Netanyahu promete que Israel anexará imediatamente Vale do Jordão se foi reeleito

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, declarou esta terça-feira que, se for reeleito, Israel anexará o Vale do Jordão e o Norte do Mar Morto, na Cisjordânia ocupada.

«Hoje anuncio minha intenção, após a formação de um novo governo, de aplicar a soberania israelita ao Vale do Jordão e ao Norte do Mar Morto», afirmou Netanyahu num discurso transmitido ao vivo em todos os canais de televisão israelitas.

O Vale do Jordão, com 2400 km2, representa cerca de um terço da Cisjordânia e faz fronteira a leste com a Jordânia. Israel afirma há muito tempo que, qualquer que seja a solução alcançada com os palestinos, pretende manter o controlo militar desta zona.

Nesta área vivem aproximadamente 65 000 palestinos e 11 000 israelitas, estes residentes em colonatos ilegais à luz do direito internacional. A principal cidade palestina é Jericó, havendo cerca de 28 aldeias e comunidades beduínas menores.

O primeiro-ministro israelita acrescentou que o «plano de paz» para o Médio Oriente do presidente dos EUA, Donald Trump — repetidamente anunciado mas cuja divulgação está agora prevista para depois das eleições parlamentares israelitas de 17 de Setembro —, representaria uma «oportunidade histórica» de anexar a Cisjordânia ocupada e outras áreas.

Em reacção, Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina, alertou que todos os acordos assinados com Israel terminariam se fossem anexadas partes da Cisjordânia, observando que o anúncio de Netanyahu contradiz as resoluções da ONU e o direito internacional.

Por seu lado, o secretário-geral da Organização de Libertação da Palestina (OLP), Saeb Erekat, declarou que este anúncio vem somar-se a uma longa história de violações do direito internacional por Israel, acrescentando que o Vale do Jordão é uma «parte integrante da Palestina ocupada».

Os ministros dos Negócios Estrangeiros árabes, reunidos no Cairo, classificaram a promessa eleitoral de Netanyahu como «um desenvolvimento perigoso e uma nova agressão israelita». «A Liga Árabe», afirmam, «considera que essas declarações minam as possibilidades de qualquer progresso no processo de paz e torpedearão todas as suas fundações.»

Entretanto, as Nações Unidas alertaram que o plano de Netanyahu «não teria qualquer efeito jurídico internacional».

Não é a primeira vez que Netanyahu promete anexar a Cisjordânia ocupada ou partes dela. Apenas dois dias antes das eleições de Abril, que não produziram uma maioria governamental, Netanyahu disse que iria estender a soberania israelita à Cisjordânia se fosse reeleito.

A colonização israelita na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental, ocupadas desde 1967, nunca cessou desde então, sob todos os governos, qualquer que fosse a sua tendência política, mas intensificou-se sob a direcção de Netanyahu e particularmente desde a tomada de posse de Trump. Neste momento, mais de 600 000 israelitas vivem em colonatos ilegais na Cisjordânia e em Jerusalém Oriental ocupadas.

A anexação do Vale do Jordão, a concretizar-se, liquidaria definitivamente a solução dita dos dois Estados, ou seja, a possibilidade da criação de um Estado palestino independente, soberano e viável.

A chamada «comunidade internacional», e designadamente a União Europeia e os seus Estados membros, têm-se limitado a inconsequentes condenações da colonização israelita, recusando-se a tomar medidas efectivas contra as grosseiras violações por Israel das resoluções da ONU e dos direitos humanos e nacionais dos palestinos.

Foto: Avshalom Sassoni

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