Nakba: 67 anos de limpeza étnica na Palestina

Comemora-se em 15 de Maio de 2015 o 67º aniversário da NAKBA, que em árabe quer dizer Catástrofe, e que marca o princípio da tragédia que se abateu sobre o Povo Palestino, perseguido, massacrado e expulso da sua terra pelos novos ocupantes judeus.
A independência do Estado de Israel, proclamada unilateralmente em 14 de Maio de 1948, significou para os palestinos o início da devastação da sua sociedade, a eclosão de um drama individual e colectivo que perdura até aos nossos dias. Repartido o seu território pelo novel Estado judaico (na parte consagrada pela Resolução 181 das Nações Unidas, de 29 de Novembro de 1947), pelo reino da Jordânia (a Cisjordânia) e pelo Egipto (a Faixa de Gaza), os palestinos tornaram-se exilados na sua própria pátria, com a maioria das terras confiscadas e os direitos cívicos reduzidos ou eliminados.
Com a guerra de 1967, Israel ocupou militarmente os territórios da Cisjordânia e de Gaza, bem como Jerusalém Oriental, cidade que fora considerada pela ONU como zona de administração internacional, e ocupou-os também civilmente, ao longo dos anos, com uma imparável construção de colonatos, instalados nas zonas mais férteis da região. Na memória e na história dos palestinos, a Nakba constitui a linha de demarcação de dois períodos distintos e opostos, o momento em que as suas vidas foram dramática e irreversivelmente alteradas.
A data chave de 1948 assinala o desaparecimento de um País e de um Povo dos dicionários e dos mapas, como se nunca tivessem existido. Daí em diante os palestinos passaram a ser chamados “refugiados” ou – a pequena minoria que escapou à expulsão generalizada do Estado de Israel – “árabes israelitas”.
A limpeza étnica da Palestina tem verdadeiramente início ainda antes da criação do Estado de Israel, na sequência do movimento sionista impulsionado por Theodor Herzl; e é estimulada pela célebre Declaração Balfour de 1917, que previa a criação de um “lar nacional para o povo judeu” na Palestina. A derrota do Império Otomano (de que a Palestina fazia parte), no fim da Primeira Guerra Mundial e a passagem do território para mandato britânico em 1922, vieram facilitar as ambições do sionismo internacional. A progressiva imigração judaica na Palestina, incrementada com as perseguições nazis, começa a ocupar estrategicamente o espaço onde pretende implantar o seu Estado. E não hesita em constituir grupos armados como o Haganah, o Irgun e o Lehi (ou Stern Gang), que não só atacam os palestinos como os próprios ingleses. O Lehi assassinou em 1944 o ministro de Estado para o Médio Oriente Lord Moyne e o Irgun fez explodir em 1946 o Hotel King David, em Jerusalém, onde estava instalado o quartel-general britânico, provocando cerca de 100 mortos. Já em 1948, a 17 de Setembro (depois da independência), o Lehi assassinou em Jerusalém o Conde Bernadotte, presidente da Cruz Vermelha Sueca, que actuava como mediador das Nações Unidas para resolver problemas originados pela partilha do território.   
Os ataques contra os palestinos, numa programada operação de limpeza étnica, conforme atestam os próprios documentos dos arquivos israelitas, sucederam-se, sendo um dos mais cruéis o que destruiu a aldeia de Deir Yassin, em 9 de Abril de 1948, levado a cabo pelo Irgun. Para além dos mortos em defesa das suas casas, que foram arrasadas, mais de 100 palestinos foram friamente abatidos no local, o que elevou para cerca de 200 o número de vítimas. Este massacre foi o sinal para o começo do êxodo dos palestinos. Outros se sucederam antes e depois da independência, levados a cabo primeiro pelos grupos paramilitares judaicos e mais tarde por Tsahal, o próprio exército israelita.
A Nakba constitui um marco no calendário palestino e sem ela não teriam ocorrido outros acontecimentos posteriores como o Setembro Negro (Jordânia, 1970), o Dia da Terra (Israel, 1976), o massacre de Sabra e Chatila (Líbano, 1982), ou a primeira e a segunda Intifada (1987 e 2000). Como todas as operações de limpeza étnica, a Nakba foi um crime contra a humanidade, de acordo com a definição do Tribunal Penal Internacional da Haia.
As imagens que vemos diariamente, desde há décadas, de casas arrasadas, colheitas destruídas, famílias desmembradas, caminhos interceptados, muros a dividir aldeias, populações a viver em tendas, hospitais bombardeados, escolas em ruínas, cortes de água e de electricidade, horas de espera nos checkpoints, desemprego, fome, doença e miséria não podem deixar de suscitar a mais viva indignação. E só se compreende que o Estado de Israel tenha podido agir impunemente, perante a complacência da dita comunidade internacional, se considerarmos o apoio incondicional dos Estados Unidos da América aos sucessivos governos judaicos, determinado pela pressão do lobby pró-israelita sobre a política externa norte-americana.
A Catástrofe do Povo Palestino dura há demasiado tempo e prolonga-se por várias gerações. Existem milhões de refugiados espalhados um pouco por todo o mundo. É a hora de o mundo reflectir finalmente sobre o drama deste Povo. 
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