo o aumento das despesas militares, a escalada armamentista e a intensificação da política de confrontação.

Considerando que a NATO é um instrumento de agressão e dominação, frisou a hipocrisia de quem apregoa que a NATO defende a liberdade e a democracia quando um dos doze membros fundadores foi Portugal sujeito a uma ditadura fascista e colonial.

A NATO exige que os seus membros garantam, já no próximo ano, um mínimo de 2% do PIB para gastos militares. Considerando que, actualmente, o gasto de Portugal é de cerca de 1,5% do PIB, Ilda Figueiredo faz a pergunta pertinente: «o que é que vai ser cortado para canalizar recursos para os gastos militares?»

Print Friendly, PDF & Email
Share