Palestino morto a tiro e deputado ferido pela polícia israelita em operação de demolição no Negev

Na quarta-feira, 18 de Janeiro,cerca de 5h da manhã, centenas de polícias israelitas chegaram à aldeia beduína de Umm al-Hiran, no Negev, acompanhando as autoridades israelitas que vinham proceder a demolições de casas. As forças israelitas usaram balas com ponta de esponja, gás lacrimogéneo e granadas atordoantes para reprimir violentamente os moradores e apoiantes que se tinham concentrado para resistir às demolições.
Foi morto a tiro pelas forças israelitas um cidadão palestino de Israel, Yaqoub Moussa Abu al-Qian, de 47 anos, professor de matemática na escola secundária al-Salam, da vizinha cidade de Hura.
Segundo a polícia israelita, teria atacado com o carro os polícias, fazendo vários feridos. No entanto, numerosas testemunhas oculares relataram à agência palestina Ma'an que o motorista foi alvejado a tiro, perdendo por isso o controlo do veículo e fazendo-o atropelar polícias israelitas, um dos quais morreu. O deputado israelita Taleb Abu Arar (Lista Conjunta, coligação de partidos palestinos e da esquerda não sionista em Israel), citado pelo site de notícias israelita Ynet, declarou que a polícia matou Abu al-Qian «a sangue-frio». «A polícia alvejou-o sem motivo. As alegações de que ele tentou atropelar polícias não é verdadeira.»
Umm al-Hiran é uma das 35 aldeias beduínas consideradas «não reconhecidas» pelo Estado de Israel; mais de metade dos cerca de 160 000 beduínos do Negev residem em aldeias não reconhecidas. A classificação das suas aldeias como «não reconhecidas» impede os beduínos — apesar de serem cidadãos de Israel — de desenvolver ou expandir as suas comunidades. As autoridades israelitas recusam-se a ligá-las às redes nacionais de água e electricidade e excluem as comunidades do acesso a serviços de saúde e educativos.
Segundo o jornal israelita Haaretz, em Novembro de 2013 o governo israelita aprovou a construção da nova comunidade judaica de Hiran, a ser construídas no terreno de Umm al-Hiran. Os moradores não conseguiram evitar a demolição da aldeia, apesar dos recursos judiciais efectuados, incluindo para o Supremo Tribunal de Israel.
O deputado Ayman Odeh, dirigente da Lista Conjunta, foi ferido na cabeça e nas costas com balas com ponta de esponja.
Odeh juntara-se aos mil habitantes de Umm al-Hiran — todos cidadãos palestinos de Israel — numa manifestação para fazer parar as equipas que iam demolir as 150 casas da aldeia. Israel permitiu que essas famílias se mudassem para a área de Umm al-Hiran na década de 1950, depois de as ter afastado das suas terras de origem durante a Nakba, com o pretexto de que Israel precisava delas para um kibutz exclusivamente judaico. Isso aconteceu durante o governo militar que governou os palestinos de Israel durante quase duas décadas. Mais de 60 anos depois, exactamente a mesma coisa está a acontecer novamente: Umm al-Hiran está a ser destruída para que uma comunidade exclusivamente judaica, com o nome de Hiran, possa ser construída sobre as casas destas famílias. Famílias que estão pela segunda vez a ser vítimas de limpeza étnica pelo Estado de que são cidadãos.
«Os palestinos de Umm al-Hiran têm passaportes e cidadania israelitas, mas a política israelita de limpeza étnica, colonização, desalojamento forçado e apartheid afecta-os na mesma», declarou Maya al-Orzza, da ONG palestina BADIL. «Essas políticas não acontecem só na Margem Ocidental e na Faixa de Gaza, mas também dentro de Israel contra os palestinos», que constituem cerca de 20% dos cidadãos de Israel.
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