No Dia Internacional da Mulher 2023
No Dia Internacional da Mulher, o MPPM homenageia as mulheres que, em todo o mundo — em casa, nos campos, nas fábricas ou nos escritórios — lutam pela paz e pela liberdade, contra a opressão, a discriminação e a injustiça.
Neste ano de 2023, em que se assinalam 75 anos sobre a Nakba — a limpeza étnica que acompanhou a criação do Estado de Israel —, neste ano em que a repressão, a injustiça, o racismo e a segregação que vitimam o povo palestino não só continuam como se agravam, o MPPM presta especial homenagem às mulheres palestinas que, não obstante as duras condições, continuam a resistir, a trabalhar, a fazer viver a família, a educar os filhos.
Este ano de 2023 está a caminho de ser o mais mortífero para as palestinas e os palestinos que vivem na Cisjordânia. A brutalidade do exército de ocupação e dos colonos por ele protegidos não tem limites. Até ontem totalizavam 73 os palestinos mortos pelo ocupante, incluindo uma mulher idosa.
Está ainda vivo na memória o pogrom de 26 de Fevereiro último, em que centenas de colonos desencadearam acções de uma violência inaudita contra os habitantes de Huwara e outras vilas e aldeias vizinhas de Nablus, matando, ferindo, destruindo e saqueando. (O termo pogrom, com as suas conotações históricas, foi também usado por organizações israelitas para descrever os acontecimentos de Huwara).
Precisamente em Nablus nasceu em 1917 e faleceu em 2003 a poeta Fadwa Tuqan. Como em muita da poesia das mulheres palestinas, o sentido da resistência e amor à pátria está presente neste poema de Tuqan:
Basta-me
Basta-me morrer na sua terra
Ser sepultada nela
Desfazer-me e desaparecer no seu solo
E depois renascer como um rebento de erva
Como uma flor na mão de uma criança que cresceu no meu país.
Basta-me permanecer
No amplexo do meu país
Como terra, rebento de erva e flor.
A ocupação materializa-se também na restrição da liberdade de mulheres, crianças e homens palestinos. Em 28 de Fevereiro passado, estavam detidas cerca de 4700 pessoas, incluindo 29 mulheres e 150 menores. Entre essas, estavam em detenção administrativa — a prática infame que permite a prisão sem julgamento ou culpa formada por períodos indefinidamente prorrogáveis —860 pessoas, das quais 7 menores e duas mulheres.
Outra poeta palestina, Hanan Awwad, nascida em Jerusalém em 1951, enaltece a admirável resistência do povo palestino:
Últimas palavras dos Mártires na Palestina
Não estejas triste. A noite deixou cair o seu pano,
A madrugada apertou o coração exprimindo tristeza.
Quando o sol desaparecer no horizonte, não fiques triste
Porque a nossa alma está a transbordar de amor
E de desejo ardente.
Não chores, alegra-te pelo combatente
Que procurou a glória para a sua pátria.
Ó Jerusalém, símbolo de eternidade para um povo generoso,
Símbolo que perdurará até ao fim dos tempos.
Ó Jerusalém, a tua chaga é a nossa chaga,
Arma-te de paciência e consola-te.
O nosso mar e as nossas areias
Ergueram-se para abater os inimigos e a tirania.
Como poderíamos viver quando sangram as nossas feridas,
Quando a nossa terra permanece sequiosa e suportamos o martírio?
A morte, ou mesmo o inferno das grades das prisões,
É preferível a uma vida humilhante.
Não escrevemos poemas pela fama,
Pela riqueza ou por uma posição invejável.
Mas é o hino do coração que
Se confunde com o espírito do sacrifício ilimitado.
Juro pelos revolucionários, pela chaga
Que trazemos dentro de nós, pela terra, pelo homem;
Juro pelos homens livres, pelo amor que
Habita em nossos corações, pela luz e pelo fogo.
Juro que defenderemos a nossa pátria
Tal como ela nos ensinou.
Solidário com a luta das mulheres e dos homens palestinos, o MPPM continuará a pugnar pelo seu direito a viver em liberdade no seu Estado soberano e independente.
Lisboa, 8 de Março de 2023
A Direcção Nacional do MPPM