«A nossa solidariedade não pode abrandar», por José Oliveira

Caras amigas e caros amigos:

Uma saudação a todas e a todos em nome do Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).

Em mais esta manifestação de apoio ao povo palestino, reafirmamos a firme condenação ao genocídio em curso contra o povo palestino e à ocupação ilegal a que este está sujeito há décadas. O que Israel está a perpetrar em Gaza e na Cisjordânia é uma política deliberada de limpeza étnica, de destruição sistemática de um povo.

Estes crimes têm sido cometidos com o apoio político, diplomático e militar das grandes potências, em particular dos Estados Unidos, e com a cumplicidade activa da União Europeia, incluindo Portugal. A utilização da Base das Lajes por aviões militares americanos fornecidos a Israel é um exemplo inaceitável de como o nosso país se deixa arrastar para a cumplicidade com uma política genocida, ao invés de se afirmar do lado do direito internacional e dos princípios da Constituição da República que está obrigado a cumprir.

Há poucos dias, num acto de autêntica pirataria, assistimos ao assalto e apresamento, em águas internacionais, dos barcos da Global Sumud Flotilla. Para os participantes na Flotilha, nomeadamente para os portugueses, uma palavra de saudação pelo seu acto solidário. Uma saudação que estendemos às incontáveis iniciativas de solidariedade com o povo palestino, pelo mundo fora e também em Portugal, como aquela em que participamos aqui.

E muitas têm sido. Contrariando o discurso capcioso de que «em Portugal ninguém faz nada», que procura ocultar o silenciamento a que são submetidas as acções de solidariedade com a Palestina, nós aqui estamos, como em tantas outras acções, num testemunho vivo de que é falsa essa narrativa.

O MPPM, por exemplo, participou ao longo destes dois anos em mais de 200 acções de rua de condenação dos crimes de Israel e de solidariedade com o povo palestino.

Em conjunto, o MPPM, o Conselho Português para a Paz e Cooperação, a CGTP-IN e o Projecto Ruído — Associação Juvenil, têm promovido, ao longo destes dois anos, uma campanha intensa e muito alargada, que teve a adesão de muitas outras organizações, colectivos e personalidades, de condenação dos crimes de Israel, da ocupação, do genocídio.

Estamos deste modo a prosseguir uma longa história de solidariedade com o povo palestino em Portugal. Não, nada começou há dois anos. Os crimes contra o povo palestino não começaram há dois anos, vêm desde a limpeza étnica de 1947-1948, a Nakba, e de 1967, e prosseguem até hoje. Também a solidariedade com a luta do povo palestino não começou há dois anos, é uma solidariedade que tem uma história de décadas.

Hoje o povo palestino enfrenta um dos momentos mais sombrios da sua história, confrontado com opções todas elas difíceis. Apesar do anúncio de um plano de paz, o facto é que ainda nestas últimas horas Israel matou mais umas dezenas de pessoas em bombardeamentos na Faixa de Gaza.

A nossa solidariedade não pode abrandar. É necessário continuarmos a condenar o genocídio que Israel está a perpetrar em Gaza; exigir o fim imediato das operações militares israelitas, o fim da colonização e a evacuação dos colonos das terras ocupadas; exigir o fim de todas as relações económicas, comerciais e militares com Israel; exigir a suspensão do Acordo de Associação UE-Israel e a exclusão de Israel dos programas de investigação e desenvolvimento com potencial uso militar; reclamar o cumprimento das resoluções da ONU, nomeadamente o direito ao retorno dos refugiados. Temos de continuar a exigir do governo português uma política conforme com o compromisso que assumiu ao reconhecer o Estado da Palestina. 

É necessário reforçar a solidariedade com a luta do povo palestino pelos seus direitos nacionais imprescritíveis, por uma Palestina livre e soberana, tendo Jerusalém Oriental por capital e com o regresso dos refugiados.

Apelamos à participação de todas e todos na «Campanha de Solidariedade com o Povo Palestino Todos pela Palestina! Fim ao genocídio! Fim à ocupação!», lançada pelo MPPM, CPPC, Projecto Ruído e CGTP-IN, que já conta com a adesão de mais de 120 organizações. Esta campanha já está a ter expressão em muitos pontos do país e conhecerá um ponto alto no próximo dia 18 de Outubro, com um desfile partindo do Areeiro e o Concerto pela Paz e de Solidariedade com a Palestina, às 16h, no Fórum Lisboa. No dia 29 de Novembro, Dia Internacional de Solidariedade com a Palestina, a campanha culminará com manifestações em Lisboa e no Porto. 

Caras amigas e caros amigos:

Nelson Mandela, herói da luta de libertação da África do Sul, que já depois de ser presidente da República ainda era considerado terrorista pelos Estados Unidos, disse que a nossa liberdade não será completa em a liberdade dos palestinos. Nós, em Portugal, no país de Abril, solidários com o povo palestino, estaremos ao seu lado até que ele alcance não menos do que reivindicámos para nós: dignidade, soberania, liberdade.

Palestina vencerá!


José Oliveira é membro da Direcção Nacional do MPPM – Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente


Este é o texto da intervenção proferida no final da manifestação de 4 de Outubro de 2025, entre o Martim Moniz e o Rossio, em Lisboa, convocada pela PUSP e outros colectivos


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Domingo, 05 de Outubro de 2025 - 19:07