MPPM condena destruição anunciada da aldeia palestina de Khan Al-Ahmar
O MPPM condena a anunciada intenção de Israel de expulsar a comunidade palestina beduína de Khan al-Ahmar e demolir as suas estruturas, transferindo compulsivamente os seus habitantes.
A acção israelita configura uma flagrante e grosseira violação do direito internacional, nomeadamente da IV Convenção de Genebra, que proíbe a transferência forçada da população civil de um território ocupado.
A destruição de Khan al-Ahmar faz parte de um quadro mais vasto. Por um lado, trata-se de uma das comunidades palestinas que Israel quer expulsar do chamado Corredor E1, o qual permitiria estabelecer uma continuidade territorial entre Jerusalém e Ma’ale Adumim, o maior dos colonatos israelitas ilegais na Cisjordânia ocupada, com 40.000 habitantes.
Insere-se também no alargamento da colonização israelita, anexando a Jerusalém os colonatos adjacentes de Ma'ale Adumim, Givat Zeev, Beitar Illit e Gush Etzion, o que de um dia para o outro consolidaria a «judaização» da cidade e isolaria Jerusalém Oriental do restante território palestino.
Agindo deste modo, Israel cortaria a contiguidade territorial da Cisjordânia, separando de facto o Norte e o Sul, e impossibilitaria que Jerusalém Oriental se viesse a tornar a capital de um futuro Estado palestino, pondo assim directamente em causa a solução dos dois Estados que é conforme com as resoluções da ONU e era consensual na comunidade internacional até às recentes inflexões de política da administração Trump.
O Presidente e o primeiro-ministro da Autoridade Palestina, assim como a OLP, condenaram veementemente o crime. Um coro de repúdio faz-se ouvir por todo o mundo.
O Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Médio Oriente já expressou a sua preocupação e condenação, e o mesmo fizeram a Alta Representante da UE para a Política Externa e vários países europeus. Diplomatas da França, Reino Unido, Itália, Suécia, Bélgica, Noruega, Finlândia, Dinamarca, Suíça, Alemanha, Espanha e Irlanda tentaram visitar a aldeia, sendo disso impedidos pelas forças da ocupação israelita.
O continuado silêncio do governo português face a esta situação é por isso tanto mais inaceitável.
Khan al-Ahmar é uma aldeia beduína palestina de cerca de 40 famílias originárias do deserto de Negev (no Sul de Israel), de onde foram expulsas pelos militares israelitas na década de 1950; após a expulsão, os membros da comunidade arrendaram terras para habitação e pastoreio na zona onde hoje se localiza o colonato israelita de Kfar Adumim. Estabeleceram-se na sua localização actual depois de também serem expulsas daí. Hoje a comunidade está espremida entre os colonatos de Ma’ale Adumim e Kfar Adumim. As condições de vida são desumanas: os habitantes carecem de infra-estruturas básicas como electricidade, água canalizada, esgotos e estradas, que Israel se nega a fornecer-lhes. Israel considera que as construções em Khan al-Ahmar e outras aldeias são ilegais, mas não concede autorizações de construção aos beduínos, a quem não resta opção que não seja construir sem autorização. Vários projectos na comunidade, incluindo a sua escola construída com pneus e terra, foram financiados pela Itália, Bélgica e União Europeia.
Israel quer deslocar os habitantes de Khan al-Ahmar para a aldeia de Al Jabel, situada junto da lixeira de Abu Dis.
A expulsão está iminente, apesar de temporariamente suspensa por uma providência cautelar do Supremo Tribunal de Israel. Com efeito, a Administração Civil (órgão do Ministério da Defesa israelita encarregado da administração dos territórios palestinos ocupados) já afixou avisos alertando os habitantes da aldeia para a sua expulsão próxima e já se iniciou a construção de uma estrada que permitirá o acesso ao local — entretanto declarado zona militar fechada — de máquinas destinadas à demolição.
O MPPM sublinha a importância do que está em jogo em Khan al-Ahmar. Israel procura tornar a vida dos palestinos um inferno, confiscar-lhes as terras, forçá-los a partir, «acabar o que não foi terminado em 1948», avançar para a anexação de toda ou da maior parte da Cisjordânia ocupada, liquidar definitivamente a possibilidade de um Estado palestino.
O MPPM considera que destruição de Khan al-Ahmar e a expulsão dos seus moradores são a prova viva de que não cessou a limpeza étnica do povo palestino, esse crime indelével sobre o qual está fundado o Estado de Israel. 70 anos depois, Israel prossegue a limpeza étnica, que na Nakba (catástrofe) de 1948 se traduziu na expulsão de 750.000 palestinos e na Naksa (derrota) de 1967 na expulsão de mais de 250.000.
O MPPM reclama do governo português que proteste com o máximo vigor contra este crime de Israel, o qual põe directamente em causa o direito internacional e a solução de dois Estados que constitui o consenso internacional, e que, no seguimento da recomendação aprovada na Assembleia da República, reconheça o Estado da Palestina.
O MPPM reafirma mais uma vez a sua solidariedade indefectível com o povo palestino e a sua justa luta pela concretização dos seus inalienáveis direitos nacionais, pela edificação do Estado da Palestina livre, independente, soberano e viável nas fronteiras anteriores a 1967, tendo Jerusalém Oriental por capital, e uma solução justa para a situação dos refugiados palestinos nos termos do direito internacional e das resoluções pertinentes das Nações Unidas.
Lisboa, 8 de Julho de 2018
A Direcção Nacional do MPPM