No 74º aniversário da Nakba é imperativo parar o massacre dos palestinos!
Assinala-se hoje o 74º aniversário da Nakba – a catástrofe que acompanhou a criação do Estado de Israel em 1948 e que se saldou pela expulsão violenta de centenas de milhar de palestinos das suas casas, aldeias e cidades, para dar lugar a recém-chegados colonos sionistas.
Quase três quartos de século volvidos, e apesar do reconhecimento internacional da legitimidade da causa palestina e da luta do seu povo pelos seus inalienáveis direitos, o aniversário da Nakba em 2022 continua marcado pela brutal realidade da ocupação e da repressão israelita sobre o povo palestino, pelo prosseguimento da limpeza étnica da população palestina e pelas violações do Direito Internacional por parte do Estado de Israel, com persistentes acções de guerra contra países vizinhos.
Num relatório publicado em 15 de Abril, o Euro-Mediterranean Human Rights Monitor documenta o assassinato, pelas forças israelitas, desde o início de 2022, de 47 palestinos, incluindo oito menores e duas mulheres, em vários incidentes. Entre as vítimas, 29 pessoas, incluindo sete menores e duas mulheres, foram mortas em tiroteios sem qualquer justificação. Foram registadas pelo menos oito execuções no terreno sob o pretexto de suspeita ou tentativa de esfaqueamento. Seis pessoas foram também mortas em duas execuções extrajudiciais em Nablus e Jenin.
Nas prisões israelitas estarão encarceradas, nesta altura, cerca de 4450 pessoas, incluindo 160 menores, das quais 530 sob detenção administrativa.
Gaza permanece sob um bloqueio desumano e, enquanto isso, sucedem-se as ordens de expulsão de famílias palestinas das suas casas, a par com os anúncios de expansão dos colonatos em território ocupado.
Prosseguindo uma criminosa prática de ataques a jornalistas, as forças de ocupação israelitas mataram com um tiro na cabeça a jornalista palestina da cadeia televisiva Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, ferindo outro jornalista, Ali Samoudi. A cadeia Al Jazeera descreve o incidente como «um crime deliberado que viola todas as leis e normas internacionais», tendo «as forças de ocupação israelitas assassinado, a sangue-frio, a nossa correspondente».
Numa vergonhosa demonstração da falta do mais elementar respeito cívico pela solenidade do acto, as forças israelitas carregaram sobre os participantes no funeral de Abu Akleh quase provocando a queda da urna que transportavam.
Peritos de direitos humanos da ONU, numa declaração publicada em 13 de Maio, disseram que «o assassinato de Abu Akleh faz parte da continuação da elevada taxa de ataques contra os trabalhadores dos meios de comunicação, particularmente jornalistas palestinos. Mais de 40 jornalistas palestinos foram mortos desde 2000, com centenas a serem feridos ou alvo de violência. As jornalistas palestinas também são regularmente vítimas de violência no decurso do seu trabalho, apenas por serem jornalistas.»
Recorde-se que, há precisamente um ano, durante a brutal guerra de agressão contra Gaza, o exército israelita arrasou um edifício de apartamentos onde estavam instalados órgãos de informação internacionais. Longe de se tratar de “incidentes”, estamos perante uma prática deliberada, que visa silenciar a informação sobre os crimes das forças de ocupação israelitas. É a censura levada ao extremo.
Israel continua a ser um foco de guerra no Médio Oriente. Nas últimas semanas, realizou numerosos ataques militares contra a vizinha Síria – cujos Montes Golã estão sob ocupação israelita há 55 anos. Uma destas incursões, no dia 27 de Abril, provocou a morte de cinco soldados sírios. Novo ataque, no dia 13 de Maio, causou cinco mortos e sete feridos, incluindo uma criança. É evidente o perigo de um conflito militar de grandes proporções na região.
Neste aniversário da Nakba, o MPPM chama a atenção para a escalada da violência nos territórios ocupados. O MPPM lembra que a causa de fundo deste agravamento da situação é a ocupação israelita e a negação dos direitos nacionais do povo palestino.
É inadmissível que muitas décadas de resoluções e acordos internacionais, reconhecendo a legitimidade da causa palestina, continuem a ser ignoradas e violadas, e que prossiga a cumplicidade das potências ocidentais, com os EUA à cabeça, face a Israel e os seus crimes.
É inadmissível que o Governo português não tenha ainda reconhecido o Estado da Palestina, seguindo o exemplo da maioria dos países do mundo e a recomendação da Assembleia da República.
É inaceitável que o Acordo de Associação da União Europeia com Israel continue a financiar Israel e os seus crimes e que ainda seja permitido o comércio com os colonatos ilegais.
O MPPM sublinha que a inexistência de qualquer processo político, visando a concretização do fim da ocupação, a prometida criação dum Estado Palestino em território palestino, com Jerusalém-Leste como capital, e o reconhecimento da condição dos refugiados palestinos nos termos das resoluções das Nações Unidas, abre as portas a uma tragédia na Palestina e no Médio Oriente.
Quem nega as soluções políticas não poderá vir amanhã criticar a resistência palestina à ocupação do seu território, quaisquer que venham a ser as formas de que esta se revista.
Todos quantos continuam a ser hipocritamente coniventes com Israel e os seus crimes – para além de pias declarações – serão co-responsáveis por tudo quanto se venha a passar.
15 de Maio de 2022
A Direcção Nacional do MPPM
Foto: Forças israelitas carregam sobre os participantes no funeral de Shireen Abu Akleh (AFP)