«Organizações de defesa dos Direitos Humanos silenciadas», por Jorge Fonseca de Almeida
No final da semana passada, no dia 18 de Agosto, o exército, veja-se bem o exército, israelita entrou nos escritórios de seis pacíficas associações civis palestinas de defesa dos direitos humanos e encerrou-os.
Israel considera essas organizações "terroristas" e pretendeu ilegalizá-las. Conseguiu uma meia vitória diplomática quando a União Europeia decidiu suspender temporariamente o financiamento a essas associações.
Contudo, um grupo de nove países europeus - Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, França, Irlanda, Holanda e Suécia - numa declaração conjunta refutam os argumentos israelitas e decidem continuar a apoiar essas organizações. É como desafio a esta decisão que o exército israelita impede, à força, o funcionamento destes defensores dos Direitos Humanos. Um desafio direto aos países nucleares da União Europeia. Uma humilhação internacional para os nove signatários da declaração conjunta. Uma bofetada forte e sonora na cara dos nove países europeus. Mais uma mostra da nula importância da União Europeia no contexto internacional.
A Organização das Nações Unidas também se pronunciou através de um grupo de peritos encarregues de estudar a situação. O grupo de peritos concluiu que tudo "parece indicar uma tentativa politicamente motivada por Israel de silenciar alguns dos seus mais eficazes críticos da violação dos seus direitos à liberdade de associação e de expressão".
Mas que organizações são estas agora ilegalizadas e impedidas pela força de manter a sua atividade em prol dos Direitos Humanos. Elas são a UPWC - União dos Comités de Mulheres Palestinas, DCI-P - Defesa das Crianças Internacional - Palestina, a Al-Haq - Defesa dos Direitos Humanos, Addameer - Associação de Apoio aos Presos e de Direitos Humanos, Centro Bisan para Pesquisa e Desenvolvimento, UAWC - União de Comités de Trabalho Agrícola. Temos assim: uma organização de mulheres, outra de defesa das crianças, uma outra de apoio a presos políticos, uma de cariz desenvolvimentista e uma de agricultores. Que democracia é esta que não aceita uma organização de agricultores? Que democracia ilegaliza a defesa das crianças?
Também importantes organizações internacionais de Direitos Humanos como a norte-americana Human Rights Watch e a europeia Amnisty International se pronunciaram considerando esta ilegalização um "um ataque do governo israelita ao movimento internacional dos direitos humanos".
Portugal, e a sua comunicação social, parece alheado deste importante tema internacional, mas é essencial que o Governo sobre ele se pronuncie. De que lado estamos? Do lado de Israel ou do lado dos nove países europeus? Que fazemos quando a Alemanha e a França nossos parceiros fundamentais na União Europeia são humilhadas internacionalmente? Que papel queremos ter na defesa dos Direitos Humanos? Que posicionamento moral pretendemos manter? A defesa dos Direitos Humanos ou o cúmplice fechar de olhos às iniquidades?
É importante que Portugal assine a declaração dos nove países europeus, vote pelo restabelecimento do financiamento da União Europeia às organizações palestinas de defesa dos Direitos Humanos, faça sentir a Israel que condenamos esta política repressiva sobre as mais pacíficas e dedicadas associações de defesa dos Direitos Humanos. Quando até estas organizações são proibidas que caminhos se abrem aos palestinos para fazer ouvir a sua voz?
Recordemos os versos de Bertolt Brecht "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem".
Jorge Fonseca de Almeida é Economista e membro da Direcção Nacional do MPPM
Este artigo foi originalmente publicado na edição digital do Diário de Notícias em 22 de Agosto de 2022
Os artigos assinados publicados nesta secção, ainda que obrigatoriamente alinhados com os princípios e objectivos do MPPM, não exprimem necessariamente as posições oficiais do Movimento sobre as matérias abordadas, responsabilizando apenas os respectivos autores.
Foto: Exército israelita assaltou sete ONG palestinas em 20 Agosto 2022