Palestinos unem-se para combater ocupação e «normalização» com Israel

A Liderança Nacional Palestina Unificada para a Resistência Popular, recentemente constituída com o objectivo de liderar a resistência nos territórios ocupados contra a ocupação israelita e a normalização das relações entre os Estados árabes e Israel, lançou ontem o seu primeiro programa de acção.

A Liderança Unificada foi formada na sequência das decisões da histórica reunião dos líderes dos partidos e facções palestinos realizada em Ramallah e Beirute a 3 e 4 de Setembro com o objectivo de lançar «uma luta popular abrangente que não terminará enquanto não for alcançada a independência nacional do Estado da Palestina com Jerusalém como sua capital».

A cimeira palestina foi conduzida por vídeo-conferência pelo Presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, e contou com a participação de representantes de 16 partidos e facções, entre os quais o líder do Hamas, Ismail Haniyeh, e o Secretário-Geral da Jihad Islâmica, Ziyad al-Nakhalah.

«O nosso encontro ocorre numa fase muito perigosa, em que a nossa causa nacional enfrenta vários conluios e perigos», disse Abbas a abrir a reunião. «A fim de nos unirmos na trincheira do confronto e da resistência popular pacífica à ocupação, convido-vos aqui a concordarem na formação de uma liderança nacional.»

Falando a partir da embaixada palestina em Beirute, Haniyeh disse também que era importante ter uma estratégia unificada: «Temos de conseguir acabar com a divisão e construir uma posição palestina unificada», afirmou. «Nesta fase, o fracasso é proibido.»

Na reunião, terá havido acordo em que a única forma de derrubar o plano de anexação israelita e o «Acordo do Século» dos EUA é alcançar a unidade palestina e acabar com mais de 13 anos de divisão interna, principalmente entre o Hamas e a Fatah.

O Secretário-Geral do Comité Central da Fatah, Jibril Rajoub disse à televisão palestina que se está a tentar fixar uma data para as eleições gerais nos territórios palestinos até ao final do ano. «A realização das eleições presidenciais e parlamentares na Palestina é o principal ponto de entrada para alcançar uma reconciliação interna palestina», afirmou.

No seu primeiro comunicado, a Liderança Unificada apelou aos palestinos para considerarem o dia 15 de Setembro – o dia em que está prevista a cerimónia de assinatura dos acordos entre Israel e os EAU e Barém – como um dia de protestos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Neste dia, os palestinos irão levantar bandeiras palestinas «para expressar a sua recusa em levantar a bandeira da ocupação, do assassínio e do racismo em Abu Dhabi e Manama». Apelou também aos palestinos, árabes e muçulmanos para se manifestarem no mesmo dia diante das embaixadas dos EUA, dos EAU e do Barém para «denunciar os acordos vergonhosos.»

Além disso, a Liderança Unificada declarou o dia 18 de Setembro como «dia de luto», durante o qual serão içadas bandeiras negras sobre casas e edifícios para condenar os acordos entre Israel e os EAU e o Barém.» Nesse dia, as igrejas tocarão os seus sinos em sinal de luto, e os sermões de sexta-feira nas mesquitas serão dedicados a falar sobre a «traição da questão central dos árabes e muçulmanos.»

A Liderança Unificada é constituída por representantes de várias facções palestinas, incluindo a Fatah, o Hamas e a Jihad Islâmica. Segundo o The Jerusalem Post um elemento da Fatah terá dito: «Este é o início da Terceira Intifada. Esta é a única forma de o mundo nos ouvir. Queremos voltar a colocar a questão palestina no topo da agenda mundial.»

O Hamas saudou o estabelecimento da Liderança Unificada e disse que ela abriria o caminho para alcançar a unidade entre os palestinos. Hussam Badran, um alto funcionário do Hamas, expressou confiança em que a rua palestina seria capaz de tomar medidas «que mudariam o rumo das coisas para todos os envolvidos em projectos destinados a liquidar a causa palestina.»

Os palestinos têm dúvidas sobre se todos os países árabes ainda estão empenhados na Iniciativa de Paz Árabe de 2002, que fala de normalização entre o mundo árabe e Israel após o estabelecimento de um Estado palestino independente, disse um alto funcionário da Fatah, Azzam al-Ahmed Ahmed.

Ahamed acusou a Liga Árabe de «trair-se a si próprio ao permitir que a administração norte-americana a dominasse.» Na semana passada, os ministros dos negócios estrangeiros da Liga Árabe recusaram-se a subscrever um projecto de resolução palestina condenando os EAU pelo seu acordo de normalização com Israel. A decisão foi vista como um rude golpe para os palestinos.

Recorde-se que os «acordos de normalização» entre Israel, por um lado, e os Emirados Árabes Unidos e o Barém, por outro, são apresentados como garantes de paz – para países que não estão nem estiveram em guerra – mas que Israel não assume qualquer compromisso sobre a constituição do Estado Palestino e os seus planos anexionistas são apenas suspensos, não são cancelados.

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