Mais de 200 palestinos feridos em ataques do exército e colonos em Jerusalém

Forças israelitas atacaram fiéis palestinos na Mesquita de al-Aqsa e noutros locais da Jerusalém Oriental ocupada, deixando 205 pessoas feridas, 88 das quais hospitalizadas, de acordo com o Crescente Vermelho palestino.

No final de sexta-feira, as forças israelitas utilizaram gás lacrimogéneo, granadas atordoantes e balas de aço revestidas de borracha para dispersar milhares de fiéis que se tinham reunido na Mesquita de al-Aqsa, na última sexta-feira do Ramadão.

Laylat al-Qadr é, para os muçulmanos, a noite mais santa do Ramadão e normalmente atrai grandes multidões de fiéis à mesquita al-Aqsa, enchendo completamente os seus pátios.

A violência na sexta-feira à noite, que se prolongou pelo sábado de manhã, culminou uma semana de tensões crescentes na cidade devido ao despejo iminente de seis famílias palestinas das suas casas, no bairro de Sheikh Jarrah.

Soldados e colonos atacam palestinos em Sheikh Jarrah

Palestinos foram violentamente atacados, na noite de quinta-feira, por forças de ocupação israelitas e colonos enquanto protestavam pacificamente contra despejos em massa no bairro de Sheikh Jarrah, na Jerusalém Oriental ocupada.

Pela terceira noite consecutiva, soldados israelitas forçaram a sua entrada no bairro enquanto palestinos e activistas se instalavam para se solidarizar com os 40 palestinos, incluindo dez crianças, que enfrentam o risco iminente de serem expulsos das suas casas para darem lugar a colonos ilegais.

Segundo os residentes locais, soldados a cavalo tentaram dispersar violentamente os manifestantes palestinos disparando gás lacrimogéneo, granadas de atordoamento e canhões de água.

Também isolaram o bairro para impedir o acesso de residentes de outras áreas em Jerusalém e detiveram pelo menos seis palestinos, incluindo o Secretário-Geral da Fatah Shadi Mtour.

As famílias palestinas que enfrentavam despejo forçado das suas casas no bairro Sheikh Jarrah de Jerusalém Oriental ocupado rejeitaram anteontem a proposta do Supremo Tribunal israelita de chegar a um acordo com os colonos judeus relativamente à propriedade das suas casas.

No domingo passado, o Supremo Tribunal deu às famílias até quinta-feira para chegarem a um acordo com os colonos judeus israelitas, exigindo-lhes que pagassem aos colonos israelitas o aluguer das suas casas até os actuais proprietários falecerem e depois as propriedades seriam atribuídas aos colonos e não aos seus herdeiros.

No entanto, a decisão foi adiada até segunda-feira, que é o Dia de Jerusalém, em Israel, para celebrar a ocupação de Jerusalém Oriental após a guerra de 1967.
Actualmente, existem 38 famílias palestinas a viver em Sheikh Jarrah, quatro das quais enfrentam despejo iminente, enquanto três deverão ser removidas a 1 de Agosto.

Condenação generalizada

Vários dirigentes palestinos sublinharam a necessidade de uma acção urgente para evitar a escalada dos acontecimentos e a sociedade civil palestina apelou a um dia de raiva no sábado, em resposta à repressão sem precedentes num dos locais mais sagrados do Islão durante o Ramadão.

O Embaixador da Palestina no Egipto e Representante Permanente na Liga Árabe, Diab al-Louh, disse hoje que, por ordem do Presidente Mahmoud Abbas, o Estado da Palestina solicitou uma reunião urgente da Liga Árabe a nível de representantes permanentes para discutir a mais recente violência israelita em Jerusalém.

Os ataques atraíram forte condenação tanto da Turquia como do Qatar, que exigiu o fim da «atitude provocadora e agressiva» de Israel e apelou a um fim rápido da agressão contra os palestinos.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Jordânia apelou às forças israelitas para que abandonassem imediatamente o complexo. O Ministério dos Negócios Estrangeiros do Egipto expressou igualmente «profunda condenação e denúncia». O Kuwait e a Arábia Saudita também emitiram declarações de condenação, tal como a Organização de Cooperação Islâmica.

A Rússia condenou sábado os ataques da polícia israelita contra os palestinos no complexo da mesquita al-Aqsa em Jerusalém e instou ambas as partes a absterem-se de escalar a violência.

O Departamento de Estado norte-americano disse estar profundamente preocupado com o potencial despejo de famílias palestinas nos bairros Sheikh Jarrah e Silwan de Jerusalém, muitas das quais vivem nas suas casas há gerações.

A União Europeia apelou à desescalada da situação em Jerusalém Oriental, em particular na Mesquita Al-Aqsa, e ao respeito pelo status quo no local sagrado muçulmano.

Observadores internacionais exortaram à calma. O Coordenador Especial da ONU para o Processo de Paz no Médio Oriente, Tor Vennesland, manifestou no Tweet a sua preocupação e instou todas as partes a «respeitar o status quo dos locais sagrados na Cidade Velha de Jerusalém, no interesse da paz e da estabilidade.».

Semana de violência

No início da sexta-feira, soldados israelitas mataram dois palestinos e feriram um terceiro num posto de controlo perto da cidade de Jenin, na Cisjordânia.
Na quarta-feira, as tropas israelitas mataram Saeed Yousef Mohammad Odah, um palestino de 16 anos, perto da aldeia de Odla, no norte da Cisjordânia ocupada.

Jerusalém está instável há semanas devido às restrições impostas por Israel ao acesso de palestinos a partes da Cidade Velha durante o mês sagrado muçulmano do Ramadão, e as autoridades israelitas notificaram várias famílias palestinas para abandonar as suas casas no bairro Sheikh Jarrah para dar lugar a colonos israelitas.

As Nações Unidas advertiram que as expulsões forçadas poderiam equivaler a «crimes de guerra».

Os protestos em Sheikh Jarrah e por toda a Jerusalém devem continuar enquanto os palestinos tentam proteger a sua comunidade de Jerusalém Oriental.
No início desta semana, o Supremo Tribunal de Israel adiou a sua decisão sobre a expropriação de várias famílias palestinas do bairro de Jerusalém Oriental ocupada. O tribunal disse que iria realizar outra audiência no caso na segunda-feira, 10 de Maio.


Foto: Forças de segurança israelitas avançam sobre fiéis na mesquita al-Aqsa (Ahmad Gharabli / AFP)

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