MPPM saúda cessar-fogo em Gaza, condição necessária mas não suficiente para a paz

Por ocasião do anúncio do cessar-fogo na Faixa de Gaza, o MPPM saúda o povo palestino pela sua inquebrantável resistência e reitera-lhe a sua continuada solidariedade, mas alerta que a paz só será efectiva quando o povo palestino vir concretizado o seu direito inalienável a viver em segurança na sua pátria livre e independente.

Ao fim dos 470 dias da campanha genocida levada a cabo por Israel, o cessar-fogo representará decerto um bem-vindo alívio para o sofrimento dos gazenses e de todos os palestinos. Mas o cessar-fogo não pode fazer esquecer as dezenas de milhares de mortos e feridos causados pelos bombardeamentos, a que haverá que somar muitos outros milhares soterrados debaixo dos escombros e as incontáveis vítimas devido à falta de água, de alimentos e de assistência médica, deliberadamente provocadas.

Os sobreviventes, na sua maioria várias vezes deslocados à força, têm diante de si uma destruição material — de dimensões inauditas — de habitações e equipamentos de toda a espécie, cuja reparação exigirá décadas e muitos milhares de milhões de euros. As feridas emocionais, designadamente de centenas de milhares de crianças, essas provavelmente nunca poderão ser sanadas.

É indispensável sublinhar que o acordo a que agora se chegou poderia ter sido obtido há longos meses, e não o foi devido a sucessivas recusas dos dirigentes israelitas. E não se pode senão classificar de obsceno o facto de os Estados Unidos se jactarem agora da «pressão» que terão exercido sobre Israel e ousarem apresentar-se como promotores do acordo de cessar-fogo. Os Estados Unidos da América são, mais que cúmplices, co-autores do massacre genocida a que os palestinos foram submetidos. Foi com o dinheiro, as armas e as munições estado-unidenses que o Estado sionista levou a cabo o massacre, sempre acobertado pela protecção política e diplomática dos Estados Unidos, nomeadamente os sucessivos vetos a resoluções da ONU. Papel igualmente ignominioso desempenharam países ocidentais como o Reino Unido, a Alemanha e a França, e bem assim a União Europeia.

Os responsáveis directos e indirectos pelo genocídio, Israel e os seus cúmplices, já condenados pela opinião pública, não podem deixar de enfrentar o julgamento das competentes instâncias internacionais.

A ser efectivado aquilo que publicamente tem sido noticiado — o que reclama obrigar Israel a cumprir os termos do acordo, o que, dado o seu historial, é muito menos do que certo —, abre-se agora na Faixa de Gaza um prolongado e árduo tempo de reconstrução.

Há que repudiar as tentativas, que já se entrevêem, para impor aos palestinos uma qualquer tutela associada a esse empreendimento titânico. O povo palestino merece toda a solidariedade e tem autoridade moral para reclamar ajuda para a reconstrução — que mandaria a justiça fosse paga por quem causou a destruição, a saber, Israel e quem o apoiou, os EUA e outros países ocidentais —, mas só os palestinos têm o direito de decidir do seu destino, livres de imposições externas, venham de onde vierem.

O cessar-fogo não é a paz. Não é a paz a continuação de uma Faixa de Gaza cercada por terra, mar e ar há quase duas décadas, que a ONU considerava que já em 2020 não reuniria as condições para a sobrevivência humana. Não é a paz o prosseguimento do apartheid, da ocupação na Cisjordânia, dos colonatos, dos pogromes realizados pelos colonos israelitas, não é a paz a existência de milhares de presos e detidos administrativos.

Como também não é a paz a persistência do belicismo israelita, nomeadamente da ocupação militar por Israel de territórios da Síria e do Líbano e da agressiva campanha contra o Iémen.

A verdadeira paz só é possível quando existir justiça e liberdade para o povo palestino.

Neste momento, que é de alívio mas também de fundadas preocupações, o MPPM continua a reclamar do Estado português que cesse qualquer cooperação com o Estado de Israel, nomeadamente no domínio militar, que desenvolva esforços no sentido da revogação do Acordo de Associação entre a União Europeia e Israel, que reconheça sem mais delongas o Estado da Palestina.

O MPPM saúda o imenso movimento de solidariedade com o povo palestino que se manifestou pelo mundo inteiro, e de forma relevante também em Portugal. Saúda a condenação do massacre pela esmagadora maioria dos países do mundo, no quadro da ONU, o que fez com que Israel esteja hoje mais isolado do que alguma vez esteve.

Apesar da violência sem precedentes da agressão, Israel não alcançou nenhum dos objectivos estratégicos que proclamou. A resistência não foi aniquilada, muitos presos palestinos serão libertados das masmorras israelitas e o povo palestino, ainda que martirizado, continua a resistir.

O MPPM continuará onde sempre esteve: ao lado do povo palestino, solidário com a sua luta heróica, até que veja reconhecidos os seus legítimos e imprescritíveis direitos nacionais, até que tremule sobre a sua terra livre a bandeira da Palestina independente e soberana.

19 de Janeiro de 2025

A Direcção Nacional do MPPM
 

Domingo, 19 de Janeiro de 2025 - 13:30