Netanyahu rumo ao quinto mandato: futuro sombrio para os palestinos
As eleições legislativas israelitas de dia 9 de Abril deram a vitória ao partido Likud de Benjamin Netanyahu, que assim se encaminha para um quinto mandato como primeiro-ministro.
Nestas eleições, em que o centro de gravidade político se deslocou ainda mais para a direita, o Likud obteve 26,27% dos votos, o que constitui o seu melhor resultado desde as eleições de 2003, quando era liderado por Ariel Sharon.
Embora com os mesmos 35 deputados eleitos que a coligação Azul e Branco (Kahol Lavan) de Benny Gantz, ex-chefe das forças armadas de Israel, Netanyahu conta em princípio com o apoio de outros partidos que lhe permitirá chegar à necessária maioria de 61 assentos parlamentares no Knesset, de 120 deputados.
Netanyahu antecipou as eleições para enfrentar em melhor posição as três acusações de corrupção de que é alvo. E a sua aposta está em vias de ser ganha: Bezalel Smotrich, líder da extremista União dos Partidos de Direita, anunciou já que planeia propor legislação que lhe dará imunidade.
Este é um sinal de que a formação e sobrevivência do novo governo de Netanyahu dependerá do apoio de partidos religiosos extremistas e representantes do movimento dos colonos, que irão exigir uma viragem ainda mais acentuada em direcção ao fundamentalismo religioso em Israel.
Mas, sobretudo, Netanyahu deverá satisfazer as exigências desses partidos — senão o seu próprio desejo — de iniciar formalmente a anexação de partes significativas da Cisjordânia ocupada, como aliás já anunciou durante a própria campanha eleitoral. No sábado passado, 6 de Março, afirmou numa entrevista televisiva que pretende estender a soberania israelita (na realidade, formalizar uma situação há muito existente) a todos os colonatos da Cisjordânia, grandes e pequenos, onde vivem cerca de 400 000 israelitas judeus.
Em termos práticos isso significaria provavelmente a anexação da área C da Cisjordânia, mantendo ao mesmo tempo, o que também anunciou na entrevista, o controlo de segurança (ou seja, a dominação militar) de todo o território a Oeste do rio Jordão. Restariam aos palestinos pequenas ilhotas dispersas de território com limitada autonomia administrativa.
A questão de Jerusalém Oriental ocupada não foi sequer evocada, porque do ponto de vista de Israel se trata de uma questão resolvida desde a sua anexação pelo Estado sionista em 1981. Para mais, agora conta com a bênção do presidente Donald Trump, que fez deslocar para Jerusalém a embaixada estado-unidense, após reconhecê-la como capital de Israel.
Alinhando com o amigo Netanyahu e a restante direita israelita, Washington dá sinais de considerar enterrada a solução dos dois Estados para a questão israelo-palestina — prevista pelos próprios acordos de Oslo assinados no relvado da Casa Branca —, e deste modo a perspectiva de um Estado palestino independente na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, tendo por capital Jerusalém Oriental. Não pode ser outra a leitura do facto de Michael Pompeo, secretário de Estado estado-unidense, se recusar nesta quarta-feira a dizer se a administração Trump ainda apoia a solução dos dois Estados.
Da parte da coligação Azul e Branco, se é que não vai ser cooptada para um governo de «unidade nacional», não é de esperar oposição a estes planos. Benny Gantz afirmou que Israel deve manter o Vale do Jordão como uma fronteira de segurança e não pode retirar-se para as linhas de 1967 e que Jerusalém deve permanecer como a capital indivisa de Israel. Para mais, iniciou a sua campanha eleitoral gabando-se das matanças que efectuou na agressão a Gaza em 2014, de que foram vítimas 1400 palestinos, incluindo centenas de crianças.
As eleições foram também marcadas por uma descida dos resultados dos partidos que representam os 1,8 milhões de palestinos cidadãos de Israel, impropriamente chamados «partidos árabes». Enquanto na anterior legislatura tinha sido possível formar uma Lista Conjunta que obteve 13 deputados e era a terceira força parlamentar, desta vez apresentaram-se duas coligações, com resultados totais de apenas 10 deputados (Hadash-Taal: 6; Lista Árabe Unida-Balad: 4). Talvez por essa razão, a que se soma a influência desmobilizadora da recente «lei do Estado-nação do povo judaico», que os remete para um posição de cidadãos de segunda classe, registou-se uma afluência historicamente baixa dos palestinos cidadãos de Israel, em torno dos 50%.
Comentando os resultados das eleições israelitas, Saeb Erekat, secretário-geral do Comité Executivo da OLP, afirmou no Twitter que «os israelitas … disseram não à paz e sim à ocupação», já que «apenas 14 dos 120 deputados eleitos do parlamento israelita apoiam a solução de dois Estados nas fronteiras de 1967».
Também Hanan Ashrawi, membro do Comité Executivo da OLP, declarou que «infelizmente, os israelitas votaram esmagadoramente em candidatos inequivocamente comprometidos com o status quo de opressão, ocupação, anexação e desapropriação na Palestina e de escalada no ataque aos direitos humanos e nacionais dos palestinos … Os israelitas decidiram consolidar e expandir o apartheid». Condenando o apoio de Trump à «agenda extremista e militarista» de Benjamin Netanyahu, Ashrawi acrescentou que «o povo palestino vai superar este capítulo negro e altamente perigoso e permanecer profundamente enraizado na nossa terra natal».