Milhares de palestinos de Israel assinalam a Nakba em marcha para aldeia palestina destruída

Milhares de cidadãos palestinos de Israel marcaram esta quinta-feira o Dia da Nakba numa marcha para a aldeia palestina destruída de Khubbayza, no Norte de Israel.

Segundo informa o jornal israelita Haaretz, trata-se da 22.ª vez que em Israel se realiza uma «marcha de retorno». Embora a data oficial do Dia da Nakba seja 15 de Maio, a marcha realiza-se anualmente no Dia da Independência de Israel (a independência de Israel foi proclamada a 14 de Maio de 1948, segundo o calendário gregoriano; porém, em Israel as comemorações ocorrem no dia 5 de Iyar do calendário judaico, que é de base lunissolar, sendo por isso uma data móvel). A marcha tem lugar de cada vez numa aldeia palestina diferente demolida em 1948.

Na marcha participaram também judeus anti-sionistas.

«Nakba» («catástrofe» em árabe) é a palavra que os palestinos usam para descrever a limpeza étnica da população palestina autóctone nos meses que antecederam e se seguiram à fundação de Israel, em 1948. Mais de 750 000 palestinos foram expulsos das suas terras na parte da Palestina histórica que veio a ser integrada em Israel.

Um dos organizadores da marcha, Muhammad Kial, declarou na ocasião que um dos desafios que o povo palestino enfrenta são as tentativas de minar a questão nacional palestina, incluindo o direito de retorno.

A marcha é organizada pela Associação para a Defesa dos Direitos das Pessoas Deslocadas Internamente em Israel e apoiada pelo Alto Comité de Acompanhamento dos Cidadãos Árabes de Israel, organismo que representa os palestinos cidadãos de Israel.

Segundo a associação israelita Zochrot, que se dedica ao estudo e divulgação da realidade da Nakba, a aldeia de Khubbayza foi invadida pela Haganah, precursora das forças armadas de Israel, entre 12 e 14 de Maio de 1948, ou seja, antes da declaração de independência de Israel e da intervenção dos exércitos árabes habitualmente invocada para justificar a limpeza étnica. A aldeia, localizada naquilo que hoje é a área de Wadi Ara, no Norte de Israel, foi depois arrasada pelo Fundo Nacional Judaico em Junho de 1948. Hoje Khubbayza permanece despovoada, cercada por terras cultivadas e pastagens.

Os palestinos cidadãos de Israel afirmam-se como parte da nação palestina, retalhada e reprimida por Israel, mas continuando a reivindicar a sua identidade e o seu direito ao retorno, como evidencia a Grande Marcha do Retorno na Faixa de Gaza.

Actualmente há cerca de 1 890 000 palestinos que são cidadãos de Israel, constituindo 21% da população. Recusam cada vez mais a designação «árabes de Israel», que o Estado sionista lhes deu historicamente. Como declarou numa entrevista o deputado Ahmad Tibi: «O termo árabe-israelita está errado, não é preciso. Somos palestinos de nacionalidade e somos cidadãos israelitas.»

A discriminação a que sempre foram sujeitos foi constitucionalmente consagrada em 2018 na chamada «Lei do Estado-Nação do povo judaico», segundo a qual em Israel só gozam de direitos plenos os judeus, sendo os restantes cidadãos remetidos para um estatuto de segunda classe.

Os palestinos de Israel são os descendentes dos 20% de palestinos que permaneceram no território ocupado pelo Estado judaico, tendo os outros 80% sido expulsos. Os palestinos que foram expulsos das suas casas durante o período de conflito armado mas permaneceram naquilo que veio a ser território israelita foram classificados como «ausentes presentes», sendo-lhes recusada autorização para retornarem às suas casas e terras, que foram expropriadas e transformadas em propriedade estatal. Cerca de um quarto dos palestinos cidadãos de Israel são «ausentes presentes» ou deslocados internos.

Até 1966 os palestinos de Israel viveram sujeitos à lei marcial. O aparelho militar com que o Estado sionista passou a administrar os territórios palestinos da Cisjordânia, Jerusalém Oriental e Gaza, ocupados em 1967, estava assim já pronto e experimentado por quase duas décadas de administração e repressão dos palestinos de Israel.

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