A Nakba continua: cidade só para judeus será construída sobre ruínas da aldeia beduína de Umm al-Hiran

A nova cidade de Hiran, que as autoridades israelitas planeiam construir no deserto de Naqab/Negev (Sul de Israel) sobre as ruínas da aldeia beduína de Umm al-Hiran, deverá ser aberta apenas a judeus. A nova cidade judaica será construída depois de a aldeia beduína ser demolida e os seus moradores serem desalojados à força.
Segundo um documento revelado pelo Adalah — Centro Jurídico para os Direitos da Minoria Árabe em Israel —, os estatutos da associação cooperativa de Hiran estipulam que para ser aprovado pelo comité de admissões e tornar-se membro da associação é necessário «ser um cidadão israelita judeu ou residente permanente de Israel que observa a Torá e os mandamentos de acordo com os valores judaicos ortodoxos».
Numa carta enviada em 7 de Agosto ao Conselho Nacional de Planeamento e Construção israelita, Suhad Bishara, advogada do Adalah, escreveu que o regulamento de Hiran contraria anteriores compromissos do Estado. Em resposta ao requerimento dos moradores de Umm al-Hiran contra a demolição da sua aldeia, para ser substituída por uma nova cidade «com planeamento adequado», o Estado israelita tinha declarado que a nova cidade de Hiran deverá ser «uma comunidade geral em que qualquer israelita de qualquer origem ou religião se poderá integrar».
De acordo com o plano que as autoridades israelitas querem aplicar, os moradores de Umm al-Hiran serão deslocados para a cidade beduína de Hura. Desmentindo as declarações do órgão governamental responsável pelo plano — a Agência de Desenvolvimento dos Beduínos —, os moradores de Umm al-Hiran afirmam que nunca concordaram em ser evacuados da sua aldeia.
Em Janeiro passado, durante uma operação para a demolição das 150 casas da aldeia, a polícia israelita matou a tiro um residente, Yakub Abu al-Kiyan.
Umm al-Hiran é uma das 35 aldeias beduínas consideradas «não reconhecidas» pelo Estado de Israel; mais de metade dos cerca de 160.000 beduínos do Naqab/Negev residem em aldeias não reconhecidas. A classificação das suas aldeias como «não reconhecidas» impede os beduínos — apesar de serem cidadãos de Israel — de desenvolverem ou expandirem as suas comunidades. As autoridades israelitas recusam-se a ligá-las às redes nacionais de água e electricidade e excluem as comunidades do acesso a serviços de saúde e educativos.
Israel permitiu que essas famílias se mudassem para a área de Umm al-Hiran na década de 1950, depois de as ter afastado das suas terras de origem durante a Nakba (limpeza étnica dos palestinos que precedeu e acompanhou a proclamação de Israel, em 1948), com o pretexto de que Israel precisava delas para um kibutz exclusivamente judaico. Mais de 60 anos depois, exactamente a mesma coisa está a acontecer novamente: Umm al-Hiran está a ser destruída para que uma comunidade exclusivamente judaica possa ser construída sobre as casas destas famílias, que estão pela segunda vez a ser vítimas de limpeza étnica pelo Estado de que são cidadãos.
 
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