MPPM denuncia o lado escuro da sedução cultural israelita
A propósito da visita a Portugal da Batsheva Dance Company, o MPPM chama a atenção para a verdadeira natureza do seu apoiante Estado de Israel, fundado sobre a limpeza étnica do povo palestino e sustentado por uma política de ocupação colonial e de apartheid.
A Batsheva Dance Company — uma companhia de dança israelita, sediada em Telavive — vai apresentar-se em Portugal, no mês de Julho, com espectáculos no Rivoli, no Porto, e no CCB, em Lisboa. Os espectáculos do CCB estão integrados na programação do Festival de Almada.
A Batsheva Dance Company é apoiada pelo governo de Israel, através do Ministério da Cultura e Desporto e do Ministério dos Negócios Estrangeiros, e pelo Município de Telavive que, nos últimos sete anos, contribuíram com 38% das receitas da companhia. A companhia reside no Centro Batsheva que foi construído e renovado com apoios do Município de Telavive e do Ministério da Cultura de Israel através da Fundação Telavive.
A Batsheva Dance Company transmite uma imagem de cultura, modernidade e normalidade do Estado de Israel, mas é essencial conhecer o outro lado da realidade.
Um projecto de colonialismo de povoamento e de apartheid
O Estado de Israel foi criado em 1948 sobre as ruínas de 500 vilas e aldeias palestinas, sobre as casas e terras de 750 000 homens, mulheres e crianças palestinos forçados ao exílio, sobre os corpos de 15 000 palestinos mortos na guerra ou massacres perpetrados pelas milícias sionistas.
Desde então, o Estado de Israel vem desenvolvendo uma política de colonialismo de povoamento que visa a ocupação da totalidade do território palestino, ao mesmo tempo que impõe, dentro das fronteiras de 1949 e nos territórios palestinos ocupados em 1967, um regime que organizações internacionais não hesitam em classificar como de apartheid.
Estão amplamente documentados os crimes de Israel contra o povo palestino, da pilhagem dos seus recursos naturais aos assassinatos extrajudiciais, das prisões arbitrárias à violência dos colonos, do bloqueio ilegal imposto à Faixa de Gaza à construção de um «muro da vergonha» que corre na quase totalidade em território palestino.
Contrariando o direito internacional, mas beneficiando da tolerância dos seus parceiros ocidentais, Israel ocupa Jerusalém Oriental, a quase totalidade da Cisjordânia e os Montes Golã sírios. Os palestinos cidadãos do Estado de Israel, que constituem 20% da população, são efectivamente discriminados por mais de seis dezenas de leis, por muito que a propaganda oficial queira fazer crer que há total igualdade dos seus cidadãos perante a lei.
Uma política de apagamento da identidade cultural palestina
Israel desenvolve uma política consistente de apagamento da identidade cultural palestina.
Segundo Francesca Albanese, Relatora Especial da ONU sobre a situação dos direitos humanos nos territórios palestinos ocupados desde 1967, «os "símbolos" palestinos, como a bandeira palestina, são sistematicamente atacados e destruídos, em locais públicos, durante eventos públicos, protestos e mesmo funerais, sendo a exibição da identidade nacional palestina proibida de facto». Foi notícia o ataque das forças israelitas aos carregadores do caixão da jornalista palestina Shireen Abu Akleh, assassinada por um atirador do exército israelita, porque estava coberto com a sua bandeira nacional, mas são menos conhecidas muitas outras situações em que o ocupante interdita os palestinos de exibirem os seus símbolos nacionais.
A destruição do bairro marroquino na Cidade Velha de Jerusalém, no início da ocupação, para dar lugar à esplanada do Muro das Lamentações, é um dos primeiros casos registados de locais palestinos destruídos ou confiscados e convertidos em locais culturais israelitas pouco depois de Junho de 1967, no que Albanese considera «parte de um esforço mais vasto e mais profundo para "desconstruir e substituir" a Palestina do imaginário colectivo, através de uma combinação de apropriação cultural e do apagamento de entidades culturais fundamentais.»
A eliminação da história palestina nas escolas de Jerusalém Oriental, a revogação das licenças concedidas às escolas palestinas que não aderem às políticas curriculares israelitas e a conversão ou encerramento de locais que representam a identidade cultural, política e religiosa palestina, são «tentativas de apagar o carácter palestino do que resta das terras ancestrais palestinas».
A toponímia hebraica de muitas vilas e aldeias que disfarça mal o nome árabe original, ou as falsificações arqueológicas que procuram demonstrar uma presença milenar constante no território ocupado., inserem-se nos «ataques a objectos culturais de importância para eliminar todos os vestígios e expressões da existência palestina e a incorporação de uma visão revisionista da história para afirmar (falsas) reivindicações de soberania no território palestino ocupado.»
Mas nem sempre a tentativa de apagamento da cultura palestina reveste um carácter tão discreto. Na madrugada de 3 de Junho, o Teatro da Liberdade, sedeado no campo de refugiados de Jenin, foi atingido por um míssil disparado pela aviação israelita. Uma criança ficou ferida.
Uma reflexão necessária
Está em curso uma vasta operação de reforço da presença de Israel no nosso país, através da sua embaixada e com a participação activa de inúmeras entidades portuguesas, públicas e privadas, incluindo municípios, empresas e o próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Não é a primeira vez que o Festival de Almada traz a Portugal uma companhia israelita, contribuindo para a normalização do Estado de Israel, atitude que se lamenta profundamente e que não faz justiça aos valores de liberdade e respeito pelos direitos humanos que historicamente marcaram aquele importante evento cultural.
Numa altura em que a extrema-direita mais racista e fanática está no poder em Israel, em que hordas de colonos semeiam diariamente o terror nas aldeias e vilas nos territórios palestinos ocupados em 1967 e em que o exército de Israel tem em curso uma ofensiva de grande envergadura – mais uma – contra a cidade e o campo de refugiados de Jenin, o MPPM alerta que a normalização do Estado de Israel, assim como o alinhamento, por acção ou omissão, com a sua política de apartheid e segregação constituem, objectivamente, um acto de cumplicidade com os crimes de Israel.
8 de Julho de 2023
A Direcção Nacional do MPPM
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