Milhares de empregados da UNRWA em Gaza protestam contra corte de financiamento pelos EUA

Escolas, clínicas e centros de distribuição de alimentos na Faixa de Gaza cercada estiveram hoje fechados devido a uma greve dos 13.000 empregados da UNRWA, a agência das Nações Unidas de assistência aos refugiados palestinos no Próximo Oriente.
Os empregados palestinos estão indignados com a decisão dos EUA de reduzir a sua contribuição anual para o funcionamento da UNRWA, que tem 278 escolas em Gaza, frequentadas por cerca de 300.000 alunos.
Os serviços da UNRWA abrangem o ensino primário e profissional, cuidados de saúde primários, serviços sociais, infra-estruturas e melhoria dos campos, microfinanças e ajuda de emergência, incluindo em situações de conflito armado. A assistência da UNRWA é fundamental para a sobrevivência de cerca de 1,5 milhões de refugiados palestinos (de um total de 5 milhões) que vivem em 58 campos de refugiados nos territórios palestinos ocupados da Faixa de Gaza e Margem Ocidental (incluindo Jerusalém Oriental), e ainda no Líbano, Jordânia e Síria.
A UNRWA é financiada principalmente por contribuições voluntárias dos Estados membros da ONU, sendo os Estados Unidos o maior doador. Washington anunciou em 16 de Janeiro que iria reter 65 milhões de dólares — mais de metade da sua contribuição planeada para este ano — e exigiu que a agência efectuasse reformas não especificados.
Os trabalhadores hoje em greve afirmam que o corte no financiamento dos EUA agravará as dificuldades na Faixa de Gaza, e desfilaram até a sede da ONU na Cidade de Gaza com bandeiras palestinas e cartazes com as palavras «A dignidade não tem preço».
Mais da metade dos dois milhões de habitantes da Faixa de Gaza dependem do apoio da UNRWA e de outras agências humanitárias. No pequeno enclave, submetido a um desumano bloqueio e a sucessivos ataques militares de Israel desde há mais de dez anos, o desemprego é de 46%.
A greve teve lugar num ambiente caracterizado pela ira dos palestinos com a decisão do presidente dos EUA, Donald Trump, que em 6 de Dezembro reconheceu Jerusalém como capital de Israel.
A decisão estado-unidense de reduzir drasticamente o financiamento à UNRWA é uma forma de pressão sobre os palestinos para os fazer regressar à mesa das «negociações» do chamado «processo de paz», que desde há um quarto de século encobre a continuação da ocupação e a intensificação da colonização por Israel.
Além disso, e mais fundamentalmente, visa servir as pretensões de Israel de liquidar a UNRWA e assim «fazer desaparecer» a questão dos refugiados, recordação viva da limpeza étnica de 1948 e 1967.
A UNRWA foi criada pela Assembleia Geral da ONU em 1949, depois de cerca de 750.000 palestinos terem sido expulsos pelas forças sionistas, numa vaga de limpeza étnica (a Nakba) que precedeu e se seguiu à criação do Estado de Israel, em 1948.
 
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