Morte de activista palestino Nizar Banat durante detenção pelas forças de segurança da AP provoca onda de protestos
O destacado activista político palestino Nizar Banat morreu na madrugada da passada quinta-feira na sequência da sua detenção pelas forças da Autoridade Palestina (AP) na sua residência em Dura, no distrito de Hebron.
A morte de Banat, que tinha 45 anos, foi recebida com protestos nas ruas da Cisjordânia, bem como com críticas de organizações de direitos humanos e de facções palestinas, que apelaram a uma investigação independente.
O governador de Hebron, Jibreen al-Bakri, disse que «a saúde de Banat se deteriorou» quando uma força dos serviços de segurança o foi prender no início da quinta-feira. Acrescentou que ele foi levado para um hospital onde mais tarde foi declarado morto.
Ammar, um primo de Banat, disse que cerca 25 elementos das forças de segurança palestinas assaltaram a casa cerca das 3:30 da manhã, invadiram o quarto em que Nizar estava a dormir e pulverizaram-no com spray de pimenta na boca e nariz. Depois, agrediram-no severamente com bastões de ferro e madeira, tiraram-lhe a roupa, e levaram-no num veículo militar.
Nizar Banat, um antigo membro da Fatah, era candidato, pela lista Liberdade e Dignidade, às eleições legislativas marcadas para 22 de Maio passado, mas que foram suspensas em Abril pelo presidente da AP, Mohammad Abbas, invocando as restrições, por Israel, ao voto dos palestinos de Jerusalém Oriental.
Em resposta à decisão de Abbas de cancelar as eleições, Banat e a sua lista publicaram uma declaração pedindo aos tribunais da UE, incluindo o Tribunal dos Direitos Humanos em Estrasburgo, que ordenassem a cessação imediata da ajuda financeira à Autoridade Palestina.
O Primeiro-Ministro Mohammad Shtayyeh ordenou a formação imediata de «uma comissão de investigação imparcial para investigar a morte de Nizar Banat após a sua prisão pelas forças de segurança». A comissão será presidida pelo Ministro da Justiça, Mohammad Shalaldeh, com a participação de um funcionário dos direitos humanos, um médico nomeado pela família Banat e um oficial de segurança.
Uma manifestação de protesto em Ramala foi dispersada pelas forças de segurança da AP com bastões de madeira e ferro e lançamento de granadas de gás lacrimogéneo. Também na Cidade Velha de Jerusalém houve uma manifestação de protesto pela morte de Banat.
O funeral de Nizar Banat, em Heborn, foi acompanhado por muitos milhares de palestinos que protestaram contra a Autoridade Palestina.
A Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) responsabilizou a AP pela morte do Banat: «A detenção e depois o assassinato de Nizar levanta novamente questões sobre a natureza do papel e função da AP e dos seus serviços de segurança, e a sua violação dos direitos democráticos dos cidadãos através da política de silêncio, perseguição, detenção e assassinato.»
Sami Abu Zuhri, membro do gabinete político do movimento Hamas, disse: «Consideramos que o Primeiro-Ministro Mohammad Shtayyeh é o principal responsável pelo assassinato do activista e candidato parlamentar Nizar Banat, e apelamos a que os assassinos sejam processados.»
Ayed Yaghi, um representante do movimento Iniciativa Nacional Palestina (PNI), na Faixa de Gaza, condenou a prisão de Banat e a sua subsequente morte e apelou à formação de uma comissão de investigação independente composta por pessoas conhecidas pela sua independência e integridade, a fim de conduzir uma investigação abrangente sobre o que aconteceu e assegurar que os responsáveis pela morte de Banat sejam punidos.
A Comissão Independente Palestina para os Direitos Humanos afirmou que considerava a morte do activista como um acontecimento muito grave. Indicou que tinha começado a investigar e recolher informações sobre a morte e que participaria na autópsia através de um médico legista indicado pela comissão, acrescentando que os resultados da investigação seriam anunciados imediatamente.
A Rede de ONG Palestinas advertiu contra a continuação da repressão da AP contra a oposição, dizendo que «ela tinha o potencial de se transformar num Estado policial governado por um sistema de repressão e em desrespeito pela vida das pessoas e pela sua dignidade na realidade da ocupação». Apelou também à formação de uma investigação imparcial imediata e a Abbas para pôr fim a todas as violações dos direitos civis, das liberdades públicas e da dignidade dos cidadãos.
O Monitor Euro-Mediterrânico dos Direitos Humanos expressou também o seu profundo choque perante as circunstâncias da morte de Banat. A organização exigiu a abertura de um inquérito sério, urgente e independente sobre o caso, uma vez que todas as circunstâncias apontavam para um «processo de liquidação» deliberado para suprimir uma voz fortemente contrária às políticas da AP.