Não podemos deixar esquecer Deir Yassin!
Na madrugada de 9 de Abril de 1948, três milícias sionistas - o Hagana, o Irgun e o Bando Stern - assaltaram Deir Yassin, uma aldeia palestina com cerca de 750 habitantes, situada a oeste de Jerusalém. Mais de uma centena de homens, mulheres e crianças foram massacrados.
Alguns foram mutilados e violados antes de serem assassinados. Vinte e cinco homens da aldeia foram depois executados numa pedreira próxima. Das cerca de centena e meia de casas, 10 foram dinamitadas. O cemitério foi posteriormente demolido e, como centenas de outras aldeias palestinas, Deir Yassin foi varrida do mapa.
Deir Yassin ficava fora da área que o Plano de Partilha das Nações Unidas, aprovado em 1947, destinava ao futuro Estado judaico. Mas a direcção sionista tinha desde há muito decidido efectuar uma limpeza étnica dos palestinos, com o objectivo de consolidar e expandir a área que lhe era atribuída.
A operação foi descrita no chamado Plano Dalet, um plano de operações militares a realizar antes do fim do mandato britânico marcado para 15 de Maio de 1948. Uma das primeiras concretizações desse plano foi a Operação Nachson, destinada a «limpar» a estrada entre Tel Aviv e Jerusalém, e o massacre de Deir Yassin fez parte dessa operação.
“Montar operações contra centros populacionais inimigos localizados dentro ou perto do nosso sistema defensivo, a fim de evitar que sejam utilizados como bases por uma força armada activa. Estas operações podem ser divididas nas seguintes categorias:
- Destruição de aldeias (incendiar, explodir e colocar minas nos escombros), especialmente os centros populacionais que são difíceis de controlar continuamente
- Montagem de operações de busca e controlo de acordo com as seguintes directrizes: cerco da aldeia e realização de uma busca no seu interior. Em caso de resistência, a força armada deve ser destruída e a população deve ser expulsa para fora das fronteiras do Estado”
Plano Dalet, Secção 3 (b), 10 de Março de 1948
O massacre em Deir Yassin é um das mais de duas dezenas de massacres documentados de civis palestinos perpetrados por forças sionistas que abriam caminho à força para transformar a Palestina num Estado judaico. Não foi o que teve maior número de vítimas. Mas a notícia do massacre de Deir Yassin — intencionalmente ampliada pelos próprios sionistas — espalhou o terror e desencadeou uma fuga em massa de Palestinos que temiam pelas suas vidas.
Na altura do massacre, David Ben-Gurion, Menachem Begin e Yitzhak Shamir dirigiam, respectivamente, o Hagana, o Irgun e o Bando Stern. Todos viriam a ser primeiros-ministros de Israel. Ninguém foi punido por aquele acto hediondo.
O massacre de Deir Yassin é um dos acontecimentos mais significativos da história palestina do século XX, não só devido à sua dimensão e brutalidade, mas sobretudo por ser o prenúncio do despovoamento e destruição programada de mais de 400 aldeias, vilas e cidades árabes e da expulsão de mais de 700 000 Palestinos.
Setenta e quatro anos depois daquela madrugada de Abril, Israel prossegue a sua política de ocupação, colonização e apartheid almejando a construção do Grande Israel em toda a terra palestina.
Mas enganou-se David Ben Gurion quando, em 1948, proclamou: «Temos de fazer tudo para garantir que eles nunca mais voltam. Os velhos vão morrer e os novos vão esquecer». É certo que os velhos morreram, mas os novos não esqueceram e continuam a resistir.
Foto: Ruínas de Deir Yassin (deiryassinremebered.org)