O MPPM condena a escalada de violência israelita contra os Palestinos
O exército israelita tem em marcha, desde o final do mês de Março, uma violenta ofensiva repressiva nos territórios palestinos ocupados em 1967. Desencadeada, alegadamente, como resposta a uma sequência de acções violentas levadas a cabo por palestinos em Israel, esta ofensiva ocorre num momento particularmente sensível.
As festividades do Ramadão em Jerusalém têm sido brutalmente reprimidas pela violência da polícia militarizada israelita, que noite após noite tem agredido fisicamente os palestinos presentes na área da Porta de Damasco. Trata-se de um espaço que constitui o centro da vida social dos palestinos na cidade, ocupado ilegalmente por Israel desde 1967. Na escadaria de acesso à Porta é habitual os fiéis muçulmanos reunirem-se após o anoitecer para celebrarem colectivamente o quebrar do jejum. Para além do seu significado religioso, esta numerosa reunião de palestinos em Jerusalém é um acto de resistência que desafia a propaganda colonial sionista que apresenta Jerusalém como a capital indivisível do Estado de Israel. Nos primeiros quatro dias do Ramadão, foram detidos 33 jerosolimitas.
Na Cisjordânia, a actuação das tropas israelitas tem sido sangrenta. Até ao dia de hoje, mais de uma dezena e meia de palestinos foram mortos pelo exército, incluindo menores e mulheres. A este número acresce a morte de Fatma Jalal Al-Mashi, uma bebé de 19 meses da Faixa de Gaza que morreu fruto da recusa por parte das autoridades israelitas de concederem uma autorização médica para as várias consultas, no hospital palestino Al-Makassed, em Jerusalém, que salvariam a sua vida.
A presente ofensiva prolonga, entretanto, o quotidiano de brutalidade e repressão que marca a ocupação da Palestina. Só desde o início do ano, cerca de 40 pessoas foram mortas pelo exército israelita. No mesmo período, foram emitidos mais de 400 mandados de detenção administrativa.
Registam-se também muitos outros actos de brutalidade cometidos contra palestinos neste período:
- a morte a tiro de Omar Elayan, de 20 anos, em Silawad, a norte de Ramala, e ferimentos em mais 11 palestinos;
- a morte a tiro de Qusai Hamamra, de 14 anos, em Husan, a oeste de Belém;
- a morte a tiro do advogado de direitos humanos Muhammad Assaf e ferimentos em mais 17 palestinos numa incursão das forças israelitas na cidade de Nablus;
- a morte a tiro, no check-point de Husan, de Ghada Sabateen, de 47 anos, professora de matemática, viúva e mãe de 6 filhos, que comprovadamente não representava qualquer ameaça;
- a agressão a Ibrahim Salah, de 80 anos, atingido a tiro na sua casa em al-Khader, a sul de Belém;
- o atropelamento quase mortal de uma jovem estudante universitária palestina por um jeep militar israelita em Tuqu’, a leste de Belém;
- o disparo de balas de aço revestidas de borracha para a cabeça dos palestinos, levando à perda da visão de um olho de Mohammad Mtour, de 17 anos;
- a detenção do deputado Ahmad Atoun na sua residência em Belém, após a sua deportação ilegal de Jerusalém;
- a invasão pelo exército do hospital de Jenin com utilização de granadas de gás lacrimogéneo no interior, ameaçando a vida de recém-nascidos em incubadoras e obrigando à sua célere deslocação para outras alas do hospital;
- os ataques de colonos israelitas, com recurso a bombas incendiárias, balas e pedras, a uma mesquita, casas e automóveis por toda a Cisjordânia;
- a incursão de hordas de colonos de armas em riste contra os agricultores palestinos que trabalham as suas terras e as agressões a activistas que acompanham os agricultores;
- a organização de marchas colectivas de colonos para atacar palestinos em Tel Rumeida, Hebron;
- as incursões em Haram Al-Sharif, durante o mês sagrado do Ramadão, de várias dezenas de colonos, incluindo membros de extrema-direita do Knesset;
- as ordens administrativas que banem distintas personalidades femininas envolvidas na defesa do complexo da mesquita de Al-Aqsa;
- as agressões de guardas da linha ferroviária de Jerusalém a um passageiro palestino;
- o ataque à universidade de Khaduri, em Tulkarem, e asfixia dos alunos através do disparo de granadas de gás lacrimogéneo para o seu interior;
- o bloqueio do acesso a escolas por parte do exército israelita, que trava a marcha de estudantes;
- o estabelecimento de uma milícia paramilitar – com apoio implícito da polícia e de figuras políticas municipais - no deserto de Naqab (Negev), com vista à limpeza étnica da população autóctone palestina para dar lugar à instalação de «comunidades estratégicas» judaicas.
O povo palestino tem sabido resistir com imensa dignidade aos permanentes atentados aos seus direitos e à sua própria integridade física e é, por isso, credor de toda a solidariedade activa internacional que vise a sua protecção e o reconhecimento do direito à sua existência nacional na sua pátria histórica.
Mas é imperativo que a comunidade internacional e os Estados que se proclamam defensores do direito internacional e dos direitos humanos — nomeadamente o português — passem além das pias declarações de intenções vazias de conteúdo e se assumam:
- no reconhecimento do Estado da Palestina nas fronteiras de 4 Junho de 1967, com Jerusalém Oriental como sua capital;
- na condenação da política colonial de Israel com exigência do fim dos colonatos e da violência dos colonos;
- na condenação da política de ocupação de Israel, com exigência do seu regresso às fronteiras anteriores a 1967;
- na condenação da política de apartheid do Estado de Israel;
- na exigência do fim do infame bloqueio à Faixa de Gaza;
- e, enfim, na exigência do cumprimento da Carta e das resoluções das Nações Unidas a que o Estado de Israel se obrigou ao ser admitido na ONU.
14 de Abril de 2022
A Direcção Nacional do MPPM